segunda-feira, 14 de junho de 2021

aguardado

 Se dobra sobre mim com a delicadeza das folhas de uma palmeira soprada pelo vento; todos os movimentos suaves e majestosos, lentos e contínuos, os quais observo com olhar atento. Tudo em você me chama atenção, e me pego vidrada nas mínimas ações, presa em cada segundo da sua companhia. Seus braços longos e fortes ao redor do meu corpo que treme sob o seu toque. Sua boca tem sabor de saudade, um veneno para uma mulher que não quer ser refém.

Você se deita enquanto faço todas as escolhas, permite porque sabe que eu gosto. Meu corpo dança, escorregando sobre o seu calor. Seu beijo me hipnotiza e nossos movimentos se tornam cor, formas cilíndricas em um branco envernizado, movimentos lentos que só eu consigo ver. Enquanto sinto o sabor da sua pele na minha língua, seus dedos passeiam e as palmas das suas mãos cantam canções inteiras no meu corpo; um instrumento que você dominou. Não finjo surpresa, não disfarço a vontade, e não impeço a garganta de sonorizar aquilo que nunca escondi: eu quero você.

Quando me deito, o corpo ainda trêmulo, rindo para tentar mascarar mesmo que minimamente o quanto estou maravilhada, você se aproxima; você, com seus dedos macios, a pele alva, o sorriso que nunca apaga. Pergunto do que você tanto ri. E a resposta é sempre a mesma, saindo pelos cantos, fugindo discretamente sem me fazer sentir constrangida. Seus olhos negam qualquer comicidade, ferozes sobre mim e meu corpo estendido, descoberto, vulnerável às suas vontades. Quando você e suas mãos se movem, mal respiro. 

O toque começa tão leve quanto seu hálito, se aproximando sem anúncio nem alarde, um velho conhecido que chega sem avisar nem causar estranhamento. Quando seus dedos encontram meus pelos, um choque percorre cada milímetro da minha pele e eu o sinto — o tremor que balançaria um continente. Meus olhos mal se mantém abertos e minha boca não se fecha, murmurando juras que se comunicam apenas com você. A cada pulso que meu corpo emite, você mal se move, reconhecendo movimentos — atento aos sons, aos tremores suaves e aos intensos, aos caminhos que percorrem as minhas mãos, até às leves mudanças das minhas pernas — como quem desvenda um mistério. Não digo nada, mas não há necessidade. Meu corpo me delata.

A vergonha dá lugar à vontade e verbalizo: me beija. Com mais palavras, com mais detalhes, com mais por quês; e você acata, se aproxima e me permite, sendo gentil enquanto me domina. Há uma coreografia em par, e minha insegurança, implacável, só me permite sentir por completo quando sua voz vem lá do fundo, acariciando meu ego, compartilhando suas delícias e me fazendo sentir paz. Abre-se uma nova porta e eu não a quero fechada. 

Você não diz muito; ou não dizia. No começo mal se manifestava, embora seu corpo falasse por si só, e me vi refém dos meus próprios movimentos — e o que quer que eles causassem. Agora, murmura carícias e absurdos no meu ouvido, rosnando delícias, deixando marcas de dentes e mãos que me fazem acordar com vestígios do seu carinho. Seus olhos parecem querer confiar em mim, e sinto na sua língua um desejo de chegar mais longe, descobrir novas temperaturas, me fazer mostrar o que há além das promessas. Há uma longa trilha até chegar a esse oásis, mas você se mostra determinado, pronto para atravessar o deserto. Rio ao pensar em quantas vezes imaginei essas cenas sem jamais chegar perto de retratá-las com fidelidade; jamais imaginaria quem você é. 

Como de costume me mantenho distante, despedindo-me sempre como se fosse meu último adeus, e não me arrependo. Mas verdade seja dita, ainda não quero dizer adeus. Não chegamos ao oásis, não encontrei sua paz, nem você o meu segredo. Talvez isso não aconteça — eu nunca vou tão longe nessa estrada —, mas quero encontrar ao menos um próximo ponto, uma próxima carícia e um novo poema. Quando estiver saciada das suas canções, me despeço, prometo. Mas ainda quero ouvir como você toca.