quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Bom-dia

Tem uma música tocando em uma das dez mil abas abertas no meu Chrome, e ainda assim o barulho das gotas batendo na janela atrás de mim é o som mais nítido e límpido do quarto. Olho para trás para averiguar; parece que está chovendo dentro da minha cabeça, a água batendo nas minhas têmporas. Só vejo pontos brilhantes no vidro. Conto até três bem devagar. O barulho da chuva despertou alguma coisa dentro de mim. Uma dorzinha que estava dormindo, o sono leve como um algodão. Calma, calma, não se preocupe, já vai passar. A mentira mais mal contada do dia. Nada vai ficar bem. Não agora. Vai demorar. Olho para o celular jogado do outro lado da cama. Faça algum barulho, peço em silêncio. Traga uma mensagem, brilhe, grite, converse comigo, não me deixe sozinha. Tem apenas uma mensagem que eu quero receber. Ela já chegou, mas foi ontem à noite. Eu quero outra. Quero uma resposta bem-humorada, quero um sinal de saudade. Nada. E não vai chegar. Eu já sei, já aceitei. Estico o corpo, como se com esse movimento em conseguisse expulsar esse espírito de porco dentro de mim. Chuto o violão de leve. Esse sim é meu melhor amigo, jamais me abandonou nas horas de tristeza; vem em meu socorro sem pensar duas vezes, até me ajuda quando eu não sei o que fazer. Toco suas cordas com as pontas dos dedos, e um som leve e sem ritmo ecoa pelo quarto claro. Já é de manhã? Nem tinha percebido. Paro para prestar atenção, e ouço os gritos de criança pela casa. Tudo em pleno movimento. Olho através do vidro da janela: a chuva parou. Quando? Faz tempo? Deus, como ando desligada. As montanhas são verdes de novo, a neblina começa a se dissipar. Não é só de manhã, é quase tarde. Mais barulhos; um aspirador de pó brigando com grãos de sujeira perto da porta. Logo, logo alguém vem me chamar. Fecho os olhos com força e sinto os restos do rímel nos meus cílios. Preciso levantar e me preparar para o longo dia. Não tão longo, talvez. Olho para o skate no canto do quarto; hoje não, amigo. O dia está feio demais, você só combina com dias de sol. Uma música ainda toca em algum lugar no computador. Estico o corpo mais uma vez, dessa vez só para acordar; tenho o cuidado de desviar do violão. Certo, então, que comece o dia. Bom-dia.

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