segunda-feira, 4 de outubro de 2021

unspoken

I bumped into
a new word:
pareidolia. 

A psychological phenomenon
that you would like to know about.
It’s when your mind tricks you,
turning something random
into familiar or meaningful. 

I have seen it in images, 
paintings meant to baffle your eyes,
but I never thought 
I’d feel the effects of
apophenia* in my heart.

Happens once in a while: 
when seeing your hands
and I picture them holding mine.
You say “come over”
but I hear it otherwise.

Happens when you say
honest, nice things about me,
but as I can’t acknowledge them,
I turn your compliment 
into a joke, laughing it off.

It is not new to me
*this habit of building patterns,
making stuff up to myself.
I wish I wouldn’t do that about you, though;
I wish the signs were actually there.

Maybe one day
you’ll say you like me
and I won’t turn that into a secret message
filled with unspoken words
that must be cracked.

Maybe one day
you’ll say that you like me
and I’ll take your words with care,
place them in the right spot
and melt to the warmth they exhale. 

quinta-feira, 12 de agosto de 2021

fall in love with you

 Falling in love with you 

would kill me. 

Kill me in such a soft, harmless way 

it would be hard for me to acknowledge 

my own death. 


Falling in love with you 

would ruin me. 

And my defeat would be lovely, 

matching my fearless eyes, 

grateful for the opportunity. 


Falling in love with you

would tear me down. 

And shit, it took me so long 

to grow back since the last time...

I'm still trying to figure it out.


Falling in love with you

is a mistake.

You'd say "no", I'd say "bye",

I would lose you, you would hurt me, 

and it would burn that bridge. 


If I can state all that,

if I know the truth,

if my eyes get to see 

the end of the road,

why do I have to love you? 

segunda-feira, 5 de julho de 2021

caos

 Por dentro sou um buraco negro;
cheio e vazio ao mesmo tempo.

Falsa, minto sentimentos confortáveis
que me deem as desculpas necessárias.

Me escondo nas sombras do meu peito
entre dor crônica e um coração partido ao meio.

Das vergonhas que carrego, todas autorais,
me perco e engano sobre as origens.

Impossível decifrar meus próprios olhos,
mordidos de tempo, um relógio enferrujado...

...dando a hora errada para acalmar o peito,
fingindo encontrar saída desse labirinto.

Me colocam de frente para o espelho
e gritam que me reconheça.

A verdade simples é que não quero,
sabendo que meu passado é tão feio.

Seria eu tão vilã quanto acusam 
as vozes na minha cabeça?

Dizem que sou maquiavélica,
enterrada em má vontade,

negando meu sangue, sem dividir meus méritos,
defendendo apenas a metade que me cabe.

Não sei de quem tanto falam,
mas noto que a odeiam.

Não tem qualidades e por esse defeito
não merece qualquer afago.

Posso ser eu, mesmo que não reconheça esse rosto
que chora lágrimas pesadas de esforço.

assimetria

você gosta da métrica,
se satisfaz com pares, rimas,
com regras e sentidos,
alegremente refém voluntário
de dogmas linguísticos
que nada combinam
com suas emoções espontâneas.

na contramão
te ofereço palavras cortadas
— daquelas que você repudia —,
talvez como crítica,
talvez com comicidade.
qualquer que seja
sua resposta, sorrio.

*

não ouso afirmar,
mas existem evidências
indicando que talvez
minha companhia seja bem-vinda
e talvez, apenas talvez,
eu não precise fugir;
talvez possa ficar.

paciente, observo atenta
palavras de luxúria
escorregando da sua língua
até meus ouvidos
e, claro, arrepio. 
seu murmúrio faz tremer
cada átomo de mim.

minha pele me delata
e, completamente exposta,
não tenho defesa concreta.
seus olhos inocentes
não enganam minhas entranhas;
me desfaço como lava
em suas mãos.

mas não importa
quão confortável eu esteja,
quão aconchegante você seja,
quão segura me sinta
quanta dedicação me devote,
você é um porto;
eu, rota de fuga.

incompatíveis de tantas formas
que me surpreendem
os risos compartilhados,
as confidências acobertadas,
pequenas similaridades
e algumas coincidências.
seria possível? (não.)

o que não surpreende
é o encaixe perfeito,
milimetricamente preciso
dos nossos corpos quentes.
feito sob medida
para me fazer esquecer
cada sobrenome que tenho.

e quando me beija
com força e desejo,
a língua úmida 
passeando na minha,
me lembro que 
nada importa 
além de nós.

nesses momentos
não há passado, futuro,
diferença, lembrança ou esquecimento.
não há proximidade suficiente
que cesse o desejo.
meu corpo clama
e você, nobre, atende.

faço bom uso,
guardando detalhes,
agradecendo silenciosa
a oportunidade de sentir
seu calor matutino
despertando minhas friezas,
sempre surpresa.

espero ter tempo para
te entender (melhor),
te sentir (por completo),
te enxergar (por dentro)
e me despedir (pacífica);
para partir em paz,
sem querer voltar.

que, assimétricas,
nossas diferenças
nos completem
e fortaleçam aquilo
que já sinto
por você
há tanto tempo.

segunda-feira, 14 de junho de 2021

aguardado

 Se dobra sobre mim com a delicadeza das folhas de uma palmeira soprada pelo vento; todos os movimentos suaves e majestosos, lentos e contínuos, os quais observo com olhar atento. Tudo em você me chama atenção, e me pego vidrada nas mínimas ações, presa em cada segundo da sua companhia. Seus braços longos e fortes ao redor do meu corpo que treme sob o seu toque. Sua boca tem sabor de saudade, um veneno para uma mulher que não quer ser refém.

Você se deita enquanto faço todas as escolhas, permite porque sabe que eu gosto. Meu corpo dança, escorregando sobre o seu calor. Seu beijo me hipnotiza e nossos movimentos se tornam cor, formas cilíndricas em um branco envernizado, movimentos lentos que só eu consigo ver. Enquanto sinto o sabor da sua pele na minha língua, seus dedos passeiam e as palmas das suas mãos cantam canções inteiras no meu corpo; um instrumento que você dominou. Não finjo surpresa, não disfarço a vontade, e não impeço a garganta de sonorizar aquilo que nunca escondi: eu quero você.

Quando me deito, o corpo ainda trêmulo, rindo para tentar mascarar mesmo que minimamente o quanto estou maravilhada, você se aproxima; você, com seus dedos macios, a pele alva, o sorriso que nunca apaga. Pergunto do que você tanto ri. E a resposta é sempre a mesma, saindo pelos cantos, fugindo discretamente sem me fazer sentir constrangida. Seus olhos negam qualquer comicidade, ferozes sobre mim e meu corpo estendido, descoberto, vulnerável às suas vontades. Quando você e suas mãos se movem, mal respiro. 

O toque começa tão leve quanto seu hálito, se aproximando sem anúncio nem alarde, um velho conhecido que chega sem avisar nem causar estranhamento. Quando seus dedos encontram meus pelos, um choque percorre cada milímetro da minha pele e eu o sinto — o tremor que balançaria um continente. Meus olhos mal se mantém abertos e minha boca não se fecha, murmurando juras que se comunicam apenas com você. A cada pulso que meu corpo emite, você mal se move, reconhecendo movimentos — atento aos sons, aos tremores suaves e aos intensos, aos caminhos que percorrem as minhas mãos, até às leves mudanças das minhas pernas — como quem desvenda um mistério. Não digo nada, mas não há necessidade. Meu corpo me delata.

A vergonha dá lugar à vontade e verbalizo: me beija. Com mais palavras, com mais detalhes, com mais por quês; e você acata, se aproxima e me permite, sendo gentil enquanto me domina. Há uma coreografia em par, e minha insegurança, implacável, só me permite sentir por completo quando sua voz vem lá do fundo, acariciando meu ego, compartilhando suas delícias e me fazendo sentir paz. Abre-se uma nova porta e eu não a quero fechada. 

Você não diz muito; ou não dizia. No começo mal se manifestava, embora seu corpo falasse por si só, e me vi refém dos meus próprios movimentos — e o que quer que eles causassem. Agora, murmura carícias e absurdos no meu ouvido, rosnando delícias, deixando marcas de dentes e mãos que me fazem acordar com vestígios do seu carinho. Seus olhos parecem querer confiar em mim, e sinto na sua língua um desejo de chegar mais longe, descobrir novas temperaturas, me fazer mostrar o que há além das promessas. Há uma longa trilha até chegar a esse oásis, mas você se mostra determinado, pronto para atravessar o deserto. Rio ao pensar em quantas vezes imaginei essas cenas sem jamais chegar perto de retratá-las com fidelidade; jamais imaginaria quem você é. 

Como de costume me mantenho distante, despedindo-me sempre como se fosse meu último adeus, e não me arrependo. Mas verdade seja dita, ainda não quero dizer adeus. Não chegamos ao oásis, não encontrei sua paz, nem você o meu segredo. Talvez isso não aconteça — eu nunca vou tão longe nessa estrada —, mas quero encontrar ao menos um próximo ponto, uma próxima carícia e um novo poema. Quando estiver saciada das suas canções, me despeço, prometo. Mas ainda quero ouvir como você toca.