sexta-feira, 19 de julho de 2013

Range

Esqueci de bater a porta e agora, por um vento qualquer, ela está rangindo. Nhééééc. Esse som me irrita, arrepia e amedronta, mas sabe do que eu lembrei agora? De quando você fechou a porta com cuidado, e ela fez o mesmo barulho. Nhééééc. Então você veio e pulou na minha cama, me abraçou e me apertou, me beijou e me fez rir quando passou a barba no meu pescoço. Aí a porta rangeu de novo, nós olhamos, mas era só o vento testando a nossa adrenalina, nhééééc. Você continuou com os beijos e a barba e eu tremia; tremia de frio e das outras coisas que você me fazia sentir. O vento voltou pela porta entreaberta, agora, enquanto me lembro dessa noite em particular. Nhééééc. Tenho que me levantar e ir até lá, fechá-la de uma vez, como fiz naquela noite... só que agora você não está aqui pra me segurar pela cintura e me puxar de volta, então vou até a porta sem brigar, sem lutar, e a fecho. O silêncio irrompe e eu me vejo sozinha, mergulhada em lembranças sofríveis. Por diversão, o vento abre a porta outra vez, agora que já me deitei. Nhééééc. Você sabe que não consigo dormir de porta aberta, não sabe? Sabe, e me chamava de fresca não só por isso, mas por todas as outras coisas bobas das quais tenho medo ou implicância. Fecha pra mim, murmuro, e me lembro de que você não está aqui, hoje. E nem estará tão cedo. Estou sozinha, outra vez, ouvindo o vento assobiar pela janela e fazendo ranger a porta: nhééééc. O barulho faz meus pelos do braço eriçarem e escapa um riso abafado. Que merda. Se eu me concentrar, dá pra sentir suas mordidas. E se eu fechar os olhos, ouço até a sua voz. Para de ser fresca, puta que pariu. Você está aqui? Está, de alguma forma. Está em mim.

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