segunda-feira, 31 de março de 2014

Sobre todas as formas de violência

Se eu disser que sinto falta do tempo em que caminhava com segurança pelas ruas de qualquer cidade, é mentira. É mentira, porque nunca vivi tempos assim. Sempre vivi com medo. Moro numa cidade pequena, interiorana, onde vejo apenas pela televisão crimes que me tiram o sono à noite. Não moro em São Paulo nem no Rio de Janeiro, mas tenho medo das favelas. Por quê? Porque foi isso que me ensinaram. Também me ensinaram a temer quem caminha muito próximo a mim nas calçadas largas dos grandes centros, a desviar de um grupo de homens, a olhar torto para qualquer um que me encarar por algum tempo e nunca tirar o celular do bolso enquanto ando à noite. O quanto disso é certo ou errado é irrelevante. Note qual é a lição implícita nos comportamentos que me foram ensinados: tenha medo do próximo.

Segurança pública, no Brasil, é lenda. Não importa que te digam “Pode ir tranquilo”, você não vai. Ou não deveria. Ser assaltado, ter seu celular (que você parcelou em 12 vezes no cartão, porque é absurdamente caro) roubado, ou perder o troco do ônibus, essas coisas têm conserto.
Mas e se o cara que te parou para roubar seu celular resolver que não é só isso que ele vai levar de você?
Seja você um homem ou uma mulher, o medo existe. Você teme pela sua integridade física; você pode ser violentado, você pode ser violentada. Você pode ser espancado ou espancada. Você pode ser assaltado ou assaltada, roubado ou roubada, estuprado ou estuprada, assassinado ou assassinada. Estamos sujeitos a essas situações por que...? Não sei o porquê, não sei o motivo. Nem sei como foi que chegamos nesse estágio de insegurança. Não sei quando foi que se tornou mais comum se tornar um bandido que arranjar um emprego. Sempre foi assim? Também não sei. A única coisa que eu sei é que é difícil demais viver assim. Estamos chegando a um nível insuportável. E o que mais me assusta não é levarem o meu dinheiro... é levarem a minha integridade física. Não tenho medo de entregar meu celular, tenho medo de entregar a minha dignidade, a minha posição de cidadã. Tenho medo da agressão. De todas as agressões.

Nenhuma forma de violência é justificável.
Não bata com uma lâmpada num gay pela orientação sexual dele.
Não espanque um negro porque ele cometeu um crime.
Não estupre uma mulher porque ela está mostrando o corpo.

Não é concebível uma conversa em que alguém diga “Aquela mulher mereceu ser estuprada, você viu como ela se insinuou, com aquelas roupas?”, assim como não existe “Aquele menino mereceu ser preso ao poste e espancado, ele roubou!”, ou “Aquele gay mereceu ser surrado até morrer, ele namora outro homem!”.
Não cabe a você julgar o próximo, muito menos puni-lo. Não cabe a você decidir o que será feito com a vida de outra pessoa.

Sinto que estamos numa bomba-relógio, crescente e pulsante. Governantes relapsos, polícia submissa e impotente, um povo enfurecido... e os olhos do mundo virados para nós. Alguma coisa vai acontecer. Não se sabe ao certo o que, nem quando. Mas vai.


A hora de gritar é agora.

segunda-feira, 17 de março de 2014

Um pedido de desculpas

Quem sou eu pra merecer o seu amor?
Um poço de defeitos, tanta coisa errada junta.
Quem sou eu pra você me amar assim?
Tão louca e inconstante que me assusta.

Sabe como é, eu desconfio de tudo.
Te entrego meu coração, meu eu completo,
mas não sei receber o que você quer me dar;
duvido mesmo daquilo que eu sei ser certo.

Juro que é uma luta eterna o que eu vivo,
tentando te salvar das complicações que sou.
Te poupar do que pode acontecer
enquanto me decido: pra que lado eu vou?

Mas mesmo louca, mesmo meio sem rumo,
no final de tudo, tenho só uma certeza:
eu só quero te levar comigo, te ter do meu lado,
não importa o que aconteça.