domingo, 28 de fevereiro de 2016

a primeira morte de 2016

Lindo tudo isso que você me disse, no final. Lindas palavras de autores desconhecidos que você escolheu pra usar no seu Tumblr, me fazendo sentir quase culpada. Compartilhando aquelas fotos de casal que você nunca quis tirar comigo. Caso você já tenha se esquecido, de uns tempos pra cá, tirar foto comigo era sempre um incomodo, você se lembra? Fazia cara feia, se escondia e reclamava. Eu tinha que pedir antes, avisar no começo da noite que queria registrar o momento. Fui perdendo o tesão. De uns tempos pra cá, começou a beber mais e falar mais alto. Não só comigo, mas com todo mundo. De uns tempos pra cá, esqueceu que eu ainda não gostava do cigarro, e não ligava mais de fumar bastante perto de mim... e eu nem vou falar da maconha. Você me disse que agora largou de verdade; espero que sim, e que não tivesse sido só pra me deixar "mais calma". Você começou a se incomodar por eu não querer que você bebesse tanto, e quando me dizia que não ia abusar, abusava. E eu ficava lá, tentando lembrar do por quê de ainda me submeter a um estresse tão grande.
As coisas foram ficando difíceis. Você não passou na faculdade, como me prometeu que ia. Você me disse que estava se esforçando. Não culpe a escola, eu avisei você sobre tudo aquilo. Eu estava lá, eu me dispus a te ajudar se quisesse, eu queria te ajudar. Eu queria. Mas você achou que as coisas iam se resolver sozinhas, sei lá porquê. Tomara que essa próxima tentativa dê certo e você consiga.
Mas é óbvio que não foi só a faculdade. Imagina, isso foi o mínimo do mínimo, eu fiquei triste com você e já havia refeito meus planos pra poder me adaptar à nova vida que você ia ter. Eu fiz isso, eu te cobrei, eu me preocupei... até você cansar. Cansar porque eu fui chata mesmo, estando tão em cima de você sobre tudo isso. Desculpa se eu só queria que tudo desse certo e que você entendesse que a coisa é mais complicada do que parece. Mas só precisou pedir uma vez pra quebrar minhas pernas.
Como eu disse, não é só a faculdade. Era aquela sensação ruim que eu tinha de que você estava acomodado nessa vida quadrada que a gente leva nessa cidade. Ou pior, de que você estava acomodado na vida que eu fui te dando. E eu gostava de te dar os mimos que eu dava, fosse um presente ou fosse a entrada na balada, pagar a conta, a cerveja, o show, a viagem... e sabe, não é o dinheiro. Meu, realmente não é o dinheiro. É o "obrigado". Agradecer, de verdade, e saber o que aquilo significa.
Acho que no fim, era tudo sobre significados.
Você dizer "não" para uma cerveja significava muito pra mim.
Você dizer "não" para uma foto comigo significava muito pra mim.
Você ir quando eu dizia que você podia ir, sem saber o quanto eu queria que você dissesse "não" e ficasse... aquilo significava muito pra mim.
Eu ter que pedir pra você fumar menos, beber menos, falar mais baixo, tudo isso significava muito pra mim.
Isso tudo significou o fim, você entende? Você ir sem mim pra qualquer lugar quando eu não ia sem você pra lugar algum. Quando eu fazia tudo pra que você estivesse o tempo todo comigo. Quando eu te arranjava ingresso, te arranjava onde ficar, como ir e como vir, te arranjava o que estivesse ao meu alcance, e nunca te cobrei nada. Eu nunca te cobrei nada. Talvez eu devesse ter cobrado. Talvez eu devesse ter te dito que queria sim que você ficasse comigo, em casa, até a Helena dormir, ao invés de ir na casa do Rodrigo. Talvez eu devesse ter pedido pra você me pagar aquele jantar que prometeu na praia. Talvez eu devesse ter feito tanta coisa... talvez não adiantasse nada. Talvez eu só ficasse de chata, como você me chamava com muita frequência. E eu ali, dando o meu melhor, pra você me dizer que eu era implicante. Não sei não, pretinho... não foi o grand finale que me destruiu. Foram os detalhes.
Fui eu, tentando convencer todo mundo de que você era não só uma boa pessoa, mas uma boa pessoa pra mim. Que me tratava bem sim, que me respeitava sim, que estava ali comigo sim, que me amava sim, que mudou sim. Quantas vezes repetindo com orgulho que você fumava menos cigarro e menos maconha por mim, que me ouvia quando eu dizia pra maneirar na bebida. Quantas vezes prevendo ansiosa um futuro onde estudávamos na mesma faculdade, você trabalhava e tudo seguia em perfeita harmonia. Um futuro onde ninguém poderia fazer nada a não ser engolir cada palavra amarga dita sobre você, onde eu estaria firme do seu lado, comemorando a vida.
Uma pena esse dia ter demorado pra chegar.
Na verdade, ele vai chegar. Só não vai ter eu. Mas você vai alcançar a faculdade, o emprego e a vida bacana que você sempre quis ter lá. Vai se divertir muito, vai aproveitar, vai estudar, vai conhecer alguém e pronto, passou. Eu vou passar. Eu passei.

Eu começo reclamando de você e acabo te lambendo. Que diabo, não? É, eu ainda não aprendi com os erros, mas vou aprender na marra. Colocar em prática todos os meus discursos sobre não namorar alguém que não te faz bem, que não te dá valor, que não te ama e que não faria por você o que você faz por ele. Não que você me odeie e nunca tenha me amado, veja bem... a questão é mais sobre como eu me sentia sobre tudo isso. Você me amava, claro que sim. Mas faltou um pouquinho, falhou um pouco nos detalhes. Em coisas pequenas, tão pequenas, e que estavam ao seu alcance.

Quer mesmo saber o que houve? Nem eu sei. Não sei o que aconteceu nessa sexta-feira, quando tudo acabou de vez. Eu estava com você, e de repente eu queria que você estivesse longe, longe de mim, e que fosse embora. Me deixa passar mal sozinha, me deixa deitada aqui, me deixa. Só me deixa. E daí de repente eu estava lá dentro, nervosa, sem você, meus amigos bravos, meu irmão irado, e eu sem saber direito o que tinha acontecido. Não sei mesmo. Não sei de quem foi a culpa, porque eu te chamei de idiota também, mas você gritou comigo. Não me deixou em paz, como eu pedi. Era sério, e você devia ter acreditado e me deixado sozinha. Você não era meu namorado, de qualquer forma...

Eu choro lendo minhas próprias palavras. Você ainda está aí pra mim, e eu pra você, mas dessa vez, eu não vou me esquecer. Eu não vou deixar passar, eu não vou lembrar só dos bons momentos. Não. Eu vou deixar claro que foi tudo sua culpa. Foi sim!, foi sim, cacete. Eu te avisei, porra. Eu te avisei sobre tudo! Sobre mim, sobre você, sobre a cerveja, sobre a faculdade, sobre a mudança, sobre o combinado da viagem, sobre as brigas, sobre os problemas, sobre os limites, sobre as minhas vontades, sobre o que eu esperava. Eu te dei todos os avisos, faltava eu escrever na tua testa: "você está me perdendo". Talvez nem assim você percebesse. Eu passei dois anos me culpando pelas coisas ruins que aconteciam. Agora acabou. Agora eu não quero mais saber. A culpa foi sua. Se nós estamos separados hoje, a culpa é sua. Se eu não consegui aguentar a porra da pressão que eu recebia de todo mundo, a culpa é... minha? Seria tão mais fácil se eu não precisasse sofrer pressão nenhuma. Se você andasse na linha, sem tombar de vez em quando. Por quê? Você sabe me dizer? Você consegue entender? Você compreende o tamanho da merda que você fez no fim de tudo? Que ainda me ferve o sangue, me aperta o coração? Seu idiota. Meu idiota. Meu amor. Você nos separou.
Você jogou tudo no lixo quando pediu desculpas pra pessoa errada.
Quando não teve coragem de encarar a cagada que você já tinha feito.
Quando essa porra toda me atingiu, você tinha que ter consertado... e não consertou.
Você não se consertou. Você só tava remendado. Eu tava te remendando.
Acabou. Eu não vou viver com um trapo remendado. Eu quero você quando estiver consertado.
Se isso nunca acontecer, então eu não te quero nunca mais.