segunda-feira, 8 de abril de 2024

Dear future me (3),

 Daqui uma semana completaremos nossos 28 anos. É muito ano. 

Não estamos mais estudando tanto japonês, mas nos arriscamos um pouquinho no russo e aprendemos palavras em árabe com a vizinha do sacolão, lá do apartamento antigo. Amamos idiomas, mas nos falta tempo — e um pouco de organização.

Vim ler nosso texto dos 22 anos, e quanta coisa mudou, de lá pra cá... mamãe está bem, não está mais presa, e a sentença acaba ano que vem. Isso é um alívio imenso, mas além disso, nossa relação está muito, muito diferente do que você se lembra. Nosso cordão umbilical foi cortado e agora somos uma pessoa por completo, com nosso próprio emocional, nossos próprios problemas e nosso próprio amor.

Vencemos a faculdade, fique tranquila. Foi difícil, penoso mesmo, mas você venceu. Nos formamos no ano passado e decidimos tentar um mestrado — e deu certo. Estamos cursando a Pós-Graduação em Tecnologia e Sociedade. Quando eu souber direito o que isso significa, volto pra contar, ou talvez você aí no futuro saiba me dizer. Estamos felizes, tá? É difícil, e neste exato momento eu deveria estar lendo Bruno Latour, mas senti no coração que precisava entrar em contato com a Babi do passado, e vim atrás dela.

Emocionalmente estamos bem. Bem como talvez nunca estivemos antes, Babi. Sério. Há uma paz no nosso coração e na nossa cabeça que é quase inexplicável. Os problemas são pequenos, em tamanho real, e pouquíssimas coisas abalam nosso estado emocional. Talvez todas as lições que nós vivemos tenham sido aprendidas... terapia ajuda muito. Sim, fazemos terapia há três anos. Gostamos muito da Margoth.

Amorosamente, aconteceu coisa demais nesses anos, coisas que você vai lembrar, algumas que você vai esquecer, mas no momento nós namoramos o Lucas. Você sabe quem é, tem um monte de texto sobre ele aqui. A gente ama ele demais; tanto quanto a gente sabia que deveria amar alguém um dia. Ele faz a gente feliz de uma forma genuína que talvez seja a primeira em toda a nossa vida. Um amor limpo, claro, suave, tranquilo, cheio de certezas. Lucas não promete nenhum para sempre, exatamente do jeito que a gente gosta. O que ele promete é estar aqui enquanto estiver aqui. Você sabe o que isso significa. Ele é um companheiro de vida, Babi. 

Os amigos como o Gui e o Beni (o Roger, o Luquera) se mantém, mesmo com algumas distâncias da vida adulta. Seu grupo da faculdade hoje é seu laço mais forte — o "bonde". A Mi casou, o Guguinha tá noivo, agora existe a Júlia... círculos crescentes. Amamos eles demais. A Mari foi embora pra Franca, e essa parte tá sendo bem esquisita. A Mi acabou de vir pro Brasil (ela mora na Alemanha) e foi delicioso encontrar com ela e horrível se despedir. O coração vai ficando mais mole, a gente vai dando mais valor. Saudade é constante.

Ao contrário do que você muito bem pontuou que te foi cobrado (a Babi de quinze anos tinha apenas quinze anos, coitada), eu posso dizer que alcancei a paz que você desejou pra mim. E eu desejo que a Babi do próximo texto, daqui sei lá quantos anos, ainda esteja assim — mas com um pouquinho mais de estabilidade financeira. 

A gente hoje é bolsista do mestrado, ganhando só o suficiente pra viver, mas foi escolha nossa. O emprego que pagava bem abusava da gente psicologicamente e nós fomos embora, sem arrependimentos. Tá tudo bem. Dinheiro, a gente vai entender, é só uma ferramenta pra que a gente tenha conforto. Vai dar tudo certo.

Aos quinze, a gente queria um namorado; aos vinte e dois, paz. Hoje, sinceramente, só queremos um pouco de dinheiro pra viver num apartamento maior, produzir mais arte, estudar com mais firmeza, e sempre ter tempo pra amar quem está por perto (principalmente o Lucas).

Estamos bem, e vamos ficar bem.

Com amor,
Babi



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