sábado, 16 de outubro de 2010

Escuridão

Havia tanta luz que mal cabia naquele lugar a minha própria escuridão. Fui reduzida a uma partícula infinitamente inútil, importante apenas para lembrar a mim mesma que aquela luz toda era diferente de mim. Eu era diferente. Sempre fui, sempre serei. Nunca houve escuridão como a minha, pois todos queriam ser luz. Então eu te encontrei, e fiz de você meu parceiro na escuridão. Acontece que você me trocou pela luz. Todos fizeram isso, e eu não sentia-me mais única; sentia-me excluída, pobre, deficiente. Em mim a deficiência, a falta de luz se fazia grande, se fazia forte.

Hoje ainda não sou luz, sou sua ausência. Não mais espero tornar-me parte de algo tão grande, tão comum, tão acolhido. Hoje, apenas espero ser notada por não possuir a grandeza da luminosidade em mim. Eu sou escuridão, assim sempre fui, assim sempre serei. Não quero mudar, não quero ser comum, não quero ser luz. A luz me cega, a escuridão me acolhe.
Eu sou escuridão.

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