quarta-feira, 2 de março de 2022

tempo é tempo

Beijar os nós dos seus dedos é meu bom dia favorito.
Você sorri com o canto dos lábios, a barba começando a crescer,
fazendo cócegas quando me aperta com o rosto,
um carinho desses que vou custar esquecer.

Fujo dos seus olhos porque são honestos,
enxergam mais do que quero que você saiba;
embora, no jogo limpo, você já tenha descoberto
as chaves de todas as portas e janelas que mantive trancadas.

*

A rotina se constrói com tanta naturalidade
que meu peito se enche de afeto,
mesmo encoberto pelo medo irracional
de te ver partir.

O tempo é tempo, sabemos, e repetimos,
mas eu sou apenas humana, falha e incorrigível,
traumatizada e fragilizada demais
para acatar as letras doces das suas palavras de carinho.

Mesmo com suas mãos segurando meu rosto
jurando que me quer por perto,
é difícil demais acreditar que você me escolheu
para encaixar perfeitamente no teu abraço.

Para dividir teorias de física quântica, 
pipoca, doces, o lençol e a cama,
histórias, piadas, risadas, algumas lágrimas,
dores, confissões e as delícias [indizíveis] da madrugada. 

E mesmo que eu não acredite,
mesmo que resista, que negue, que tente fugir,
segura meu rosto nas suas mãos de novo, me acalma e
por favor, não me deixa ir.