domingo, 25 de setembro de 2016

hoje não vou beber nunca mais

Nunca mais eu vou beber.
Não é a primeira vez que digo isso. Dessa vez eu também não vou levar essa promessa tão à sério. Nenhum de nós vai. Nem eu, no auge dos meus vinte anos, nem o meu irmão de dezesseis, que sofre muito menos do que eu com a maldita ressaca, nem minha mãe, de quarenta e poucos, que já não aguenta mais as dores de cabeça e o cansaço que o álcool manda entregar no dia seguinte. Todos nós já fizemos essa promessa, e num primeiro instante, nós estávamos falando sério. Muito sério.
Eu acabei de receber esse pacote ressaca e estou usufruindo tudo que vem no kit. A dorzinha no fundo da cabeça, o estômago fragilizado, o corpo totalmente abalado depois de uma noite que, não me orgulho em dizer, foi parcialmente apagada da minha memória.

Beirut - Elephant Gun (5:45) 

Me lembro dos momentos mágicos que passei dentro do carro, gritando minhas músicas favoritas e bagunçando meu cabelo, aproveitando um momento realmente único com alguém inesperado. Quem é que ouve essa banda? Eu. E você. Você, que não usa cinto de segurança, e que me deu a valiosíssima liberdade de mexer no som e simplesmente não deixar as músicas chegarem até o final. Você, que pagou a conta e me fez lembrar como é maravilhoso não ter que se preocupar nem tomar nenhuma atitude por um tempo; como é bom simplesmente estar, e simplesmente receber. Talvez você nem imagine o que fez por mim nessa noite que terminou tão, tão confusa, mas que foi completamente inesquecível, e que me marcou de várias formas diferentes - e, ouso dizer, únicas.

Ozzy Osbourne - I Just Want You (4:56)

A cada parada no posto, uma esvaziada na bexiga (que já estava no nada confortável estado de torneira aberta), uma cerveja nova e mais uma volta. Não tínhamos porque parar. Eu tenho certeza que você estava tão confortável quanto eu, a vinte quilômetros por hora, rindo, rindo muito, porque como seria possível? Você também adora essa música? Põe de novo. Mas espera aí, o que mais você tem aqui? E quando eu percebi... eu estava apaixonada. Mas não por você. Eu me apaixonei de novo por mim. Pelo estado de liberdade em que eu me encontrei. E eu me amei ainda mais. Eu enxerguei que companhias maravilhosas eu poderia ter, e como eu mereço tudo isso. A boa música, a cerveja, a atenção, o cuidado, o passeio, a ansiedade do novo. E eu me quis. Me vi feliz, me vi nova. E foi bom.

Foo Fighters - Everlong (4:11)

Não vou dizer que me arrependo do que aconteceu depois de termos decidido pausar nossa música tão harmônica para ouvir outras vozes, mas talvez nós devêssemos ter prolongado aquilo tudo. Foi bom demais e não vai se repetir, porque eu conheço minha vida e não tenho a honra de viver um momento como aquele duas vezes. Além disso, o que vamos fazer, exatamente? Tivemos nosso maravilhoso primeiro contato, e ele foi tudo que me prometeram.

Como você bem sabe, eu tenho ansiedade. E ansiedade nos torna bombas-relógio. Ansiedade faz com que qualquer coisa seja imensa. Que desperdício de tempo precioso descrever ansiedade pra você! Por favor. Você sabe. Mas o que você talvez não saiba é como a insegurança e a ansiedade e o meu relacionamento (que nós discutimos) me fizeram uma pessoa completamente desequilibrada emocionalmente. Ainda estou esperando você responder o que quer que eu tenha escrito pra você. Na verdade, estou cogitando te mandar isso tudo, pra facilitar. Você vai ler coisas boas sobre si mesmo e eu vou aliviar essa minha vontade de te procurar pra pedir desculpas. Desculpas que, me disseram, eu não preciso pedir. Mas eu sinto que devo. O que quer que eu tenha feito (e não que eu precise me justificar) foi por pura infantilidade. E eu não sinto nenhum peso nisso. Não tenho tido a chance de ser infantil ou de fazer aquelas bobagens de adolescente sobre as quais nós conversamos. Aquelas que a gente riu e concluiu que não podemos mais fazer, porque depois de um tempo, somos condicionados ao comportamento social. 
[Você diz coisas assim e eu acho isso o máximo.]

The Killers - When You Were Young (3:40)

Estou me dando a oportunidade de ser infantil, e de ser meio boba, e de ter tesão e vontade e deixar pra lá. Tudo ao mesmo tempo agora. Um pouco disso, com certeza sobre você.

O que quer que tenha dentro de mim agora, foi você que acordou. 


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