quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Sol

Eu ouço o pio baixo de passarinhos; tenho certeza de que são pequeninos. Um ventinho agudo entra pela janela agora aberta, e eu espero o sol invadir a minha cama. As paredes altas dos vizinhos não me impedem de esperar que o sol me alcance. Eu estou no aguarde, três, dois... Vem, sol. Vem esquentar a minha cama. Vem me mostrar que tudo o que eu digo é verdade, que depois de uma noite lenta e triste sempre há um sol que vem para iluminar e animar. Ainda estou esperando. Nesses momentos que antecedem o nascer do sol, momentos tão raros na minha vida de preguiçosa dorminhoca, posso pensar em mais ou menos vinte e tantas pessoas com quem eu gostaria de dividir esse pequeno e singelo instante de paz. Amigas, amigos, paixonites, amores, família. Consigo pensar em tantos nomes e tantos rostos e tantos sorrisos e tantas risadas e tantas conversas e... ei, lá vem. O sol. Lindo, majestoso, um leão de juba loura e densa que ilumina, aquece, protege. Vem, sol. Mostra a tua glória para a humanidade. Agradeço silenciosamente ao Deus em que eu acredito por esse pedacinho de paz à mais que estou recebendo. Um jato atravessa o meu céu azul, deixa um rastro branco; uma estrela cadente na minha manhã. O sol vai nascer. Logo. Corro para o segundo andar, e voo para a varanda. Só posso ver a luz amarelada do nascer precoce do sol. São 6h33min da manhã. Agora. Lá vem. Fico ansiosa: e se o sol não nascer? Permito um momento de reflexão à minha mente sem descanço - um mundo sem sol, sem luz, sem calor, sem nad- Um pássaro. É preto e azul, e olhou para mim. Olhou direto para mim. Nos meus olhos. Armada da câmera, tiro uma foto. E então outra. O pássaro parece fazer pose para as minhas lentes, e eu dou corda. Duas, três, dez, dezesseis. Dezesseis fotos de um pássaro azul e preto, com olhar cativante. Ele voa, me deixando sozinha com o sol que não vem outra vez. Uma rajada de vento frio me faz estremecer; corro para dentro em busca de alguma coisa, talvez um cobertor. Me contento com um edredom (considerando que é o quarto do meu irmão, é um achado!). Continuo esperando pelo sol, mas ele não vem. Desisto, porque o vento está mais forte e mais frio do que eu posso combater com meu ralo edredom de nailon. Desço as escadas com menos cuidado do que subi. Volto ao quarto e continuo na espera.
Gasto quase 15 minutos fazendo nada no computador, quando finalmente a luz que atravessa a janela fica forte o suficiente para chamar minha atenção. Dessa vez é ele. Tenho certeza. Desesperada por um pouco de emoção antes que acabe caindo no sono, ponho a câmera no pescoço, abro os vidros e pulo a janela. Caminho no concreto gelado (frio! frio! frio!) e vou até metade do quintal. O sol está ali, uma cabeleira loura na vala entre duas montanhas. A vista é inacreditável. Quantas pessoas não passam a vida toda sem ver algo assim?, me pergunto. Milhares. Milhões. Tiro uma foto. Não há sol suficiente, ainda.
Finalmente o sol aparece. Uma aura dourada, brilhante e quente envolve o círculo de fogo. Fogo. É isso que o sol é, certo? Fogo.
Decido que, depois de correr atrás do nascer do sol, é melhor me levantar. São apenas sete e pouco da manhã, e eu devia estar dormindo, mas não há sono. Há apenas um pouco de sede, alguma fome e muita paz.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Charlie (Um, Dois, Três Contos Sem Fim)

Era noite de terça-feira, e lá ia eu. Dia de jogo, eu precisava assistir o meu amado Browns vencer. Com essa vitória, era líder do campeonato com 5 pontos de distância do Dark Bulls, segundo colocado. Eu precisava da vitória para ganhar a aposta com Sony, ou eu estaria devendo oficialmente três caixas de Guiness para um velho grisalho.

Entrei no Poney Town – pois é, o nome é definitivamente estúpido –, e dei de cara com um bando de quarentões gorduchos com os olhos esbugalhados, colados na tela da plasma 42’ pendurada bem em cima da placa que dizia Não assiste se não beber!. Judy, a barman, estava ocupada com um monte de louça da hora do almoço que alguém (provavelmente Lewis, seu marido) não lavara. Me lançou um alô com um aceno e um sorriso desesperado. Sentei então em um dos bancos altos de couro, e apoiei os braços na bancada de madeira velha. Ao meu lado, em uma fila perfeita em ordem decrescente, quatro gorduchos não desgrudavam os olhos da tela da TV. Eu os conhecia: Philip, John, Kurt e Alguma-Coisa Paul. Eram loucos por futebol quase tanto quanto eu, mas gostavam mesmo era de F1. Estava passando a final do GP da Irlanda e, como provavelmente eram pobres demais para conseguirem voar para Dublin para assistir a corrida, estavam ali, no Poney Town, cada um com sua respectiva Guiness, os quatro quase chorando. Não faço idéia de quem ganhou, mas com certeza não era o cara pra quem eles estavam torcendo.
– Alemães filhos-da-puta! – gritou Kurt, exasperado. Era o que estava mais longe de mim, logo na outra ponta. Era baixinho, baixinho mesmo, e definitivamente engraçado. O rostinho redondo ficou vermelho quando ele gritou, as perninhas esticadas como palitos de dente fincadas numa batata gorda. Dei uma gargalhada silenciosa.
Nenhum dos companheiros do Palitos na Batata deram qualquer opinião, mas fiquei com pena de todos eles; pareciam arrasados, como se eles mesmos tivessem perdido a corrida, cada um em seu carrinho à jato.
Me sentei ao lado de Philip, o único dos quatro que eu realmente conhecia, porque era amigo de Sony.
– Ei, Phil – cumprimentei. – Sinto muito pela corrida. Vamos ganhar a próxima?
Nai – respondeu, desanimado. – Somos péssimos.
– Veio ver o jogo, Charlie? – perguntou John, quando eu não respondi Philip.
– Vim assistir a vitória do Browns – respondi, sorrindo. – Os Bulls estão péssimos, então se ganharmos do Tirany hoje, garantimos o campeonato. Vai ser demais.
– Charlie, querida, eu não queria te dizer isso, mas os Browns não vão ganhar! Claro que não vão! – gritou Sony, entrando no Poney Town. Nada melhor do que a companhia do seu pai, que torce para o time adversário, dentro de um bar que ele mesmo lhe ensinou a freqüentar.
– Sony – eu já não o chamava de pai há algum tempo –, eu sinto muito mesmo, mas acho que agora sim, você pirou. Os Bulls estão terríveis, não existe a menor chance de perdermos hoje e, mesmo que os Browns percam (o que é impossível),vocês precisam de cinco pontos para terem chance de vencer.
– Apenas cinco pontos. Com a sua derrota hoje e a nossa vitória amanhã, a distância será de dois pontos. Vai ser fácil.
Nem preciso dizer que o Browns perdeu, o Bulls ganhou no dia seguinte e acabou vencendo o campeonato.

Mas eu devo as caixas de Guiness à Sony até hoje. Não pretendo pagar.

Dose de conhaque

Quando Johna entrou naquele boteco de esquina com seu salto 12cm e seu cabelo louro natural, os olhos azuis piscando através dos óculos de grau Gucci, honestamente, quase ninguém à notou. Os homens ali não estavam atrás de uma bela mulher, mas de uma bela dose de algo forte o suficiente para fazer com que sua memória falhasse e eles tivessem momentos de paz interior, só isso.
Johna só foi notada depois da quarta dose de conhaque com limão; sentada na bancada, lendo um livro grosso - talvez 600 páginas? - e tomando suas doses em goles rápidos e curtos. Vladmir (um clichê), o dono do boteco, resmungando em russo, pediu que ela tomasse cuidado. Não gosta mulher aqui, mas não vai mandar embora, ele resmungou. Não fica ruim, que eu ponho para fora então. Johna levantou rapidamente os olhos do livro e encarou Vladmir por mais de cinco segundos. Todos os outros sete homens sentados na bancada pararam com seus copos à meio caminho da boca para observar o desenrolar daquele momento de tensão. Vladmir, quando finalmente se deu conta de que não era apenas uma garota no bar, quis recuar, mas não havia mais tempo. Johna, então, para alívio geral, sorriu e disse: "Não se preocupe (risadinhas). Estou acostumada à esse tipo de tratamento, mas cresci num boteco de quinta categoria muito pior que esse (sorriso simpático). Estou bem e não vou causar problemas."
Desnecessário contar que os sete homens no balcão se aproximaram dela, o que não surpreendeu a nossa jovem amiga, mas a deixou chateada. Queria mesmo terminar aquele livro ainda aquela noite, antes de voar de volta para casa; mesmo assim, fechou seu romance, sorriu e respondeu à todas as - poucas - perguntas. De onde viera, onde crescera e principalmente como assim crescera num bar de pouca categoria, que tipo de moça bebia conhaque, e outras tantas que nem se lembra. Respondeu o que pode, tentando dizer a verdade. Os sete se cansaram de Johna quando ela estava na décima sexta dose, acredite se quiser. Começava a sentir a perna balançar mais do que devia, e fechou a conta. Vladmir foi justo, nem quis cobrar o serviço. Estava orgulhoso dessa moça desconhecida que bebia como um velho cego amigo seu - e seus olhos azuis lhe lembravam tanto o amigo, que o coração do velho Vladmir bateu mais rápido. Ô, saudade. Pagou a conta com mais dinheiro que o necessário, deixou o troco e saiu trotando em direção ao aeroporto.
No táxi, leu as 48 páginas restantes do romance que carregava. Como previra, o mocinho não era bom, o violão era mocinho e o pai da mocinha era amigo do vilão (do vilão mesmo, não do vilão mocinho). A mãe morreu para dar o tom trágico, o pai na verdade não era pai coisa nenhuma (filha do mordomo, de praxe); casou-se com o vilão que era mocinho e viu o mocinho vilão ir para cadeia com o pai de mentirinha. Tudo nos conformes, como Johna já sabia que seria. Fechou o livro com calma, e o guardou na bolsa pequena que carregava. Tentou cochilar até chegar ao aeroporto, mas esse tipo de cidade (grande, cheia de luzes, viva 24h por dia) não permitia um sono leve à ninguém, nem à Johna. Então ela se encostou no próprio ombro e apenas fechou os olhos, esperando seu destino chegar finalmente.
O voo foi tranquilo, a viagem até o hotel, mais ainda. Porém, quando finalmente se deitou, às quatro da manhã, um desespero chegou e se sentou no pé da cama de casal onde ela dormia sozinha.
Vou me casar. Vou me casar. Vou me casar. Vou me casar. A frase ecoou como um grito surdo e inacabado na cabeça de Johna. Não podia acreditar. Ela ia se casar dali uma questão de horas. Horas. Logo, logo seu futuro marido chegaria para pegá-la no hotel, e eles rumariam para a suíte presidencial de outro hotel, um mais próximo da praia onde a cerimônia aconteceria. Deus do céu, eu vou me casar, ela concluiu, sem saber se isso que sentia era alívio, dor, constrangimento ou desespero. Talvez, apenas talvez, fosse felicidade. Não, não. Felicidade não deixava esse gosto amargo em sua boca, nem essa sensação de mastigar metal quente. Felicidade a deixava relaxada, não estática.
Vou me casar.
Vou me casar.
Mas não quero me casar, diabos.
Virou-se para o outro lado da cama. Há anos que esse lugar era ocupado pelo mesmo homem; o homem por quem Johna era apaixonada. Era? Ou ainda é? Ainda é, com certeza. Ela amava Brian. Amava muito. Então, por que não queria se casar? Na verdade, estavam ótimos como namorados, eternos e tenros amantes, vivendo debaixo de cobertas quentes e à base de filmes românticos com sorvete de menta. Por que casamento? Por que agora? Ela não estava pronta.
Johna então só pode pensar em um lugar para estar: no boteco de esquina do qual saíra há algumas horas, onde tomava doses de conhaque e respondia perguntas fáceis. Era disso que ela precisava: uma dose de conhaque. Só isso. Nada de decisões, casamentos, nada de Brian. Apenas... conhaque.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Jogo

Eu sinto desejo, como todo mundo
e só eu te vejo nesse filme mudo.
De lá pra cá, de cá pra lá
por todo e qualquer ângulo.
Rapaz, eu já decorei o teu sotaque fanho
e eu já não te acho mais tão estranho.
Suas jaquetas de couro eu já contei
e a sua resposta-base pra tudo é "Eu sei".
Acredite se quiser, eu te conheço,
meu caro rapaz, eu sei que não pareço
esperta, mas eu sou.
E embora eu tenha ido, você se esquivou
e me seguiu.
E foi atrás de mim, servil.
Me espera entregar o jogo,
não tenta tirar de mim
a única coisa que eu só perco se disser "sim".

Curto, prático. Um pensamento sem muito nexo.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Lugar-perfeito 3D

Com as minhas canetinhas coloridas, eu pintei meu próprio lugar-perfeito. Era em 3D, eu podia tocá-lo. Não com as mãos, mas com a mente. Era palpável, para mim. Era real. Um lugar onde eu podia gritar e fazer escândalos, e passar vergonha, e não me envergonhava. Eu me sentia sempre tão...
Daí esse lugar-perfeito foi se transformando. Conforme acabava-se a tinta das minhas minhas canetas e eu comprava novas; porém, a tinta nova era mais gasta e sem-graça, não tão viva, nem tão linda. Parava de parecer um sonho, e passava a parecer-se mais e mais com a minha realidade. A minha fuga virou-se contra mim, transformando-se, insolente, na minha vida. Não procuro pela verdade, garanti-lhe. Procuro por algo diferente do que vejo sempre. Ao contrário do que pensei que fariam (eles, não sei bem quem, mas eles) não me justificaram uma única vírgula. Continuaram a produzir canetinhas não tão lindas nem tão coloridas, as quais me chateavam cada dia mais. O que era meu mundo mágico em 3D tornou-se uma chata realidade em 2D. Essa foi minha sorte; estava apenas no papel. Conforme perdeu a cor, minha verdade imaginária perdeu também a chave da minha cabeça, e aquilo que eu tentava fazer parecer-se com meus sonhos passou a prender-se ao papel apenas. Longe de mim. Cada dia mais longe de mim.
E eu escondendo de mim mesma a tristeza cada dia mais forte pela falta de uma fuga. Sabe, é importante ter um lugar para o qual fugir. Importante demais. Não se pode viver apenas na realidade, porque a realidade é perigosamente maçante. Não importa o quão agitada é a sua vida, sempre será maçante o suficiente para matar-lhe os sonhos. E não discuta. Sabe que é verdade.
Não podemos, simplesmente não podemos sonhar e transformar estes sonhos em realidade o suficiente. Não podemos. Jamais poderemos. A canetinha colorida vai acabar, e acabará por transformando-se em apenas um modo de passar seu desespero em 2D para o papel. Você aliviará sua garganta sufocada, só isso. Continuará sem seu lugar-perfeito, mas terá uma chata realidade transcrita no papel.

(Sem revisão.)

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Worth it

Nunca fui lá uma pessoa muito ciumenta. Não mesmo. Acho ciúme um sentimento estritamente necessário, mas com o qual a minha consciência não foi contemplada. Porém, acho digno, depois de termos conhecimento de que não sou ciumenta, compartilhar um fato que descobri há pouco tempo: um único rapaz, até hoje, foi capaz de despertar em mim uma sensação de poder, de cuidado, possessão, de "é meu" e "saia de perto". Passaram-se quase 2 meses desde a última vez que ficamos, e posso dizer, estou orgulhosa. Ele nunca foi bom para mim; o que não significa que não tenha tentado, ou que eu não tenha gostado muito mesmo dele. Aquele gnomo infeliz disfarçado de cantor americano. Um pentelho com cara magricela, cuja única coisa que indicava sua idade era seu RG. Nem seu tamanho nem seus trejeitos o entregavam como adulto. E eu me apaixonei. Por esse menino-homem tão absurdamente obsceno e errado, com o qual eu jamais devia ter me metido. Ele mexeu comigo. Mexe comigo até hoje. Seu nome ainda me interessa. Seu cheiro eu ainda sei de cor. Sei suas camisas e seus tênis, e sei como gosta de se divertir. Me lembro de cada detalhe que aprendi, e o que não deu tempo de aprender, bom, não era importante. Sei sua data de aniversário, seu nome completo, e o meu nome com o sobrenome dele. Ele me marcou. Deixou uma cicatriz grossa e funda no meu pequeno coração, aquele que eu neguei tantas vezes e que quando finalmente entreguei, foi massacrado pela vida e pelas circunstâncias. Mas mesmo com a dor, vou ser sincera: foi bom. TUDO. Cada segundo, cada milésimo de segundo, cada risada, cada sorriso, cada beijo, cada suspiro, cada respiração. Valeu a pena.

sábado, 26 de novembro de 2011

Esquecimento

Eu falei durante muito tempo sobre não desistir. E eu não desisti. Ah, eu aguentei. Eu juro, fui até o fim. Agora, vejo que o tal fim não é realmente o fim de tudo, mas o fim de uma parte, de uma época, de um período. Foi longo e divertido, desgastante, valeu a pena. Agora, já bem mais madura do que eu era (o que não significa madura de fato, veja bem), me surpreendo com as minhas próprias ações. Tanto tempo me forçando, e pra quê? Valeu alguma coisa? Eu ganhei alguma coisa? Não. Não adiantou nada, as coisas continuam iguais. Os sentimentos, as sensações, tudo igual. Nada mudou, nem em relação a mim, nem em relação a nada. O que eu achava que era errado de se fazer com alguém que se ama continua sendo errado. A relação amizade/amor continua sendo difícil, as pessoas continuam me decepcionando e me entristecendo, eu continuo me fazendo de idiota, ninguém parece notar a falta de cor nos meus olhos chateados, e tão pouco parecem ligar. Não é uma reclamação, não - já é tarde demais para reclamar, já não se pode fazer nada à respeito. É uma constatação, é um veredicto. Esquecimento é o nome do buraco em que eu mesma me enterrei. Eu não tenho o poder de magoar alguém como alguém pode me magoar, então eu vou só me aquietar, ficar no meu buraco e no meu canto, e silenciar. Se vão ligar, nem eu ligo. Se vão notar, eu não notei.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Desabafo

Eu não consigo respirar. Dói. Pode anotar aí: depois do choro contido, a respiração fica dolorida. Se as lágrimas não saírem, bloqueiam todo o seu corpo, e a sua respiração fica atrapalhada; seus batimentos ficam desajustados e você não consegue pensar direito.

Não diga outra vez, por favor, que a culpa é minha.

Eu já não suporto mais essa sua voz, que um dia foi tão doce, me dizendo o quão petulante eu sou. Esfregando na minha cara que tudo que eu faço fica ruim, e que é só eu entrar na conversa que tudo vai pelo caminho errado. Pára.

Pára de me bater, de me machucar sem me tocar. Pára de fazer de mim um fantoche para qualquer que seja esse seu jogo macabro, por favor. A culpa não é sua, tá bem. Mas ela também não é minha. Não toda, não é? Por favor, me poupe. Só um pouco. Me dá uma brecha para respirar. Mas eu não consigo respirar. Então me dá uma brecha para pensar... mas pensar também está difícil.
Então me dá uma brecha pra eu me acalmar. Por favor. Me deixa em paz, só um pouquinho. Me deixa quieta no meu canto, por que eu sempre tenho que estar no meio de tudo que você planeja? Não pode só uma vez me deixar fora de tudo? Eu sei que sou importante na sua vida, uma das peças principais, mas por favor, me deixa de fora. Não suporto mais essa pressão.

Eu não quero nada disso. Mas isso não quer dizer que eu não te amo.

domingo, 13 de novembro de 2011

Espera

Não precisa ter vergonha do que vão pensar.
Venha e diga que você queria estar aqui comigo.
Eu posso te esperar, mas não para sempre
nem por muito tempo, nem por pouco tempo.
Eu posso esperar até as rosas se fecharem,
talvez até o pôr-do-sol aquarelar a cidade.
Posso esperar até os passos cessarem
e a passarela ficar quieta.
Posso te esperar, mas é com medo, com receio,
com preguiça. Uma grande preguiça.
Se você não vier, bom, saberei que foi em vão
que me sentei no chão duro e frio e esperei.
Esperei indefinidamente
eternamente
erroneamente
inteiramente.
Mas quero que você venha.
Acredito que você vai vir, afinal, não foi em vão.
Nada é em vão quando se trata do que você diz
com o coração para aquele que você ama.
Ama? Vá lá, gosta. Atrai, seduz, cultiva.
E enquanto penso, eu te espero. Espero, espero.
Espero até a Lua me tingir de branco,
até não ser necessário poste, porque as estrelas
iluminam cada ruela dessa cidade aquarelada.
Vindo de você, não vou me surpreender com nada.
Com a sua chegada, vou me alegrar, e com a sua ausência
vou alimentar uma esperança sem base, fundação,
uma esperança que vem da minha essência.
Mas se lembre do mais importante de tudo,
lembre-se de que eu esperei porque me importo.
Lembre do que você me disse, dos olhares, dos abraços.
Não precisa ter vergonha do que vão pensar.
Venha e diga que você queria estar aqui comigo.
Eu vou te esperar.

Aquela noite

Observe enquanto a luz
travessa atravessa a janela.
Observe a leveza dela
e o bom-dia que ela traz.
Pelas cortinas cor-de-dia
ela passa e ilumina
o escuro que salva a lembrança
daquela menina.
Engana-se quem pensa que ela não pensa,
que não tem consciência.
A vida é apenas uma simples
sequência de fatos que importam.
A vontade de repetir a dose
- fora de controle -,
ela engasga ao lembrar daquela noite.
Sorriu, conformada,
afinal, para sempre será lembrada
aquela determinada noite
onde o seu sorriso valia
mais que qualquer coisa.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

No escuro

Estou deitada. Completamente torta, com os braços abertos; remexo os pés e os enfio debaixo do edredom. Aspiro fundo e sinto meu próprio cheiro, uma mistura de perfume doce, suor e preto-e-branco. Dá pra entender? As portas estão fechadas, e assim me sinto mais segura. As janelas estão com as travas baixadas e os vidros refletem a pouca luz que vem do monitor. Estou cansada. Devia me levantar e dobrar as cobertas debaixo de mim, mas existe praticamente uma força jedi me mantendo presa ao colchão. Suspiro e sorrio para o escuro. A que nível chega minha preguiça? Movo meu corpo mais para a esquerda; aparentemente, meu lado da cama é o direito, mas estou quase caindo. Olho pela janela e forço meus olhos, já ajudados pelos óculos de lente grossa, a enxergar alguma coisa, mas a penumbra é profunda e o vidro reflete minha própria imagem. Algo chama minha atenção para o escuro e é frustrante não conseguir ver. Não é um som, ou luz, ou sombra - mesmo na escuridão. Apenas o nada, silencioso e pacato como sempre, atraindo meus olhos. Tenho medo de olhar intensamente e me assustar com qualquer movimento, mas não controlamos a intensidade de ato algum. Fixo o olhar num ponto qualquer e espero. Espero um ruído, espero uma luz repentina, espero qualquer coisa, mas nada vem. O uivo do vento pela fresta da janela me tira da minha viagem noturna, e me toco de que são quase três da manhã e eu ainda estou aqui, analisando o nada que há para ser analisado. Fico quase contente em não conseguir dormir; isso significa que quando o sono vier, será profundo, manso e me afogará em escuridão. Decido finalmente por fechar o notebook inutilmente aberto ao meu lado; a música de fundo eu nem conheço. Devia me levantar e trocar de camiseta, mas também há preguiça demais pra isso. Jogo o celular para algum lugar que não embaixo das minhas costas, fecho o computador e viro-me para a parede. Um vento muito frio passa pelo mínimo espaçamento da janela, e tenho certeza de que ele traz o sono. Fecho os olhos (ainda maquiados) e respiro fundo.

domingo, 30 de outubro de 2011

Carente?!

Vai me dizer que você nunca "chorou" por um abraço? Aquela vontade de sentir carinho, de ser beijada, de ser abraçada. Aquele momento em que você tem um surto de realidade e percebe que está sozinha - e a palavra ecoa na sua cabeça inúmeras vezes, tira seu sono, acaba contigo. Aquela sua vontade incontrolável de encontrar alguém pra te dizer algo bonito, algo que fofo. Um único segundo em que você tem certeza absoluta de quem não vai suportar nem mais um minuto sem ter o tal namorado. Sim, você já passou por isso. Em algum momento da sua vida, talvez tão curto que você nem tenha notado, talvez tão longo que tenha te machucado. Talvez não tenha chegado ainda, mas vai chegar.
Carência é uma palavra que me assusta. Quando reflito sobre o significado dela, entendo que é a dependência plena e aceita de outra pessoa. Às vezes apenas do tratamento que a pessoa te dá. Carência é um problema muito, muito sério na vida de qualquer pessoa.
Posso dizer que a carência já me levou a correr atrás de quem não valia a pena. Já me fez chorar e sorrir e comemorar pequenos sinais de que havia interesse, para que então, em pouco tempo, eu quebrasse a cara. Típico. Mas não vamos perder o foco.
Se você nunca se sentiu carente, precisando de um abraço, de um beijo ou de qualquer carinho, você não é humano. Infelizmente eu tenho certeza quando afirmo que todo mundo já esteve carente.
Não importa se por pouco tempo ou se por muito tempo, não importa mesmo. A carência é um sentimentos cretino que mata. Mata a alma, esperança, destrói o coração e o psicológico.

Mas não tem problema. Basta procurar, procurar com vontade, que você vai achar alguém pra suprir a sua necessidade de amor. Nem que seja só por alguns minutos, talvez uma hora.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Superando

Perguntei-me inúmeras e seguidas vezes o que estava havendo. Quando o vi na rua, não passada nem uma semana da última vez em que ele cruzou não minha visão mas meus pensamentos, não tomei um choque. Não tremi, não gaguejei, não pensei no meu cabelo nem na impressão que passava a minha camiseta coberta pela minha blusa de lã. Só o vi passar, e ainda (surpreendendo-me mais ainda) tive até a audácia de gritar: "E aí, Jão?". Recebi um olhar assustado, e ele pareceu confuso. Sorriu de volta e disse: "E aíííííííí". Não consigo entender como seu sorriso torto e o jeito como só um lado dos seus lábios levanta conseguiam mexer tanto comigo. Tão lindo. E agora, tão comum. É óbvio, ele continua sendo lindo. Mas não tanto quanto era há uma semana atrás. O efeito passou, como previram as sábias amizades que cultivo. "É passageiro", ouvi com frequência. "Logo, logo, você supera." Foi mais logo do que imaginei que seria. Foi logo mesmo. Rápido como um tiro. Rápido como começou.

O grande truque foi ignorar. Eu ignorei o quanto pude. Fui até mal-educada. E ele continuou mandando mensagens. Continuou me dando bola. Continuou correndo atrás. O segredo era esse, então?, finalmente compreendi. Deixá-lo sofrer? Sim. Simples assim. Como superara o outro (leia o primeiro parágrafo), estava disposta a superar este também. E consegui. Respondi as mensagens até onde achei seguro. Deixei-o imaginando por que estou fugindo, e quando ele questionou, "não compreendi". Fugindo?, sorri, inocente como nunca. Eu não estou fugindo, pelo amor de Deus. "Mas você não fala comigo, mal me responde" ouvi. Em silêncio, ri. Em meus lábios, um sorriso de aprovação ameaçou condenar meu jogo. Mas eu o segurei e escancarei a boca: "Como assim? Eu vivo correndo atrás de você!" Pronto. Esfreguei na cara dele. Disse, em poucas palavras, tenho certeza, que enquanto eu corria atrás dele ele me ignorava, e que provasse do próprio veneno agora.
Faz três semanas que superei o primeiro, e duas que estou brincando com o segundo. Gosto do modo como o Destino joga esse jogo chamado Vida. Deixa que soframos e então, quando imploramos pela desistência, ele nos deixa vencer uma rodada.
Estou me preparando para a próxima.
Será em breve.

domingo, 16 de outubro de 2011

Admita

- Se quer tanto falar com ele, vá logo!
Esse é o meu coração. Está numa discussão terrível com a minha cabeça desde que eu vi ela falando com ele. Fiquei com os nervos à flor da pele, e mandei meu corpo relaxar. E daí? Por que tanta preocupação? E daí se ela for falar com ele? O que diabos eu tenho a ver com isso?
- Você quer que ele seja só seu.
Mentira.
- Sabe que não.
Mentira.
- Vá logo, pare de fazer frescura.
"Fresca"? Isso me lembra alguma coisa em relação à um apelido que ele me deu. Algo de que rimos um pouco, e algo que ficou guardado na minha memória.
- Se você não for falar com ele...
Ignoro com veemência a voz dentro de mim. Só de pensar que ele está falando com outra menina, meu coração bate forte, e posso ouvi-lo por detrás dos meus ouvidos. Cale a boca, é o que tenho vontade de dizer. Mas não quero que se cale. Quero ouvi-lo batendo forte, quero que bata forte por causa dele. Eu quero. Mas não quero, também. Mas me importa, de qualquer forma. Isso faz qualquer sentido?!
- Você é louca - sussurra minha cabeça.
Talvez. Não tenho certeza. Provavelmente, sou um pouco insana. Mas nada sério demais.
- Ainda acho que você devia ir até lá e falar com ele.
Cale-se.
- Tudo bem.
Silenciam-se todos.
Um milagroso minuto de silêncio absoluto invade o quarto.
Então meu coração volta a bater com força.
E se ele à responder?
Por um instante, depois de pensar sobre como ele poderia dar atenção à outra como nunca deu à mim, meu coração, antes tão loucamente barulhento, quase se cala.



TUDO BEM, TUDO BEM, EU O AMO.
Prendo a respiração, mais surpresa do que podia imaginar. Eu disse "amo"?! Não, eu não o amo. Eu gosto dele. Muito. Apaixonada, talvez. Mas não o amo.
Fico nervosa quando estamos perto um do outro, certo. Mas e daí? Eu quero saber onde e com quem ele está a todo momento, mas e daí? Eu o quero só pra mim, mas e daí?
Eu não posso.
E essa é a minha dor.

Batimento

Coloquei a mão sobre o peito dele. Seu coração batia acelerado. Seria a situação? Ou seria apenas qualquer outra coisa sem relação comigo? Talvez fosse o medo. O freio de mão estava meio fraco, talvez ele só estivesse preocupado com a possibilidade do carro rolar barroca abaixo. Mas dentro de mim, dentro do meu coração (que, diga-se de passagem, mantinha os batimentos uniformes, não estava acelerado) existia uma chama de esperança dizendo que era por minha causa. Era por mim que esse coração batia acelerado. Mas essa chama se apagou. Eu mesma fui até lá e, com um pouco de saliva nos dedos, apaguei. Não foi difícil. Eu já sabia que ele não me achava especial. Ele já tinha me dito isso. Eu não precisava de confirmação. E tive vergonha de perguntar. Também, não sei bem como soaria a pergunta. Que pergunta?, pensei. Não sei nem como perguntaria.
"O que foi?", ele sussurra, atrapalhando meus pensamentos.
"Nada". Ah, tão clichê.
"Você tá pensando em quê?", ele pergunta, as mãos descansando na minha cintura.
"É sério, nada", insisto. Como se ele não me conhecesse.
Então ele começa com aquela mágica de me relaxar, massageando minhas costas. Encosto a cabeça em seu ombro e suspiro.
"Conta pra mim o que foi".
"Eu..."
Não tenho coragem de continuar. Ele ainda massageia minhas costas quando corro para os seus lábios numa tentativa surda de cortar o assunto. Agora sim meu coração está acelerado. Mas ele jamais saberá o porquê; nem eu sei.

sábado, 15 de outubro de 2011

Uma doença

Sabe como eu acordei hoje? Não foi a chuva batendo se não insistente, brutalmente na minha janela, mas os três bipes do meu celular avisando que a bateria já era. Nunca levantei da cama com tanta rapidez! Corri através do quarto só de camiseta, busquei o carregador e o pluguei na tomada, coloquei o celular em cima da mesa e voltei correndo para cama. Esfreguei os olhos e finalmente me lembrei de colocar os óculos. Olhei para fora da janela pela primeira vez no dia, e me deparei com o Apocalipse. Faltou só estar trovoando para eu ter certeza de que o mundo ia acabar. Me encolhi debaixo dos três cobertores e rezei pra não ter que sair daqui até achar seguro viver de novo.

Mas eu esqueci de contar pra vocês a novidade: sarei. Não completamente, porque infelizmente não é uma doença só que me assola, mas da principal, e posso dizer, da pior delas, eu sarei. Ou vocês não sabiam? Eu estava sofrendo de burrice consciente aguda, que eu particularmente acho que é a pior doença de todas. Pra quem não sabe, eu vou dar um exemplo pra explicar.
Lá estava eu, vivendo minha vida, quando apareceu um determinado indivíduo e tomou de mim o meu controle mental e o controle do meu coração. Eu estava sim apaixonada, embora lutasse até o fim do mundo dizendo que não. Mas todos sabiam; menos ele, acredito. Nunca namoramos, nem perto disso! Apenas ficávamos com uma frequência admirável. Dois meses de luta, pausa, volta, vontade, eu aqui sofrendo, ele lá... voltou com a ex. É, ele voltou com a ex. Já fazia umas semanas que a gente não ficava direto, mas porra, tinha que voltar com a namorada?! Tudo bem, respira, nada demais, você não gosta dele mesmo (reticências).
Aniversário dele, o presente? Eu. Mas e a namorada? Sei lá da namorada. Se tinha, se não tinha, eu estava tão preocupada quanto ele parecia estar.
Passa uns dias, descubro que ele terminou com a namorada. A notícia põe pilha num sentimento que eu tô tentando deixar no fundo do baú. Tô conseguindo, SAIA JÁ DAQUI, ESPERANÇA. Vai atormentar outro coração.

E agora eu tô aqui, contando pra vocês que meu tratamento anti-ele funcionou. Arranjei outro problema; relativamente menor, até. Mas o que importa é que agora só falta curar essa bola presa dentro da minha garganta. Então estarei completamente curada.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Boa-noite

Os latidos dos cachorros lá na rua ecoam dentro da minha cabeça e correm através do meu corpo. Estou tremendo. Um bom café curaria minha ânsia, mas não há o pó, nem água, nem nada. Estou na cama, olhando fixamente para o teto. Nas linhas longas das vigas da madeira velha, tento encontrar uma solução para problemas novos. Ouço fogos de artifício lá fora. O barulho da explosão que imagino ser colorida percorre cada ligação peptídica do meu corpo, me fazendo tremer mais. Viro-me de bruços e enterro o rosto manchado de rímel entre meus travesseiros brancos. As marcas desse meu momento de fraqueza serão, mais tarde, lavados dali com água e sabão. Queria eu poder lavar da minha alma e coração esses sentimentos com a mesma facilidade que se lava uma fronha de travesseiro. Começo a sentir o ar faltar aos pulmões, e por um imenso e eterno segundo, penso em não tirar dali o meu rosto. Mas então eu percebo o tamanho da bobagem que estou pensando. Viro-me para cima com mais lentidão do que gostaria, afinal meu corpo não me obedece mais como antigamente. Olho novamente para as vigas de madeira: e agora? O que fazer? Continuar aqui até não aguentar mais a dor da fome no meu estômago, talvez? Ou finalmente me levantar e tomar uma atitude? Lá fora a luz diminui e é trocada por uma amarelada; os postes de luz são ligados. Já é noite. Decido por continuar na cama. Não há fome suficiente ou necessidade de atenção suficiente para me tirar da cama, agora. Inutilmente tento esconder-me debaixo das cobertas, mas não há força nos meus braços. Sinto-me fraca, mais fraca que o normal. Meus dedos tremem. Um cheiro agudo, conhecido, muito próximo atiça meu nariz. Olho para todos os lados, mas continuo sozinha. Demoro quase um segundo inteiro para perceber que isso é apenas a minha necessidade de você. Ela grita. Alto. Eu sorrio para mim mesma; meus lábios estão incapazes. Reflito sobre quão longe posso aguentar com essa minha imaginação e memória forte me fazendo lembrar à todo segundo que você não é meu. Mas agora as luzes amareladas lá fora estão mais fortes; já é tarde da noite. Não tenho opção, o dia amanhã começa cedo. Não há lágrimas para serem choradas ou gritos para ecoar. Com força sobrehumana, levanto da cama e dobro os lençóis. Enfio-me debaixo deles, e conforto minha cabeça entre os travesseiros. Aspiro com força. Talvez consiga tirar da memória mais um pouco do seu perfume, antes de dormir. Minhas forças finalmente se acabam, e meus olhos se fecham. Venha, noite, engula-me e descanse-me. Seja boa. Boa-noite.

Bom-dia

Tem uma música tocando em uma das dez mil abas abertas no meu Chrome, e ainda assim o barulho das gotas batendo na janela atrás de mim é o som mais nítido e límpido do quarto. Olho para trás para averiguar; parece que está chovendo dentro da minha cabeça, a água batendo nas minhas têmporas. Só vejo pontos brilhantes no vidro. Conto até três bem devagar. O barulho da chuva despertou alguma coisa dentro de mim. Uma dorzinha que estava dormindo, o sono leve como um algodão. Calma, calma, não se preocupe, já vai passar. A mentira mais mal contada do dia. Nada vai ficar bem. Não agora. Vai demorar. Olho para o celular jogado do outro lado da cama. Faça algum barulho, peço em silêncio. Traga uma mensagem, brilhe, grite, converse comigo, não me deixe sozinha. Tem apenas uma mensagem que eu quero receber. Ela já chegou, mas foi ontem à noite. Eu quero outra. Quero uma resposta bem-humorada, quero um sinal de saudade. Nada. E não vai chegar. Eu já sei, já aceitei. Estico o corpo, como se com esse movimento em conseguisse expulsar esse espírito de porco dentro de mim. Chuto o violão de leve. Esse sim é meu melhor amigo, jamais me abandonou nas horas de tristeza; vem em meu socorro sem pensar duas vezes, até me ajuda quando eu não sei o que fazer. Toco suas cordas com as pontas dos dedos, e um som leve e sem ritmo ecoa pelo quarto claro. Já é de manhã? Nem tinha percebido. Paro para prestar atenção, e ouço os gritos de criança pela casa. Tudo em pleno movimento. Olho através do vidro da janela: a chuva parou. Quando? Faz tempo? Deus, como ando desligada. As montanhas são verdes de novo, a neblina começa a se dissipar. Não é só de manhã, é quase tarde. Mais barulhos; um aspirador de pó brigando com grãos de sujeira perto da porta. Logo, logo alguém vem me chamar. Fecho os olhos com força e sinto os restos do rímel nos meus cílios. Preciso levantar e me preparar para o longo dia. Não tão longo, talvez. Olho para o skate no canto do quarto; hoje não, amigo. O dia está feio demais, você só combina com dias de sol. Uma música ainda toca em algum lugar no computador. Estico o corpo mais uma vez, dessa vez só para acordar; tenho o cuidado de desviar do violão. Certo, então, que comece o dia. Bom-dia.

And I'm back, ladies and gentlemen

Desculpe. Por todo o tempo em que estive fora, pelo semi-abandono.
Agora eu voltei, e voltei pra ficar. Comecei com essa folia de blog prometendo NUNCA fazer o que acabei de fazer, então, arrependida, peço que me aceite de volta, BdA.

Vou voltar com meus textos, comentários, fotos, e o que mais me der na telha. Com músicas, semi-composições, ou só um pensamento e outro. Meus poemas, esses vão voltar com certeza.
Então aceite-me de volta.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Uma noite

Foi a melhor noite da minha vida.

Ou não. É, não posso dizer isso com certeza, mas posso dizer (sem). Não posso garantir que não houveram ou ainda haverão noites incomparavelmente melhores, mas por hora, esta noite mantém o título.

Éramos muitos. Digo uma dúzia, ou mais. Ninguém desconhecido, ninguém apenas conhecido - éramos amigos, reunidos para uma noite de risadas e diversão. Mas ninguém esperava que acabássemos (ou ainda, começássemos) num sítio, sentados no porta-mala aberto de um Corsa prateado que fedia a cigarro; ou ainda, segurando a garrafa de outra pessoa. Mas foi assim. Com o limão em uma mão e o copo em outra, descobrimos sabores provavelmente não experimentados ainda. Caminhamos de volta à civilização já com baixas: duas ou três almas ocupavam corpos com pernas bambas e sorrisos imbecis pregados em suas faces. Uns riam da infelicidade, outros ficavam sérios, sabendo que seriam eles os "tratadores" daqueles que já não podiam mais andar por si sós. Não que alguém fosse reclamar. Dividiríamos a tarefa.

Mas a (primeira) guinada da noite aconteceu logo na sequência, com uma garrafa colorida e outra, ainda, mais escura. Muitos copos para poucos lábios, e telefones foram sacados. Voltem aqui, Estamos no aguarde, Tragam de volta. Os que estavam já há muito na frente voltaram ao ponto de partida - ou quase. Com alguns minutos de diferença, os grupos dispersos voltaram, e ali recomeçamos a noite. Risadas vão diálogos vêm, aconteceu o primeiro desastre: um estômago despreparado recusou mais um copo verde e doce. Uns correram para ajudar, outros para ver e rir. Duas almas ajudaram a levar a terceira para casa, onde lá teria permanecido se mais um copo tivesse decido goela abaixo. Mas não desceu. Minutos se passaram, e com o incidente já esquecido, migraram de volta ao lugar os outros haviam quase chegado pouco antes. Agora estávamos separados; uma dupla para trás, um trio perdido dois quartetos à frente. Separados, mas sempre juntos. Nisso ainda era o primeiro dia. Passou-se o tempo, outros se juntaram ao agora novamente reunido grupo. De uma dúzia, pulou para duas, sossegado. Ninguém queria ir, ninguém queria desertar e perder o que ainda estava se preparando para vir.

Rixas antigas e bizarras foram discutidas e finalizadas (ou quase) naquela noite. Sonhos foram realizados; desejos, atendidos. Quem queria, podia ter. Não havia "não". É, não havia um gênio da lâmpada, mas nós todos nos sentíamos mais fortes, e mais poderosos, como se não houvessem limites. Então, naquela noite, todos fomos atrás do que queríamos. Alguns não conseguiram (pobre rapaz...) mas uns outros poucos sortudos acabaram saindo do grupo não como desertores, mas como pessoas ocupadas em alimentar a própria felicidade.

O arrependimento não estava nos pensamento de ninguém.

Os abraços não eram quentes, mas reconfortantes. Aqueles poucos que voltariam sozinhos, ganhavam uma carona na caranga de outro solteiro. Foram dois, talvez três casais, nada demais. O engraçado está no fato de, depois dos acontecimentos relatados, um ouvinte disse: Mas aquelas que não beberam foram as que acabaram com companhia? Sim, exatamente isso.

Posso contar a experiência de uma garota que lá estava, os lábios roxos de frio, as pernas tremendo, a felicidade borbulhando coração adentro.

Esse piercing é feio. Surpresa. Esse? É, esse. Não gosta dele? Não. E de qual outro não gosta? Pensa. Deste. O da boca? Sim. Por quê? Respiração. Ele me atrapalha. Silêncio. Sorrisos.

De mãos dadas, começaram a caminhar. Os dedos, gélidos, se entrelaçavam de uma maneira mais desengonçada que um pássaro bicudo andando em quatro patas, mas aqueles estavam felizes. A primeira frase que ela soltou foi: Isso está meio gay. Ele riu, ingenuidade genuína para com a garota. Talvez, respondeu.

Ei, me dá um chiclete.
Pausa.
Só tenho este. Masca.
Masca.
Masca.
É esse mesmo que eu quero.
Pausa.
Sorrisos.
Braços.
Lábios.

E a noite terminou bem para os amantes; melhor ainda para aqueles que não precisaram dizer adeus. Aqueles que mal se aguentavam em suas pernas sorriam como se não houvesse motivo para qualquer infelicidade, como se aquela noite fosse durar para toda a eternidade.
E durou. Em nossas lembranças. Aquela noite ainda está viva em cada uma das almas daquela primeira meia dúzia. Aquela que começou no sítio, para terminar em abraços.

Essa é a história. A verdadeira. Qualquer outra coisa, é invenção.
Foi assim que aconteceu.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Eterno


Vou contar uma história pra vocês: é uma história curta e rápida sobre uma turma gigante de um monte de pessoas problemáticas que sofreram durante um ano inteirinho para juntar alguns milhares de reais para poderem fazer a viagem dos sonhos. E a viagem deu certo. Houveram muitas lágrimas, mais até do que é agradável lembrar. Houveram unhas quebradas, roupas perdidas, chinelos esquecidos, jantares ridículos e muitas risadas. Mais que isso, houveram momentos singulares onde apenas olhares disseram tudo. Essas pessoas não estão todas juntas como estavam - uma pequena fração da alcateia desertou. Mas mesmo os desertores ainda fazem parte da história. Foram embora, sim, mas continuam dentro de quem ficou. Continuam aqui dentro de nós, os sobreviventes, os veteranos, e nós nos lembramos deles com saudade e um pouco de raiva pelas pastas de dente gastas à toa na privada. Grande parte deste escrito vai fazer muito mais sentido para quem estava lá, mas não importa.
Foi eterno. Mais que eterno. Éramos nós, juntos pela primeira e única vez.

quarta-feira, 9 de março de 2011

É tendência?

' Coleção Outono/Inverno 2011, Gucci

Blazer estilo masculino, D&G

Algumas pessoas leram o meu post sobre o verão 2011, onde falei sobre como o vintage estava vindo com força total e citei alguns itens que, verdade seja dita, vieram com tudo, como a estampa floral, saia de babados, colares mais delicados, etc.
Mas agora quem vem aí é o inverno! E pelo jeito, as tendências são um pouco variadas. Tem gente que está falando em casacões peludos e blazers, tipo a Gucci, e gente falando de Oxfords femininos, tipo a Werner Calçados (marca nacional). ' Oxford feminino, Werner Calçados

Pensando melhor, não é tão variado assim. O inverno vem com uma pegada masculina, mas não é por isso que deixa de ser uma escolha. A mulherada ainda está se adaptando ao sapato mais masculino, à calça boyfriend, a qual eu particularmente não sou adepta, mas enfim. A moda está voltada para o vintage, e agora está adicionando elementos masculinos. O que será que vai sair dessa mistura? Eu acho que vai dar certo, e você?

Mas mudando de roupa para acessório... Todo mundo já está ligado de que a nova moda vem nos colares de pingentes e nos anéis, não é? Tem para todos os gostos e estilos. Desde coisas mais delicadas, como chaves, coroas e corações, até as mais punk-rocks, tipo caveiras e ossos. Minha próxima aquisição vai ser um anel de coroa, estou doida por um! Mas como eu disse, tem pra todos os estilos.

Anel Coração e Coroa, Toda Doce

Mas depois eu falo com calma dos acessórios, e das roupas também. Esse post aqui é só pra vocês terem uma noção do que eu, particularmente, estou apostando nesse inverno. E quais são as roupas e acessórios que vocês acham que vão vir com força nesse inverno?

O Retorno

Faz meses que eu não entro aqui. Faz meses que eu não posto aqui. É vergonhoso, sinceramente. Eu criei esse blog e ele era o meu xodó, como assim eu simplesmente o abandonei? Não faz o menor sentido! Mas finalmente acabou essa época negra da minha vida.
Vou tentar postar diariamente; vai que ainda sobrou algum leitor fiel, doido por um pouco de agitação no nada caótico mundo dos blogs.
Portanto estou voltando. Com resenhas, com moda, com fotos!
Vamos ver quanto tempo vai durar essa minha animação =)
Fiquem por aí.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Para haver um, precisa-se do outro

Para haver Mal, precisa-se do Bem,
acompanhe-me e entenda também.

Para haver dor, precisa-se da paz,
para haver certeza, precisa-se do "tanto faz".
Nenhuma verdade é verdadeira se não houver mentira,
e as estrelas não brilham sob a luz do dia.
Então para haver o brilho das estrelas,
precisa-se da escuridão.
Para sentir a companhia,
precisa-se conhecer a solidão.
Para se sentir rico, não precisa do ouro,
precisa é conhecer a pobreza do povo.
Para ter o feio, precisa-se do bonito,
e para haver cheio, tem que haver vazio.
Para ver um magro, tem que conhecer um gordo.
Para se sentir cansado, tem que conhecer o conforto.
Para sentir fome, você tem que conhecer boa comida,
e para sentir frio, tem que conhecer
a sensação de se estar aquecida.
Para sentir um bom perfume, tem que conhecer o fedor,
para haver silêncio, tem que ter o rufar de um tambor.
Para haver doçura, tem que haver aspereza,
e se há grosseria, há de haver delicadeza.
E para haver entendimento, tem que haver ignorância,
para se poder crescer, precisa-se ter tido uma infância.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Reviravolta

Sei lá. Existe dentro de mim um turbilhão incontrolável de emoções brutas. Eu mesma não sei o que fazer. O que é quase irônico, porque sou eu quem sempre sabe o que fazer. De qualquer forma, eu estou à beira de um ataque de nervos. Quase pirei há alguns dias, andando de carro; tive um ataque. Eu precisava sair. Sair de dentro do carro, sair de onde eu estava, sair. Precisava respirar o meu rotineiro ar das montanhas, e precisava sentir os pulmões funcionando, os bronquios dizendo que estava tudo bem. Eu não consigo ficar em lugares fechados. Claustrofóbica? Talvez. Mas acho que não, sinceramente. Não me parece muito eu. Não faz meu gênero, se é que me entende. Ter pavor de simplesmente estar dentro de um lugar não faz mesmo o meu gênero. Mas eu ainda estou preocupada com essa minha reviravolta estomacal.
Não importa. Estou tendo ataques, não tenho ninguém com quem falar sobre isso, estou aguardando silenciosa e amargamente pela época em que isso vai passar e acima de tudo, eu estou perdida no meu próprio silêncio.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Chance

Eu sabia que jamais teria outra chance. Você passou por mim, e eu me recusei a olhá-lo nos olhos. Como pude? Você me olhou, e os meus olhos não precisaram encontrar os seus para sentir sua doçura pairando sobre mim, um pedido de desculpas implicito no sorriso colado em seu rosto. Seus lábios, e eu nunca havia percebido, eram realmente rosados. Engraçado. Digo, engraçado eu nunca ter notado.

Você seguiu na direção contrária a minha. Como num filme, a multidão vinha contra mim, uma onda de massa corpórea empurrando-me de volta ao lugar do qual é queria desesperadamente fugir. Mas então, e eu finalmente percebi, era pra onde eu devia ir, não? A multidão. Seguir o fluxo... seguir você. Te encontrar. Falar com você. Te dizer o que pesava meu corpo e trancava minha garganta. Palavras simples; palavras desnecessárias. O ato sim seria importante. Eu me virei e, decidida como sempre, corajosa como nunca, comecei a andar. Meus passos pareciam curtos demais, as pernas pesadas demais, e eu não conseguia te encontrar. Mas você estava lá, andando no seu ritmo mais elaborado, observador da vida ao seu redor. Com a latinha numa mão e a outra no bolso, notei o quão pequeno você é. Engraçado, eu também nunca havia notado isso.

Eu caminhei. Minhas pernas de repente ficaram leves como penas, meus passos rápidos como o vento, e a minha coragem diminuiu. Eu não vou me humilhar de novo, pensei. Mas vale a pena. Estendi o braço e meus dedos roçaram seu ombro. Não sei se você apenas não sentiu, ou se ignorou, mas eu tive que dar mais um passo e puxar seu ombro. Com um movimento leve, virei você para mim. Mas se eu olhasse seu rosto, aquele olhar matador, eu perderia a coragem, e sairia dali apenas, correndo. Então eu puxei seu rosto, dei mais um passo, e nossos corpos se colaram. Seus olhos pararam de procurar os meus e nossos lábios se tocaram. Mas quase no mesmo instante, eles se separaram. Você virou seu rosto, e sua boca agora procurava meu ouvido; você murmurou alguma coisa. Poucas palavras, que eu nunca vou esquecer. Bá, não me entenda mal, eu quero mesmo ficar com você, mas eu tenho medo. Medo?, perguntei. É, medo. Medo de perder você, de perder a amizade que a gente tem. Primeiro, eu pensei: ele quer me dar um fora de uma forma gentil, cool. Depois, pensei: o filho-da-puta está me dispensando. E então caí em mim: ele estava falando sério. Eu não conseguia me lembrar de quantas vezes você dissera que me amava, e que eu não fazia idéia do que eu significava para você. Por um milésimo de segundo, imaginei se você estaria falando sério, todas aquelas vezes, mas nem precisei pensar demais. Eu já sabia. Você estava.

A minha noite acabou ali, quando você me deixou no meio da multidão. Ou melhor, quando eu te deixei. A última coisa que você me disse antes de eu me virar foi: me dá um tempo pra pensar. Porque a última coisa que eu te disse antes de você me dizer isso foi: você tem que confiar em mim. Nada vai mudar. E eu acreditava nisso. Eu sabia que nada mudaria. Mas você não confiou. Pediu o tempo, segurando meu braço, sabendo que se me soltasse, eu iria embora. Eu só disse - e nem sei se queria que você ouvisse -: Deixe quieto. Esqueça. E você devia ter esquecido. E provavelmente esqueceu. Mas eu não. Fiquei tão chocada por você ter resistido à mim que decidi esquecer você. Para sempre. Nunca mais pensar em você, era isso. Obviamente, eu sabia que não conseguiria. Só tentar te esquecer já doía. Fisicamente. Então eu me recolhi ao banheiro, deixei escorrerem duas lágrimas, sequei-as, sentei-me direito e esperei. O quê? Eu não sei. Mas eu esperei alguma coisa por sabe-se lá quantos minutos. Então chegaram no banheiro duas ou três das minhas amigas, minhas acompanhantes daquela noite. Eu me levantei, e fui com elas.

Não me lembro direito do que houve depois, mas me lembro de uma coisa:me lembro de ter estragado de vez a minha noite. Eu estava com as meninas, perto da saída. No meio do salão, a pista de dança. Você estava ali, paradinho, a lata provavelmente vazia em sua mão, e adivinha onde a outra [mão] estava? No bolso, onde mais?!... Ao seu lado, porém, estava uma pequena beldade: cabelos longos escuros, uma pele morena, vestido curto justo, toda linda. Você se inclinava para ela, e a cada palavra que eu te via dizer a ela, o meu coração dobrava as batidas. Eu queria ir até lá, gritar que você me pertencia, mas adivinha só? Você não me pertencia. Eu não tinha direito algum sobre você. Fixei meu olhar em sua nuca e jurei nunca mais falar sobre o que houvera, sobre o beijo roubado, sobre nós. Jurei que para sempre seria apenas eu e você. Separadamente. Mas foi uma promessa em vão, pensamentos que ficariam apenas em pensamentos, mesmo. Eu te queria demais naquela noite para simplesmente te esquecer.

A pequena beldade se foi, e demorou a voltar. Eu tinha, novamente, apenas uma chance. Uma única e solitária chance, e eu iria usá-la. Eu estava em tal situação mental que não estava apta a decidir o que era o correto, o que dizer e principalmente, como agir. Então eu só segui meus instintos mais naturais e primitivos, deixando que o destino brincasse de Deus. Caminhei decididamente até você, mas juro por tudo que há de mais sagrado, eu vacilei. Eu hesitei. Mas continuei, porque eu não medi as consequências naquela noite. Cheguei ao seu lado, e meu braço, que pendia ao meu lado, podia muito bem ter sido colocado ao redor do seu pescoço, como eu sempre faço quando te vejo, mas não. Eu não quis seguir o protocolo, e fingir que nada tinha acontecido. O meu braço ficou ali, ao meu lado. Então eu me inclinei sobre, tentando ao máximo não tocá-lo, e falei no seu ouvido: "Era só você ter dito que havia outra menina." Pronto. Eu tinha feito. Estava pronta para girar na ponta dos pés e sair dali antes que me desse conta do meu erro, mas você gritou de volta: "O quê?" Ah. Aaaaah. Eu ia ter que repetir? Pois bem, agora já está feito, pensei, satisfeita. "Era só você ter falado que tinha outra garota." Engraçado como eu me lembro exatamente do que eu disse. E-xa-ta-men-te. Quando terminei de falar, ele se virou para mim e eu jurei que ele ia, sei lá, fazer alguma coisa. Mas ele não fez. Ele me mandou um olhar matador de cachorro-sem-dono e disse: "Bárbara, não tem nada a ver." Ah, claro. Era claro. Eu sacudi a cabeça, e saí de perto. Fui para junto dos meus amigos descomplicados e fáceis, fugi do que eu queria. Eu não me arrependo, sabe, mas eu... Não sei. Sinceramente, eu não sei.
Tudo que eu sei, foi que a minha noite acabou por ali. E as lágrimas vinham, mas eu não as deixava escapar.