terça-feira, 8 de setembro de 2015

online

Ligue qualquer tela hoje
e eu prometo que não vai dormir à noite.
Conecte-se ao mundo virtual,
online, ao países inexistentes
dentro dessas caixinhas abre-e-fecha
com teclados mudos
e eu prometo que não vai dormir nunca mais.

Ligue sua televisão,
sem emoção, buscando ilusão,
comoção, Iraque, explosão, decapitação,
Síria, Afeganistão, Oriente Médio,
tão distante quanto buracos negros
e eu prometo que você não vai compreender.

Olhe nos olhos inanimados de crianças,
órfãs, sozinhas, machucadas, dilaceradas,
estupradas, abandonadas, solitárias,
sendo encaminhadas como mercadorias
como restos sem valia, como pesos mortos
e eu prometo que não vai sentir dor.

Tão distantes esses humanos
que nem parecem ter a mesma carne,
o mesmo sangue, as mesmas vísceras,
dores, vontades, mágoas antigas,
crenças, saudades, fome, malícias
que você.

Olhe para esses rostos na sua tela de TV.

Nem eu, nem você, nem eles,
ninguém sabe o porquê. Ninguém consegue,
ninguém quer saber.
Mas busque a solução para essa dor
que mesmo distante, te alcança
e eu prometo que nunca mais
vai ter paz de espírito.

Porque a solução seria nada, nem alívio
nem fim; seria mais um, você,
caminhando com eles,
tentando se salvar sem saber
que não há salvação no fim do caminho.