segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Outra noite para nós dois

          De repente, abri os olhos. Estava deitada de lado na minha cama, coberta até a cintura pelo meu edredom de sempre, um braço debaixo do travesseiro fofo, e o outro apoiado no meu próprio corpo. Há uma mão junto à minha, nossos dedos entrelaçados com força. Olho pela janela meio aberta, e reparo que as estrelas estão muito brilhantes. Isso me diz duas coisas: é madrugada, e eu dormi de lentes de contato. De novo.
          Respiro fundo, e o ar gélido que entra pela janela invade meus pulmões; me arrepio. É aí que você repara que estou desperta... e me puxa para mais perto. Minhas costas nuas encostam no seu peito, e reparo que você está quente. Como consegue? Sinto minha pele gelada contra a sua e rio baixo. "Que foi?", você sussurra, e eu me viro para você. Meu cabelo está em todo lugar, e você o afasta do meu rosto; em seguida, faz um carinho nas minhas bochechas rosadas de frio, e me beija. O gosto é de sono. Eu sorrio e você sorri de volta, sem muitas palavras, sem muito movimento. Sua mão escorrega para o meu pescoço e recebo mais alguns beijos. É um "bom-dia" com pelo menos quatro horas de antecedência. Você já deveria ter ido embora, mas não consegui deixar. Mais um deslize, e você me puxa pela cintura para mais perto. Mais perto. Mais perto ainda. Minhas pernas entrelaçadas com as suas, nossas mãos agarradas, meu corpo frio ("Parece uma vampira") tocando cada parte do seu corpo aquecido ("Você é quente [risadas]").
          Começa então aquela implicância que você tem com esse meu hábito de rir de tudo, e de coisa alguma, sem motivo aparente. Aquela velha pergunta, "Do que você tá rindo?", e eu sempre dizendo que não é nada, não, ou que não sei. E é verdade, eu nem sempre sei qual é o motivo do meu riso. Talvez seja só uma fresta que deixa escapar o quanto me sinto feliz. Um filete de alegria sem sentido, que abre a oportunidade para começarmos conversas sem fim. Te digo as minhas bobagens, mesmo morrendo de vergonha de todas elas. E você acha lindo quando eu venço essa minha timidez só para te dizer coisas que você já sabe.
          Visto meu roupão e me levanto, deixando você em alerta. No entanto, você relaxa quando eu sorrio e me dirijo ao banheiro, sem acender qualquer luz. Lá, apenas a lâmpada do espelho é acesa, e eu molho meu rosto; as marcas da maquiagem que não tirei, o restinho de um batom que você mesmo consumiu. Meu cabelo, bagunçado, é um furacão cor de fogo, e eu nem me atrevo a arrumá-lo - sei que você não liga, ouso até dizer que me prefere descabelada. Mordo os lábios, ajeito os cílios, sorrio para mim mesma (felicidade, estúpida felicidade...) e depois de balançar um pouco meu cabelo comprido, apago a luz. Volto para meu lugar na cama de casal que geralmente ocupo sozinha, com oceanos de espaço para todos os lados. No entanto, com você ali, deitado do meu lado, as mãos passeando pela minha barriga descoberta, sorrindo para mim no escuro, sinto como se tudo tivesse sido feito sob medida: os lençóis, o edredom, a cama, o tamanho dos nossos corpos, nossos beijos, os travesseiros, seus dedos, as cortinas e tudo mais.
          Seus dedos continuam passeando por mim, e eu rio, um pouco desesperada, quando você ameaça me fazer cócegas. Eu digo "Não" inúmeras vezes, mas você ignora meus pedidos e começa a beliscar minha pele branca demais; me remexo e de repente estamos travando uma pequena luta; eu tentando me defender de você e seus dedos maldosos, você tentando me fazer chorar. Não posso gritar, não podemos acordar o resto da casa silenciosa, e meu único golpe certeiro é aproveitar um milésimo de segundo em que você falha e não protege o rosto; me jogo sobre seu pescoço e calo seu riso com um beijo. No mesmo instante, o clima leve pesa, nos achatando na cama, os lábios inseparáveis, as respirações se acelerando depressa, mãos procurando não se sabe bem o quê. Me deito e te puxo para um abraço, nossos corpos colados, eu desesperada pelo seu beijo, as mãos dançando pelas suas costas. Você enrosca os dedos no meu cabelo enquanto a outra mão cava espaço no colchão para laçar minha cintura. Me puxa para mais perto. Mais perto. Mais. Mais. Desafiamos as leis da física, uma proximidade inimaginável, insuficiente. Ainda estou te beijando, e não vou parar. Os olhos fechados com força, gemidos entrecortados, risos quando minha pele gelada encontra a sua, tão quente, e um lugar novo. Como conseguimos rir tanto? Não sei, e não faço questão de entender. 
          Me vejo de olhos abertos, encarando seus olhos castanhos com uma intensidade que às vezes me assusta. Quero entrar em você, mergulhar em você. E sinto você fazendo o mesmo comigo. Não se explica esse tipo de coisa, não há palavras para descrever. É forte, e basta.