domingo, 22 de dezembro de 2013

Se eu tô bem?

Tô mal.
Tô com um aperto no peito, alguma coisa tá fora do lugar.
Tô com a sensação de que perdi a briga, de que talvez eu tenha tomado a decisão errada, mesmo depois de pensar tanto sobre isso, pensar só nisso.
Tô com a impressão de que pisei num degrau que não existe; aquele segundo em que você simplesmente não tem controle sobre o que aconteceu, porque só aconteceu, você nem viu. Tô com aquela mágoa entalada na garganta, aquele medo de alguma coisa que não dá pra saber o que é.
Tô perdida.
Tô abandonada.
Tô largada.
Ouvindo as mesmas músicas, porque elas ainda não carregam lembrança alguma.

O meu problema é você.

Lembra aquele dia que você disse que sentiu minha falta? A gente não se via havia tanto tempo... sentir seu corpo perto do meu foi um choque, um baque.
Lembra aquela conversa? Você disse que não ia me deixar. E deixou. Foi. E foi embora pra longe.
Lembra aquele último beijo? Pois é, eu lembro. Era madrugada. Você já tinha me dito tudo que queria, feito de mim o que quis, usando e abusando, mas sempre tão carinhoso que minha mente entrou em curto. Você me beijou, e de repente, já estávamos separados outra vez.
Lembra daquele abraço? Tão casto, tão puro, porque a gente não era mais "a gente", eu era eu e você era você, cada um no seu canto, cada um no seu lugar. E todas aquelas garotas te rodeando... e eu, assistindo... não sabia que era capaz de suportar aquela babaquice.
Lembra do tchau?
Eu lembro.
Nunca vou esquecer.

Talvez seja essa despedida inacabada que me pesa o peito.
A gente nunca disse adeus.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Não pude apagar

Não apaguei nossas fotos. As apaguei do público, mas não do privado. Estão salvas aqui em algum lugar, perdidas entre tantas outras memórias de tantos outros lugares. Eu sinto que você tinha vergonha de mim, sabe? Que você não queria que as pessoas soubessem sobre nós. Primeiro, pensei que fosse um cuidado seu, mas depois percebi que talvez você não quisesse se prejudicar. Ter uma namorada te afastava de outras biscatezinhas, não é? Te prendia. E você não queria se prender. Nem a mim.
Eu cuidei de você com todo o meu amor. Cuidei da sua saúde, do seu corpo, do seu espírito e da sua mente. Da sua imagem, do seu ego, dos seus problemas. Da sua família, das suas dores e das suas bebedeiras. Eu cuidei de você, e queria que você cuidasse de mim, mas você não foi capaz. Sabe por quê? Porque você nunca sequer gostou de mim. Não me amou, eu sabia; mas não fui capaz de te conquistar? Você não se apaixonou por mim? Não houve sequer uma gota de paixão? Que vergonha. De mim, é claro, por não conseguir te prender a mim.
Sou fraca. A carne é fraca. Eu fiquei distante, mas fraquejei quando nossos corpos tiveram contato. Fui fraca. Mas espero que ninguém me culpe por isso, afinal, eu só tenho 17 anos. Posso me apaixonar, posso sofrer, posso amar e desamar quantas vezes achar necessário.
E é só isso. Eu, fraca, e você, otário. Às vezes temos aquilo que merecemos.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Prêmio

Eu li sim o que você me escreveu. E só Deus sabe o quanto eu quis te responder. Mas você já me deu tanto desprezo, já me ignorou com tanta força, já me fez desejar não ter te conhecido tantas e tantas vezes que, olha, eu nem sei mais contar. É como uma grande coleção de sentimentos que eu tenho; e os piores eu guardei para você. Não finja que não sabe o que aconteceu. Não finja que não foi nada demais. Não finja que tudo pode voltar ao normal. Não se engane e não me engane. Não mais.
Agora o que eu sinto é realmente só desprezo; talvez um pouco de rancor. Por que estragar tudo desse jeito?! E não me diga que não foi nada porque você me conhece! Sabe que eu sofro, sabe que eu sou dramática, que comigo é tudo maior, melhor e pior, é tudo com um zoom, uma expansão. Comigo é tudo muito "mais" que com os outros. Você me conhecia, me entendia. Eu, otária, é que não te conhecia. Não sabia que você era tão mentiroso e mau caráter. Agora, eu só quero te ver sofrer. Não, eu sei que a minha ausência não faz porra de diferença nenhuma para você. Mas você vai sofrer nas mãos de alguém, e eu espero que quando esse alguém te fizer quebrar por dentro, você saiba que estará sentindo como me fez sentir. Morta. E depois, viva como um vulcão. Mas aí nem é mais com você.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Deixa eu contar

Foi absurda a rapidez
com que sensatamente
me livrei de você.
Apaguei as memórias,
esqueci as histórias;
o seu gosto eu nem lembro mais.
Achei que sentiria por tempos
a falta que você faz.
Mas não faz mais diferença
e eu estou em paz.
Uso sua roupa e vejo suas fotos,
e é engraçado como,
ao meu próprio modo,
fui superando, e deixando,
e esquecendo de como foi.
Hoje eu nem imagino o que mudou.
Talvez se eu me esforçar
consiga lembrar
como era o ritmo da nossa dança,
o volume da nossa alegria.
Hoje, só vejo uma mistura
quase melancólica, crua
de desapego induzido.
E quando perguntei se
você queria ficar comigo,
a resposta foi indiferente.
Bem, agora é a minha vez
de te abandonar no passado
e seguir em frente.

domingo, 21 de julho de 2013

vício

E eu estava lá, numa pequena multidão, e adivinha quem estava faltando? Pois é. Senti falta do toque da sua mão na minha, dos seus beijos repentinos, da sua necessidade de não me dividir. Senti falta do seu cheiro, de brigar com você por bobagem, de nem olhar pros lados pra não te deixar enciumado. Senti falta da sua voz, e do jeito como você nunca fala o meu nome; já reparou? Senti falta de como você pedia pra ir embora, mas ficava por... por mim. Senti falta até de saber que tinha você me segurando, mesmo longe. Senti falta da sensação de dever satisfações, de ter alguém me esperando lá longe, de não poder beijar mais ninguém. Mas sabe qual foi a melhor parte? Eu não quis beijar mais ninguém. Eu não queria, eu não quero. E se eu tento, não consigo. Parece errado, os beijos não estão certos, as mãos estão nos lugares errados; eu te ensinei tanto sobre mim que agora não quero ensinar mais ninguém. Eles não sabem fazer como você faz. E isso me deprime.
E enquanto eu tinha você, tinha também uma sensação de segurança que eu nunca tinha experimentado, sabe? Aquele gostinho de ser de alguém... é bom. Eu gostei bastante, e sabe do que mais eu gostei? De ter você pra mim. Gostei de não dividir e de não ser dividida. É assim que funciona?  Fico imaginando se pra você era tão ruim assim. Foi por isso que você se afastou? Eu fiquei triste, fiquei sim, mas não quero que você saiba. Quero que você pense que está tudo bem; ou talvez eu não queira, não. Talvez eu queira que você saiba que eu tô um caco, triste, quase deprimida. Morta de saudade, e de arrependimento. Se eu pudesse voltar uns dias no tempo e só te dizer que estava com saudade, ao invés de começar toda essa merda de terminar algo que acabou de começar...

E só pra você saber, ainda mordo os lábios. Vivem cortados, cobertos de batom pra disfarçar, mas lembra que você sempre via? E me xingava. E depois me beijava. E eu reclamava, e você me xingava outra vez. É um vício que me machuca. Como você.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Range

Esqueci de bater a porta e agora, por um vento qualquer, ela está rangindo. Nhééééc. Esse som me irrita, arrepia e amedronta, mas sabe do que eu lembrei agora? De quando você fechou a porta com cuidado, e ela fez o mesmo barulho. Nhééééc. Então você veio e pulou na minha cama, me abraçou e me apertou, me beijou e me fez rir quando passou a barba no meu pescoço. Aí a porta rangeu de novo, nós olhamos, mas era só o vento testando a nossa adrenalina, nhééééc. Você continuou com os beijos e a barba e eu tremia; tremia de frio e das outras coisas que você me fazia sentir. O vento voltou pela porta entreaberta, agora, enquanto me lembro dessa noite em particular. Nhééééc. Tenho que me levantar e ir até lá, fechá-la de uma vez, como fiz naquela noite... só que agora você não está aqui pra me segurar pela cintura e me puxar de volta, então vou até a porta sem brigar, sem lutar, e a fecho. O silêncio irrompe e eu me vejo sozinha, mergulhada em lembranças sofríveis. Por diversão, o vento abre a porta outra vez, agora que já me deitei. Nhééééc. Você sabe que não consigo dormir de porta aberta, não sabe? Sabe, e me chamava de fresca não só por isso, mas por todas as outras coisas bobas das quais tenho medo ou implicância. Fecha pra mim, murmuro, e me lembro de que você não está aqui, hoje. E nem estará tão cedo. Estou sozinha, outra vez, ouvindo o vento assobiar pela janela e fazendo ranger a porta: nhééééc. O barulho faz meus pelos do braço eriçarem e escapa um riso abafado. Que merda. Se eu me concentrar, dá pra sentir suas mordidas. E se eu fechar os olhos, ouço até a sua voz. Para de ser fresca, puta que pariu. Você está aqui? Está, de alguma forma. Está em mim.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

não é uma despedida de verdade

Talvez essa seja minha melhor oportunidade para te dizer algumas coisas que, se eu me conheço bem, eu jamais diria cara a cara. Coisas simples, pequenas, bobas, inúteis e até irrelevantes, mas que eu sinto uma necessidade imensa de expressar. 
Adoro a cor dos seus olhos e o modo como você os deixa semi-cerrados antes do beijo. Adoro a cor do seu moletom favorito, aquele vinho que eu quero pra mim. Adoro seu cheiro de perfume e menta. Adoro quando você não fuma perto de mim, e adoro quando você para de beber antes de ficar bêbado porque tem que me levar embora. Adoro os poucos centímetros que te deixam mais alto que eu, e adoro sua cara de descaso quando fico mais alta que você. Adoro o jeito como suas mãos estão sempre quentes (até você tentar me fazer cócegas por baixo da camiseta e eu quase choro de raiva quando na verdade sua mão está gelada como um defunto). Adoro o gosto do seu beijo. Adoro quando você chega na minha casa com uma bala - e o mundo fica cheirando canela. Adoro o jeito como a gente nunca tem o que conversar até você ter que ir embora. Adoro quando estou brava e você vem, me abraça e me beija, e eu esqueço todas as frescuras do mundo. Adoro quando você oferece a blusa porque estou tremendo de frio. Adoro o seu perfume na minha roupa. Adoro quando você me conta que sua família quer me conhecer. Adoro quando te digo "fica", e você fica. Adoro quando começamos a discutir o começo de tudo e você tenta me convencer de que foi minha culpa. Adoro até suas birras.
Eu nunca fui boa em dizer para alguém, pessoalmente, o quanto gostava dela. Nunca. E acho que é algo que eu nunca saberei fazer direito. Portanto, talvez esse seja o melhor jeito de te dizer as coisas que eu mais gosto em você. Não espero nada mais que um sorriso enquanto você lê isso e, como eu prevejo agora, tem uma lembrança para cada cena. 
Então é isso. Se você realmente for embora, eu vou sentir sua falta,  e adoraria se você sentisse a minha. Quero que a gente continue conversando esse mesmo monte de bobagem. Quero saber da sua nova vida. Embora eu não faça parte dela. 

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Dez coisas que eu não consigo te dizer

Dez coisas que eu tenho que te dizer:
A primeira é que não quero te forçar
a fazer nada que faça você se arrepender.
A segunda é que eu estou preparada
pra te ter e pra te não ter,
independentemente do que acontecer.
Continuar te vendo sempre é a terceira
coisa que tenho que te falar.
A quarta é pedir pra você ir mais devagar.
A quinta coisa é outro pedido: tente não enjoar
de me ver todo dia, de falar comigo
de tarde e madrugada adentro.
A sexta é que você não é meu inimigo
e pode confiar em mim sempre.
A sétima é que não me importo contigo
só quando você está contente.
A oitava é um aviso: querido,
não me afaste quando precisar de mim.
A nona é que eu te quero, sim,
quero muito, e quero agora.
Mas a décima é um conforto:
se não for agora, não era a hora.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

#4

Fraca. De mente. De corpo. De vontade. Fraca de querer.
Preciso de ajuda. Um empurrão. Uma palavra amiga.
Estou cansada de toda a grosseria que vocês usam como um tiro de ânimo. E reclamam que a grossa sou eu. Sou um espelho, sou como a lua, sou um reflexo inanimado do que recebo. Cansada.
Fui atrás de um amor, ele me recusou.
E chegou para mim um amor que eu não quero.
Não aguento mais pedir desculpas.
Não aguento mais fingir estar bem. "Está tudo bem está tudo bem está tudo bem está tudo bem". Não me venha com louça pra lavar, eu já lavo roupa suja toda hora, não suporto mais tirar os restos da mesa, os restos do que eu não consigo jogar fora. É assim tão anormal estar triste?!
A tristeza por si só me consome, e a metade da energia que me resta eu gasto sendo uma palhaça atônita e hipócrita. Chega dessa merda.
Não fale comigo se eu estiver de cabeça baixa, e não atrapalhe o meu sono.
Não me obrigue a dizer que eu te avisei sobre o meu humor.
E principalmente, em qualquer oportunidade, me abrace. Calor humano e demonstrações de afeto se tornaram fundamentais pra mim. Qualquer sorriso é um pouco de oxigênio, um abraço é sangue correndo nas veias.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Eu preciso

Preciso de um amigo.
Alguém com quem conversar por horas sem cansar.
Alguém pra me dizer que estou feia.
Alguém pra rir comigo das piadas velhas.
Ou me dizer que a piada é velha e ruim.
Alguém pra pegar na minha mão sem ter medo.
Alguém pra dizer que não me aguenta mais.
E sem me magoar.
Alguém pra deitar comigo a tarde e dormir, assim, dormindo.
Alguém que me mande mensagem quando estiver sem sono.
E que tente me acordar pra não ficar sozinho.
Alguém com quem eu fale sobre sexo sem ter vergonha.
E que me conte detalhes que eu nunca imaginei.
Alguém que eu saiba que não quer mais nada além do que eu posso oferecer.
Quero um amigo, não uma amiga.
Porque amigas eu tenho, e levam anos pra confiar.
Agora homens, não.
É alguém mais rápido, prático, direto.
Alguém honesto, mas que não quer te irritar.
Alguém que não quer te jogar contra ninguém.
É alguém que eu preciso.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

8/5/2013

Não sei porque continuo fazendo as mesmas idiotices dia após dia. As mesmas coisas pequenas. Tirar o adaptador do secador de cabelo é motivo pra causar uma terceira Grande Guerra nessa casa, que já cai aos pedaços, num ritmo assustadoramente harmônico ao meu desespero.
Já não sinto mais ódio, ou medo, ou cansaço. Apenas uma forte crise de pânico e falta de ar.
Preciso começar a respirar melhor depois de ouvir a pessoa que eu mais amo no mundo gritar comigo, pela milionésima vez, pelo mesmo motivo. Me pergunto o que há de errado comigo. Porque não sou capaz de aprender. Coloque o adaptador de volta, ou ela te surra com o cabo. Coloque o adaptador de volta, ou ela se divorcia outra vez.
'Respire', é a única ordem que meu cérebro é capaz de dar. 'Respire'.
As lágrimas virão assim que eu deitar minha cabeça ruiva no travesseiro. É quase diário.
Assustadoramente previsível, me ponho a digitar até a ponta dos dedos doerem.
Preciso de ajuda, um pouco de pressão no meu abdômen, até conseguir respirar de novo. Meu estômago dói, minhas entranhas se fizeram num nó, meu cabelo continua bagunçado e meus olhos ardem, secos, com as lentes de contato.
Desliguei os fones de ouvido, arrumei o uniforme e repensei.  De novo. Vivo repensando e fazendo as mesmas coisas. Como meu choro, é um hábito quase diário.
Religiosamente peço à Deus que dê à ela paciência e à mim, responsabilidade. 
Os gritos dela ainda ecoam na minha cabeça vazia.
Não quero chorar. 'Você já tem 17 anos'. Continuo sendo criança. Não quero crescer, ou envelhecer, prefiro pular essa parte e chegar à velhice, talvez ao meu último dia de vida, e quando o último suspiro se formar em meus pulmões caquéticos, ter certeza de que esse oito de maio foi o dia em que deixei o adaptador no lugar errado pela última vez.
Erros e mais erros que me fazem crer na dimensão da minha estupidez. É vergonhoso e incurável.
Ela ainda vai ter que gastar muita saliva comigo. Muito ar, muitos gritos. Eu não quero que seja assim. UTI para falta de atenção, é isso que estou procurando. Alguém me ajude.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Cicatriz

Prefiro descascar minhas unhas vermelhas,
sair sábado à noite sem maquiagem,
esquecer de fazer as sobrancelhas,
cantar em frente ao público sem coragem,
subir na casa e trocar todas as telhas,
esquecer de fechar o portão da garagem;

dançar sozinha no meio de todo mundo,
esperar no frio por uma carona que não vem,
ser confundida com um mendigo vagabundo,
perder a minha única passagem de trem,
ver um amigo doente e moribundo,
ou ficar moribunda também;

tem milhares de tragédias, sejam ou não relevantes,
que prefiro ver acontecer na minha vida;
tristezas que prefiro que aconteçam antes
de deixar cicatrizar minha ferida.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Na beleza do novo

A beleza de se apaixonar por um desconhecido é a descoberta.

Já me apaixonei incontáveis vezes, e imagine só, nunca amei ninguém. A paixão é muito mais bonita e invariavelmente mais indolor que qualquer forma de amor, porque o amor exige demais, e a paixão exige apenas um pouco de tempo. Pouco tempo, é sim. Aquele tempo que você passa sem pensar em nada, é quando você pensa na sua nova paixonite. É bonito, prático, rápido, e geralmente indolor. Indolor. Acredite, essa é a melhor parte.

Não é a primeira vez que sinto falta de uma paixão. As antigas já não suprem minhas necessidades e não há um conhecido que se faça notar. Não sei se é muito piegas dizer isso, mas vou dizer de qualquer forma: "estou cansada dos homens desta cidade; quero novos amores." Piegas. Brega. Previsível, clichê; escrever isso é um absurdo literário. Mas não deixa, em momento algum, de ser uma verdade irrefutável.

Então, peço uma última (ou talvez não) vez que algo aconteça e eu finalmente te encontre. Vagando por essas ruelas maltrapilhas, vestidas com trapos de concreto, relva saltando por suas veias. Me encontra, ou deixa eu te encontrar. Não é um pedido grande o suficiente para ser ignorado, ou é? Assim, difícil, impossível, por acaso? Eu não acho que seja.
Aliás, é bastante simples:
me dá uma direção que eu sigo.
Me dá um nome que eu acho.
Me dá um cheiro que eu lembro.
Me dá um sorriso que eu não solto.

Mas quem tornaria simples uma busca necessária como essa, quando a beleza da descoberta fica ainda mais explícita quando recoberta com lamentações?
"Levei tanto tempo pra te encontrar".
É mentira quando já se sabe onde está, mas a mentira não faz deixar de ser lindas as declarações, por mais falsas, fajutas, por mais desmoronadas, soltas, aleatórias. Não deixam de ser declarações de amor. De mim para você.

sábado, 20 de abril de 2013

Parênteses, apenas

Dentro do vazio que vive dentro de mim, existe alguém. Eu guardei lá no fundo, porque certamente me machucou muito, e eu não gosto mais de sofrer. Acredite, eu gostava. Aquele sofrimento de amor, saudade; sentir um aperto no coração, um arder na garganta, as mãos gelando, as pernas tremendo e o futuro fosco ilegível. Eu amava a sensação de estar apaixonada. Hoje, a abomino.
Sentimento imbecil é o tal amor. De certo, analisando agora, que nunca o senti. Nunca tive um Romeu, ninguém cuja vida equivalesse a minha. Nunca fui Julieta. Ou Isolda. Ou a Helena de um grego e um troiano. A sensação de sofrer por eles já senti, mas não sei como é quando sofrem por mim.

Tudo isso é apenas uma parte em parênteses, é verdade.

Agora, nesse instante, olhando pela janela, tenho certeza de que nunca vivi nada assim, bonito. Sempre vivi momentos, mas nunca vivi histórias. Falando de amor, é claro. E talvez eu nem queira viver. Nas histórias que li, havia sempre uma mocinha, um mocinho, um vilão e espectadores, ali, estagnados, incapazes de colaborar com a menor informação. Algo que o mocinho disse e que a mocinha deveria ouvir, sabe? Aquelas bobagens que a gente vê num filme romântico e diz: "Eu nunca faria isso". Bem, tenho uma péssima notícia: você faz. Você geralmente é o amigo insosso que não disse o que deveria ter dito; a amiga compromissada demais para ter tempo de dizer ao amigo que ele e a amiga se amam; o vizinho que não chamou a polícia quando ouviu barulhos na casa ao lado. Aquela pessoa incompleta, incapaz de se mover e mudar o rumo das coisas.
Simplificando, eu provavelmente nunca serei a mocinha. Serei sempre a vizinha, a amiga, o incapaz. Tudo isso, é claro, falando especificamente de casos de amor. Na vida, é fácil ser a peça principal, mas no amor, talvez seja melhor ficar nas beiradas, assistindo, sendo uma plateia indesejada, até. Quando falamos de amor, o papel principal é o único que eu não quero pra mim.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Na borda do azul

Estamos deitadas na beira. Na beira da juventude, na beira da vida quase boêmia, na beira de uma piscina morna bem aqui, no fim do mundo. A água é doce, porque tem gosto de nós; gosto de jovem, gosto de quase, gosto de limite, gosto de menina. E apesar dos pesares, do fim talvez tão próximo, apesar de tudo e até, talvez, apesar de todos, é  o amargo dessa inércia que deixa o doce, doce. É esse fim iminente e tão certo que faz com que eu me sinta assim. Beirando. Com os pés na água morna, com os dedos brincando em todo esse azul, nesse futuro, nesse "não saber" que é  assim tão bonito. Não saber nem pra onde vai, nem de onde vem. No desconhecido que engana, na preguiça de saber. Então estamos aqui, deitadas, beirando tudo. Beirando a vida, porque ainda não queremos mergulhar nela. Beirando a certeza da temperatura, beirando o que queremos e beirando o não saber. Estamos na borda de tudo, porque o mergulho é, certamente, sem volta.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Último suspiro de carnaval

Me pego fantasiando sobre nosso próximo encontro. Sobre como eu honestamente deixei de me importar com tudo e todos, deixei de me importar com você, comigo, com os olhares que receberemos quando eu me agarrar à você e te prender sem usar correntes. Você vai querer ficar depois de me ver outra vez, estou contando com isso. Você e todas as conversas que tivemos, e os segredos que sabemos e as palavras que não foram ditas; o abraço que faltou na nossa despedida. Estou pronta pra você, pra nós dois, pra peitar o mundo e mandar qualquer intrometido para o quinto dos infernos. Estou aqui, contando os dias, me lembrando das conversas, sorrindo ao lembrar do seu sorriso. Estou aqui, imitando um temporizador, aguardando o bipe do alarme de carnaval, esperando, esperando, esperando... sei que vai vir. Espero tanto que sim. E se você me deixar aqui, de mãos abanando, cheia de vontade mas sem nenhuma ajuda, não precisa voltar para mim outra vez. É a nossa última chance, coração. Não me decepcione outra vez.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Golias

Não me faça sentir saudade. Por favor, não me venha com aquela história de que sente minha falta. Você nunca foi assim, o que é que você quer de mim agora? Não mereço sofrer por você outra vez. Tudo que eu quero é você aqui comigo, mas até a minha ingenuidade tem limite. Você deve pensar que eu sou idiota. Quem se deixaria enganar por alguém como você? Eu jamais pensei que esse tipo de coisa fosse acontecer outra vez. Não bastasse ter tentado arrancar de mim o meu coração e todo meu amor-próprio, agora você quer me destruir de vez. Não posso! Por mais que eu... eu... te ame, isso não pode mais acontecer. Olhe onde chegamos. Faz mais de um ano. Estou amarrada à isso, à essa roda-gigante, à esse vira-vira, à você! - há mais de um ano. E o que foi que eu ganhei, além de alguns hematomas e piadas sobre jornal? Nada. Foi isso que eu ganhei: nada. Tudo bem. Eu sequer me importo. Não mais, não agora. Agora que você vem com esse papo furado, com essa conversa fiada, eu não quero ouvir. Nem quero me enganar, como já quis. Agora eu quero paz de espírito e paz no coração. Venha até mim quando quiser um carinho, um agrado, uns amassos e até uma conversa boba. Mas não venha até mim se quiser amor. O meu acabou.