quarta-feira, 18 de maio de 2011

Uma noite

Foi a melhor noite da minha vida.

Ou não. É, não posso dizer isso com certeza, mas posso dizer (sem). Não posso garantir que não houveram ou ainda haverão noites incomparavelmente melhores, mas por hora, esta noite mantém o título.

Éramos muitos. Digo uma dúzia, ou mais. Ninguém desconhecido, ninguém apenas conhecido - éramos amigos, reunidos para uma noite de risadas e diversão. Mas ninguém esperava que acabássemos (ou ainda, começássemos) num sítio, sentados no porta-mala aberto de um Corsa prateado que fedia a cigarro; ou ainda, segurando a garrafa de outra pessoa. Mas foi assim. Com o limão em uma mão e o copo em outra, descobrimos sabores provavelmente não experimentados ainda. Caminhamos de volta à civilização já com baixas: duas ou três almas ocupavam corpos com pernas bambas e sorrisos imbecis pregados em suas faces. Uns riam da infelicidade, outros ficavam sérios, sabendo que seriam eles os "tratadores" daqueles que já não podiam mais andar por si sós. Não que alguém fosse reclamar. Dividiríamos a tarefa.

Mas a (primeira) guinada da noite aconteceu logo na sequência, com uma garrafa colorida e outra, ainda, mais escura. Muitos copos para poucos lábios, e telefones foram sacados. Voltem aqui, Estamos no aguarde, Tragam de volta. Os que estavam já há muito na frente voltaram ao ponto de partida - ou quase. Com alguns minutos de diferença, os grupos dispersos voltaram, e ali recomeçamos a noite. Risadas vão diálogos vêm, aconteceu o primeiro desastre: um estômago despreparado recusou mais um copo verde e doce. Uns correram para ajudar, outros para ver e rir. Duas almas ajudaram a levar a terceira para casa, onde lá teria permanecido se mais um copo tivesse decido goela abaixo. Mas não desceu. Minutos se passaram, e com o incidente já esquecido, migraram de volta ao lugar os outros haviam quase chegado pouco antes. Agora estávamos separados; uma dupla para trás, um trio perdido dois quartetos à frente. Separados, mas sempre juntos. Nisso ainda era o primeiro dia. Passou-se o tempo, outros se juntaram ao agora novamente reunido grupo. De uma dúzia, pulou para duas, sossegado. Ninguém queria ir, ninguém queria desertar e perder o que ainda estava se preparando para vir.

Rixas antigas e bizarras foram discutidas e finalizadas (ou quase) naquela noite. Sonhos foram realizados; desejos, atendidos. Quem queria, podia ter. Não havia "não". É, não havia um gênio da lâmpada, mas nós todos nos sentíamos mais fortes, e mais poderosos, como se não houvessem limites. Então, naquela noite, todos fomos atrás do que queríamos. Alguns não conseguiram (pobre rapaz...) mas uns outros poucos sortudos acabaram saindo do grupo não como desertores, mas como pessoas ocupadas em alimentar a própria felicidade.

O arrependimento não estava nos pensamento de ninguém.

Os abraços não eram quentes, mas reconfortantes. Aqueles poucos que voltariam sozinhos, ganhavam uma carona na caranga de outro solteiro. Foram dois, talvez três casais, nada demais. O engraçado está no fato de, depois dos acontecimentos relatados, um ouvinte disse: Mas aquelas que não beberam foram as que acabaram com companhia? Sim, exatamente isso.

Posso contar a experiência de uma garota que lá estava, os lábios roxos de frio, as pernas tremendo, a felicidade borbulhando coração adentro.

Esse piercing é feio. Surpresa. Esse? É, esse. Não gosta dele? Não. E de qual outro não gosta? Pensa. Deste. O da boca? Sim. Por quê? Respiração. Ele me atrapalha. Silêncio. Sorrisos.

De mãos dadas, começaram a caminhar. Os dedos, gélidos, se entrelaçavam de uma maneira mais desengonçada que um pássaro bicudo andando em quatro patas, mas aqueles estavam felizes. A primeira frase que ela soltou foi: Isso está meio gay. Ele riu, ingenuidade genuína para com a garota. Talvez, respondeu.

Ei, me dá um chiclete.
Pausa.
Só tenho este. Masca.
Masca.
Masca.
É esse mesmo que eu quero.
Pausa.
Sorrisos.
Braços.
Lábios.

E a noite terminou bem para os amantes; melhor ainda para aqueles que não precisaram dizer adeus. Aqueles que mal se aguentavam em suas pernas sorriam como se não houvesse motivo para qualquer infelicidade, como se aquela noite fosse durar para toda a eternidade.
E durou. Em nossas lembranças. Aquela noite ainda está viva em cada uma das almas daquela primeira meia dúzia. Aquela que começou no sítio, para terminar em abraços.

Essa é a história. A verdadeira. Qualquer outra coisa, é invenção.
Foi assim que aconteceu.