domingo, 23 de abril de 2017

Inveja

Finalmente, começo a me sentir sozinha.
Vi um casal novo, comemorando os primeiros dias
quando os enfeites sobrepujam os defeitos
e ainda nos vemos como queremos ver,
sem pensar muito nos depois, nos por quês.

De todas as coisas que me machucam,
um pouquinho é sempre esse medo complicado,
que vem atrelado à relutância de um novo agrado,
muito embora a certeza de um futuro
esteja vindo na carona. É bizarro.

Quando me permito sentir as dores
que enterrei tão fundo nas minhas entranhas,
percebo que já não há mais nada para amar,
para permitir, para deixar, para exibir,
já não há mais nada aqui dentro de mim.

Que dor incômoda perceber que uma parte de mim
morreu junto com o que nós éramos,
com tudo aquilo que fomos, com o amor que vivemos,
com os sonhos que tivemos, com a vida
que nunca viveremos.

Tão amargo se encarar no espelho e ser incapaz
de reconhecer o olhar pesado e infeliz
que te observa de volta. Duro e amargo,
impessoal, estranhamente desconhecido,
já sem riso, já sem vida, já sem sonhos.

Seria um amor de juventude assim tão forte,
capaz de quebrar algo tão importante assim
que sou incapaz de consertar dentro de mim?
Que me tornou incompleta, que me deu defeito
e que se sobrepôs ao meu próprio desejo?


23.04.17