quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

repeat

Para de ter esperança na gente. Para de sofrer. Eu te imploro. Por favor, faça isso por mim... eu preciso que você siga em frente. Faz parte do meu processo, entende? Eu preciso que você esteja bem pra eu poder ficar também. É difícil pra caralho, você acha que eu não sei? Você acha que eu também não estou, como você, em festas, tentando desesperadamente afogar esse último sopro dentro de mim, que se recusa a morrer?
Eu também tô passando por essa fase infernal, amor. 
Eu também choro quietinha quando não há bebida ou cigarro ou droga que me faça dormir, que me faça apagar.
Eu também sinto seu cheiro nos lugares e me pego te procurando.
Eu também tenho raiva e quero quebrar o celular na parede quando vejo você falando de outras pessoas.
Mas porra, a gente não existe mais! Por que está tão difícil seguir em frente?
Eu fico repetindo incessantemente pra mim mesma que estou bem, e quando me perguntam, eu digo que estou bem, e quando eu acordo e me olho derrotada no espelho, eu repito esse maldito mantra mentiroso de que eu tô bem quando a última coisa que eu tô é bem, e eu só quero gritar com a cara enfiada no travesseiro como eu fazia quando perdia a paciência com as suas piadas e

caralho

tô digitando freneticamente
como se isso consertasse alguma coisa.
Como se isso me trouxesse você de volta.
Ou o tempo.
Ou qualquer merda que me fizesse sentir melhor.


Não quero você de volta, cacete. Eu não quero ficar bêbada e brigar com você por motivos tão imbecis que no outro dia era até difícil pedir desculpas. Eu não quero mais ficar me culpando por qualquer coisa e tentar jogar a culpa em você pra não me sentir tão mal. Meu, isso é tudo tão insuportável. Completamente insuportável. Eu não aguento mais nada disso, sinceramente.
Mas as coisas das quais eu tenho saudade não tem nada a ver com isso. Elas são quase outra história. Quase outras pessoas num outro relacionamento. Inacreditável. 

Eu só queria ser abraçada por um amor tão verdadeiro quanto o seu.

De coração. Será que alguém no mundo vai me amar outra vez?
Eu tenho tanto, tanto medo, amor. Meu deus, eu tô aterrorizada por esse vislumbre catastrófico onde eu sou rejeitada por todas as almas ao meu alcance. Feia demais, burra demais, gorda demais? Feliz demais, confiante demais, profunda demais? Me envolvo demais? Eu não sei ser rasa, e você bem sabe disso. Eu só sei mergulhar de cabeça. E todo mundo tem medo disso, amor. Medo de mim. É isso, no fim das contas? 

Eu assusto as pessoas?

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

delete

Noite dessas eu tive saudade. É verdade sim, e queira ou não queira, eu sempre fui muito honesta com as minhas próprias verdades. Senti saudade, mas sabe, não foi de você. Eu tive saudade de quem nós éramos quando estávamos juntos. Nenhum de nós era real, sabemos disso. Aquele não era você, aquela não era eu. Eram nossas versões moldadas, construídas para atender nossas necessidades enquanto casal, e isso também nunca foi saudável. Éramos uma farsa, mesmo que para nós mesmos. No entanto, aquelas farsas formaram parte do que vivemos, e isso não pode ser simplesmente ignorado, não é mesmo? 

A saudade que senti foi das noites que passamos abraçados, sob vários cobertores, quentes e próximos, em silêncio, ou com murmúrios de conversas pouco produtivas. Isso não é uma crítica. Falar bobagem é muito saudável. Nós falávamos pouca coisa séria, e nosso relacionamento foi construído sob uma ótica pouco justa onde você era quase obrigado a me ouvir, sem ter nada a dizer sobre quase nenhum assunto que eu queria abordar, mas isso, nesse ponto da história, é irrelevante. Passamos várias noites resmungando bobagens divertidas, algumas pervertidas, trocando carícias e carinhos, sentindo o sabor um do outro, e isso formou as minhas melhores memórias.Você nunca foi bom em discutir política, mas seu abraço me encaixava com uma perfeição milimétrica. Nunca pude te dar suporte em exatas na escola, mas você adorava quando eu lavava e massageava seu cabelo no banho. Nunca conseguimos ir muito longe falando sobre feminismo e observando machismos diários, mas você me fazia massagens maravilhosas com óleos e cremes no corpo todo.  É claro que eu sempre me incomodei com a falta de argumentação lógica quando finalmente conversávamos sobre política, mas você me abraçando quando pedia pra dormir de conchinha me ajudava a deixar isso pra lá.

Quanta merda.

Eu ainda te odeio. Odeio tudo que você me fez, odeio como as coisas acabaram, odeio não poder recuar e odeio não querer, também. Odeio a forma como não nos desapegamos das pessoas com essa facilidade que demonstramos redes sociais afora. Eu odeio não conseguir simplesmente apagar você de perto de mim, odeio ter que te ver e sentir uma coisa queimando por dentro. 

Eu não amo mais você. É fato. Eu realmente não vou voltar atrás, nem poderia. Eu não desejo reviver nada disso que descrevi nessas palavras pobres, mas cheias de significado. Não tenho a menor intenção de te ligar de madrugada, ou te mandar mensagem; eu sequer espero mais aquele pedido de desculpa, mais uma das suas promessas não cumpridas. Mas eu também não desejo apagar as memórias. Nenhuma delas. Nem as noites desperdiçadas com brigas imbecis, nem as viagens, ou os finais de semana passados passeando pelo shopping, no cinema, dividindo pipoca (com manteiga); eu não desejo apagar aquela noite na praia, rolando na areia, nem a da hamburgueria, com aquelas caipirinhas coloridas, o camarão e o amor.

Talvez eu não queira mais apagar você do passado. Só do meu futuro.

domingo, 9 de outubro de 2016

quarto limpo

Curitiba, 29 de setembro de 2016.

Faz cinco dias que eu me arrependi de ter feito a escolha errada. E desde então, só penso em como o que aconteceu só aconteceu porque, na verdade, eu não pensei em mim. No desespero, no medo do abandono, corri para o primeiro que me sorriu de canto e abriu os braços. Apavorada pela ameaça da solidão, como um parafuso velho, espanei. Não aguentei a pressão de ser apenas eu. Sem mais. Sem soma. Eu, sozinha, não deveria ser pouco. Eu, sozinha, deveria ser suficiente para mim mesma. Eu, sozinha, deveria ocupar todo o espaço dentro de mim e transbordar. Mas quem é que tem tanta plenitude de si? Nunca tive.

Foi bom. Foi horrível, o arrependimento me surrou como um chicote e a humilhação veio a galope, mas de que serviriam as tristezas da vida, se não para nos ensinar? Delicioso clichê, discurso de mãe e pai, e por isso mesmo, verdade. Quando percebi, o desespero de entender o que havia acontecido me levou aos mais profundos silêncios. Sem resposta, sem porquês. O que aconteceu? Bárbara, o que aconteceu?! Como você pode? E a cobrança que vem de dentro pode ser dolorosa, mas ela faz jus. Não vai embora sem receber o que veio para buscar. 

Quatro dias depois, eu finalmente explodi. 
Sozinha. Em silêncio. Numa madrugada tão aleatória quanto minhas escolhas, eu explodi. E a explosão sujou tudo por dentro; espirrou dúvidas escarlate pelas paredes empoeiradas do meu quartinho de consciência. Mas, depois daquela bagunça toda, eu me levantei e comecei a recolher os móveis derrubados. Passei um bom pano pelas paredes manchadas, troquei os lençóis, tirei o lixo, desinfetei os cantos imundos e fiz as pazes com a proprietária.

Confesso, eu ainda tenho medo de cruzar comigo mesma pelos corredores, mas não fujo mais. Não foi a cura milagrosa de um problema que se arrasta ao meu lado já há alguns anos, infelizmente, mas talvez eu finalmente esteja começando a entender que as coisas que acontecem lá fora são reflexo de como estão aqui dentro.

Seguimos. Dessa vez, vou me esforçar pra manter o quarto limpo. Tirar o lixo de vez em quando vai me ajudar a não precisar quebrar os móveis outra vez. Aprender a não juntar entulho também. Tem tanta coisa que a gente tem que mandar embora, mas prefere jogar num canto e deixar por lá, até juntar tanto lodo e sujeira, até infectar todo o resto. Até tornar o ar insalubre. Agora, não mais. Chega de lixo, chega de culpa.

O quarto vai ficar limpo.

domingo, 25 de setembro de 2016

preciso falar sobre mim

não se trata de tristeza 
ou amor ou qualquer outra
forma bonita de dor.
não é sobre nós, ou sobre você 
como lhe faço parecer,
mas sobre mim,
esse poço sem fim,
sem fundo, no escuro,
esse caminho tenso e profuso
sem luz no fim do túnel.

sobre uma cabeça cheia demais,
sobre perturbações mentais,
sobre não ser capaz,
sobre querer perdoar os rivais,
pressionada pelos pais 
a buscar uma felicidade em, talvez,
alguém mais. um outro rapaz.

não é sobre os outros
mas sobre mim mesma, sozinha,
uma culpa exclusivamente minha
que eu não entendo, eu não controlo;
eu fujo de tudo e de todos,
eu quero colo,
carinho, socorro, quero alguém
que me salve do meu próprio poço.

hoje não vou beber nunca mais

Nunca mais eu vou beber.
Não é a primeira vez que digo isso. Dessa vez eu também não vou levar essa promessa tão à sério. Nenhum de nós vai. Nem eu, no auge dos meus vinte anos, nem o meu irmão de dezesseis, que sofre muito menos do que eu com a maldita ressaca, nem minha mãe, de quarenta e poucos, que já não aguenta mais as dores de cabeça e o cansaço que o álcool manda entregar no dia seguinte. Todos nós já fizemos essa promessa, e num primeiro instante, nós estávamos falando sério. Muito sério.
Eu acabei de receber esse pacote ressaca e estou usufruindo tudo que vem no kit. A dorzinha no fundo da cabeça, o estômago fragilizado, o corpo totalmente abalado depois de uma noite que, não me orgulho em dizer, foi parcialmente apagada da minha memória.

Beirut - Elephant Gun (5:45) 

Me lembro dos momentos mágicos que passei dentro do carro, gritando minhas músicas favoritas e bagunçando meu cabelo, aproveitando um momento realmente único com alguém inesperado. Quem é que ouve essa banda? Eu. E você. Você, que não usa cinto de segurança, e que me deu a valiosíssima liberdade de mexer no som e simplesmente não deixar as músicas chegarem até o final. Você, que pagou a conta e me fez lembrar como é maravilhoso não ter que se preocupar nem tomar nenhuma atitude por um tempo; como é bom simplesmente estar, e simplesmente receber. Talvez você nem imagine o que fez por mim nessa noite que terminou tão, tão confusa, mas que foi completamente inesquecível, e que me marcou de várias formas diferentes - e, ouso dizer, únicas.

Ozzy Osbourne - I Just Want You (4:56)

A cada parada no posto, uma esvaziada na bexiga (que já estava no nada confortável estado de torneira aberta), uma cerveja nova e mais uma volta. Não tínhamos porque parar. Eu tenho certeza que você estava tão confortável quanto eu, a vinte quilômetros por hora, rindo, rindo muito, porque como seria possível? Você também adora essa música? Põe de novo. Mas espera aí, o que mais você tem aqui? E quando eu percebi... eu estava apaixonada. Mas não por você. Eu me apaixonei de novo por mim. Pelo estado de liberdade em que eu me encontrei. E eu me amei ainda mais. Eu enxerguei que companhias maravilhosas eu poderia ter, e como eu mereço tudo isso. A boa música, a cerveja, a atenção, o cuidado, o passeio, a ansiedade do novo. E eu me quis. Me vi feliz, me vi nova. E foi bom.

Foo Fighters - Everlong (4:11)

Não vou dizer que me arrependo do que aconteceu depois de termos decidido pausar nossa música tão harmônica para ouvir outras vozes, mas talvez nós devêssemos ter prolongado aquilo tudo. Foi bom demais e não vai se repetir, porque eu conheço minha vida e não tenho a honra de viver um momento como aquele duas vezes. Além disso, o que vamos fazer, exatamente? Tivemos nosso maravilhoso primeiro contato, e ele foi tudo que me prometeram.

Como você bem sabe, eu tenho ansiedade. E ansiedade nos torna bombas-relógio. Ansiedade faz com que qualquer coisa seja imensa. Que desperdício de tempo precioso descrever ansiedade pra você! Por favor. Você sabe. Mas o que você talvez não saiba é como a insegurança e a ansiedade e o meu relacionamento (que nós discutimos) me fizeram uma pessoa completamente desequilibrada emocionalmente. Ainda estou esperando você responder o que quer que eu tenha escrito pra você. Na verdade, estou cogitando te mandar isso tudo, pra facilitar. Você vai ler coisas boas sobre si mesmo e eu vou aliviar essa minha vontade de te procurar pra pedir desculpas. Desculpas que, me disseram, eu não preciso pedir. Mas eu sinto que devo. O que quer que eu tenha feito (e não que eu precise me justificar) foi por pura infantilidade. E eu não sinto nenhum peso nisso. Não tenho tido a chance de ser infantil ou de fazer aquelas bobagens de adolescente sobre as quais nós conversamos. Aquelas que a gente riu e concluiu que não podemos mais fazer, porque depois de um tempo, somos condicionados ao comportamento social. 
[Você diz coisas assim e eu acho isso o máximo.]

The Killers - When You Were Young (3:40)

Estou me dando a oportunidade de ser infantil, e de ser meio boba, e de ter tesão e vontade e deixar pra lá. Tudo ao mesmo tempo agora. Um pouco disso, com certeza sobre você.

O que quer que tenha dentro de mim agora, foi você que acordou. 


sexta-feira, 10 de junho de 2016

Oi mãe,

como estão as coisas aí? Estou pensando em você.
São 10h18min de terça-feira, 07 de junho de 2016. Estou numa aula estranha, com um professor falando sobre custo de obra; não quero prestar atenção. Eu deveria, sei que você não ia gostar de saber que não estou ouvindo o que esse senhor está dizendo aqui na frente da sala... mas não consigo. Estou preocupada com coisas que tenho que fazer hoje. Tenho que tirar cópia de uns documentos e enviá-los para São Paulo, para poder ver você. Espero que tudo dê certo. Espero que tudo chegue no tempo certo, pra eu poder ver você. Porque eu só quero ver você. Muito.
Te fiz uma carta bonita e uns desenhos coloridos, quero entregá-los pra você em mãos. Não sei como vai ser na hora de dizer tchau, mas eu vou arriscar. É tão difícil...
Como eu te escrevi numa outra carta (eu te escrevo muitas cartas), estou tentando encontrar a minha lição. Todos nós temos uma lição pra tirar disso tudo, nós duas acreditamos nisso. Estou procurando a minha, para cumprir logo o meu propósito nessa situação doida. Pra você poder voltar.
Deus não quer ver a gente sofrendo, mãe. Eu tenho certeza que não. Mas Ele ensina a gente de maneiras estranhas... God acts in misterious ways...
Você me contou que leu minha música, que leu tudo que eu te escrevi. Quero poder cantá-la pra você. No fim, fiquei feliz porque você me contou, muito rapidamente (mais do que eu gostaria) que conheceu uma moça da South Africa, como você disse. Fiquei feliz, eu confesso. Sei que não é a situação ideal, sei que na verdade isso tudo é uma merda, mas eu posso ficar feliz com essas pequenas coisas? Ou devo me conter, não me sentir culpada? Só penso nisso, mãe. Se a maneira como eu sinto sobre as coisas está certa.
Eu estou infeliz porque você está aí. Mesmo. Eu não acho que você seja culpada, eu sei que você não é. Eu não quero você aí. Eu não quero. Eu quero você em casa, me esperando quando eu for pra lá, pra ficar deitada na sua cama com as crianças, pra gente passear de carro, tomar sorvete, assistir filme, fazer almoço; pra você me emprestar um carro e me ensinar a estacionar. Pra você estar lá. Comigo. Com as crianças.
Não foi você. Você não fez isso, não foi sua culpa. Talvez tenha sido sua culpa chegar onde chegou... talvez... mas você não queria nada disso. Ninguém queria.
Isso está sendo bom para limpar a nossa casa. A nossa família. Para separa o joio do trigo, com certeza, para mostrar as verdadeiras faces das pessoas que estão ao nosso redor. É foda, mãe, mas é assim que funciona. Nem sempre é fácil. Aliás, nunca é.
Eu estou indo te ver, mamãe. Fiz tudo que pude, consegui remarcar provas, pegar caronas, enviar documentos, fiz tudo rápido, fiz tudo certo pra poder te ver. Porque ficar sem te ver quando estou aqui é uma coisa, mas saber que não posso te ver em casa é outra...

Sexta-feira, 10/06/2016 - 20h44min

Oi mãe,

mudança de planos. Não vou te ver. O Augusto quebrou o pé, e eu não quero ir sem ele. Que merda. Mas eu enviei minhas cartas por uma carona e espero que você as receba logo. Enviei também dois desenhos, bem coloridos, pra te deixar feliz. Um deles somos nós, mãe. Juntas. Como eu gostaria de estar agora. [É agora que eu começo a chorar.] Estou toda maquiada, vou borrar meu rímel e o delineador que você me deu. Não ligo mais. Não ligo de ficar toda borrada, eu choro o tempo todo. Todas as vezes que eu penso em você e acabo pensando em algo legal que eu queria te dizer, eu choro. Eu choro compulsivamente, eu choro como o Pietro chora quando a Helena bate nele. Não é bom. Me mata um pouco por dentro.
Às vezes eu acho que isso nunca vai passar. Que as coisas só vão piorar. Desculpa, mãe. De verdade, me perdoa por pensar coisas tão horríveis, por não acreditar na justiça do homem nem na justiça de Deus, mas eu me pego pensando nisso, sim. Nessa situação toda durando muito tempo. Em não ter você por perto por muito tempo. 
Cinco anos. Em cinco anos, eu terei me formado na faculdade. O Pietro vai ser um mocinho, e a Helena vai finalmente ser grande. O Augusto vai ter 21 anos, e eu, 25. Você vai ter 47. Quarenta e sete anos.
Sabe por que isso não pode acontecer? Porque você tem que poder ir na minha formatura. E a gente vai ter que comemorar nossos aniversários juntas em 2018, porque teremos idades muito legais. Sabe mãe, daqui dois anos eu vou ter a idade que você tinha quando eu nasci. Então você vai ter exatamente o dobro da minha idade; não é legal? 22 e 44. Eu estou ansiosa pra isso acontecer. Mas você vai ter que estar aqui, pra gente viajar pra São Paulo. Ou quem sabe, pra finalmente irmos pra Paris, juntas, só você e eu.
Me dói pensar nessas coisas, mamãe. A dor é física, eu juro que é.
Eu te amo tanto que me machuca.

[respira, Bárbara. respira.]

Eu não sei mais qual seria a sua reação me vendo aqui. Se você ia me julgar ou se ia me ajudar. Porque sempre foi ótimo tomar umas broncas suas, mãe. As únicas broncas que eu ouço, as únicas que eu aceito. Cê tinha que me fazer tão parecida com você?

Às vezes eu abro seu Instagram e vejo suas fotos. E choro. Quietinha no meu canto, cheia de dor no coração, eu choro. Eu choro pela saudade, eu choro pelos momentos em que eu não consigo olhar além do horizonte. Eu choro por você, eu choro por não ter poder, eu choro por estar triste, eu choro por mim.

Eu vejo nossas fotos juntas e me pergunto por que não existe um jeito de mergulhar naquele momento de novo. E de novo. Eu me lembro de dias tão específicos... das festas. Me lembro perfeitamente de estar me arrumando na sua penteadeira e de não deixar você me maquiar. Não era por mal, mãe, nunca foi. Era só bobeira minha, medo de ficar muito emperequetada, medo de alguma coisa boba dentro de mim. Não era você. Você me deixava linda, você sempre me deixou linda. Quando arrumava meu cabelo ou quando escolhia minha roupa. Você me fez ser linda. Principalmente aqui dentro, mamãe. Se eu tô de pé hoje, é por sua causa.

Por ora é isso. Consegui parar de chorar. Lembrar de você é a dor mais maravilhosa do mundo. Mal posso esperar pra poder ter você em casa outra vez. Eu realmente mal posso esperar... estou cambaleando pra conseguir.

Eu te amo com todas as minhas forças; com a minha alma e o meu coração.

domingo, 28 de fevereiro de 2016

a primeira morte de 2016

Lindo tudo isso que você me disse, no final. Lindas palavras de autores desconhecidos que você escolheu pra usar no seu Tumblr, me fazendo sentir quase culpada. Compartilhando aquelas fotos de casal que você nunca quis tirar comigo. Caso você já tenha se esquecido, de uns tempos pra cá, tirar foto comigo era sempre um incomodo, você se lembra? Fazia cara feia, se escondia e reclamava. Eu tinha que pedir antes, avisar no começo da noite que queria registrar o momento. Fui perdendo o tesão. De uns tempos pra cá, começou a beber mais e falar mais alto. Não só comigo, mas com todo mundo. De uns tempos pra cá, esqueceu que eu ainda não gostava do cigarro, e não ligava mais de fumar bastante perto de mim... e eu nem vou falar da maconha. Você me disse que agora largou de verdade; espero que sim, e que não tivesse sido só pra me deixar "mais calma". Você começou a se incomodar por eu não querer que você bebesse tanto, e quando me dizia que não ia abusar, abusava. E eu ficava lá, tentando lembrar do por quê de ainda me submeter a um estresse tão grande.
As coisas foram ficando difíceis. Você não passou na faculdade, como me prometeu que ia. Você me disse que estava se esforçando. Não culpe a escola, eu avisei você sobre tudo aquilo. Eu estava lá, eu me dispus a te ajudar se quisesse, eu queria te ajudar. Eu queria. Mas você achou que as coisas iam se resolver sozinhas, sei lá porquê. Tomara que essa próxima tentativa dê certo e você consiga.
Mas é óbvio que não foi só a faculdade. Imagina, isso foi o mínimo do mínimo, eu fiquei triste com você e já havia refeito meus planos pra poder me adaptar à nova vida que você ia ter. Eu fiz isso, eu te cobrei, eu me preocupei... até você cansar. Cansar porque eu fui chata mesmo, estando tão em cima de você sobre tudo isso. Desculpa se eu só queria que tudo desse certo e que você entendesse que a coisa é mais complicada do que parece. Mas só precisou pedir uma vez pra quebrar minhas pernas.
Como eu disse, não é só a faculdade. Era aquela sensação ruim que eu tinha de que você estava acomodado nessa vida quadrada que a gente leva nessa cidade. Ou pior, de que você estava acomodado na vida que eu fui te dando. E eu gostava de te dar os mimos que eu dava, fosse um presente ou fosse a entrada na balada, pagar a conta, a cerveja, o show, a viagem... e sabe, não é o dinheiro. Meu, realmente não é o dinheiro. É o "obrigado". Agradecer, de verdade, e saber o que aquilo significa.
Acho que no fim, era tudo sobre significados.
Você dizer "não" para uma cerveja significava muito pra mim.
Você dizer "não" para uma foto comigo significava muito pra mim.
Você ir quando eu dizia que você podia ir, sem saber o quanto eu queria que você dissesse "não" e ficasse... aquilo significava muito pra mim.
Eu ter que pedir pra você fumar menos, beber menos, falar mais baixo, tudo isso significava muito pra mim.
Isso tudo significou o fim, você entende? Você ir sem mim pra qualquer lugar quando eu não ia sem você pra lugar algum. Quando eu fazia tudo pra que você estivesse o tempo todo comigo. Quando eu te arranjava ingresso, te arranjava onde ficar, como ir e como vir, te arranjava o que estivesse ao meu alcance, e nunca te cobrei nada. Eu nunca te cobrei nada. Talvez eu devesse ter cobrado. Talvez eu devesse ter te dito que queria sim que você ficasse comigo, em casa, até a Helena dormir, ao invés de ir na casa do Rodrigo. Talvez eu devesse ter pedido pra você me pagar aquele jantar que prometeu na praia. Talvez eu devesse ter feito tanta coisa... talvez não adiantasse nada. Talvez eu só ficasse de chata, como você me chamava com muita frequência. E eu ali, dando o meu melhor, pra você me dizer que eu era implicante. Não sei não, pretinho... não foi o grand finale que me destruiu. Foram os detalhes.
Fui eu, tentando convencer todo mundo de que você era não só uma boa pessoa, mas uma boa pessoa pra mim. Que me tratava bem sim, que me respeitava sim, que estava ali comigo sim, que me amava sim, que mudou sim. Quantas vezes repetindo com orgulho que você fumava menos cigarro e menos maconha por mim, que me ouvia quando eu dizia pra maneirar na bebida. Quantas vezes prevendo ansiosa um futuro onde estudávamos na mesma faculdade, você trabalhava e tudo seguia em perfeita harmonia. Um futuro onde ninguém poderia fazer nada a não ser engolir cada palavra amarga dita sobre você, onde eu estaria firme do seu lado, comemorando a vida.
Uma pena esse dia ter demorado pra chegar.
Na verdade, ele vai chegar. Só não vai ter eu. Mas você vai alcançar a faculdade, o emprego e a vida bacana que você sempre quis ter lá. Vai se divertir muito, vai aproveitar, vai estudar, vai conhecer alguém e pronto, passou. Eu vou passar. Eu passei.

Eu começo reclamando de você e acabo te lambendo. Que diabo, não? É, eu ainda não aprendi com os erros, mas vou aprender na marra. Colocar em prática todos os meus discursos sobre não namorar alguém que não te faz bem, que não te dá valor, que não te ama e que não faria por você o que você faz por ele. Não que você me odeie e nunca tenha me amado, veja bem... a questão é mais sobre como eu me sentia sobre tudo isso. Você me amava, claro que sim. Mas faltou um pouquinho, falhou um pouco nos detalhes. Em coisas pequenas, tão pequenas, e que estavam ao seu alcance.

Quer mesmo saber o que houve? Nem eu sei. Não sei o que aconteceu nessa sexta-feira, quando tudo acabou de vez. Eu estava com você, e de repente eu queria que você estivesse longe, longe de mim, e que fosse embora. Me deixa passar mal sozinha, me deixa deitada aqui, me deixa. Só me deixa. E daí de repente eu estava lá dentro, nervosa, sem você, meus amigos bravos, meu irmão irado, e eu sem saber direito o que tinha acontecido. Não sei mesmo. Não sei de quem foi a culpa, porque eu te chamei de idiota também, mas você gritou comigo. Não me deixou em paz, como eu pedi. Era sério, e você devia ter acreditado e me deixado sozinha. Você não era meu namorado, de qualquer forma...

Eu choro lendo minhas próprias palavras. Você ainda está aí pra mim, e eu pra você, mas dessa vez, eu não vou me esquecer. Eu não vou deixar passar, eu não vou lembrar só dos bons momentos. Não. Eu vou deixar claro que foi tudo sua culpa. Foi sim!, foi sim, cacete. Eu te avisei, porra. Eu te avisei sobre tudo! Sobre mim, sobre você, sobre a cerveja, sobre a faculdade, sobre a mudança, sobre o combinado da viagem, sobre as brigas, sobre os problemas, sobre os limites, sobre as minhas vontades, sobre o que eu esperava. Eu te dei todos os avisos, faltava eu escrever na tua testa: "você está me perdendo". Talvez nem assim você percebesse. Eu passei dois anos me culpando pelas coisas ruins que aconteciam. Agora acabou. Agora eu não quero mais saber. A culpa foi sua. Se nós estamos separados hoje, a culpa é sua. Se eu não consegui aguentar a porra da pressão que eu recebia de todo mundo, a culpa é... minha? Seria tão mais fácil se eu não precisasse sofrer pressão nenhuma. Se você andasse na linha, sem tombar de vez em quando. Por quê? Você sabe me dizer? Você consegue entender? Você compreende o tamanho da merda que você fez no fim de tudo? Que ainda me ferve o sangue, me aperta o coração? Seu idiota. Meu idiota. Meu amor. Você nos separou.
Você jogou tudo no lixo quando pediu desculpas pra pessoa errada.
Quando não teve coragem de encarar a cagada que você já tinha feito.
Quando essa porra toda me atingiu, você tinha que ter consertado... e não consertou.
Você não se consertou. Você só tava remendado. Eu tava te remendando.
Acabou. Eu não vou viver com um trapo remendado. Eu quero você quando estiver consertado.
Se isso nunca acontecer, então eu não te quero nunca mais.


quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Acredite se quiser

Eu não deixei de te amar.
Não acordei uma bela manhã
curada de qualquer sintoma,
sem angústia, sem medo, sem dor
e muito menos
sem amor. 

Eu não acordei no dia seguinte
sem sentir saudade de você
ou do seu abraço. do seu cheiro
ou da pequena sobra de espaço
do outro lado da cama.
Não. Eu acordei exatamente 
como fui dormir:
inchada. Vermelha. Molhada.
E, claro, ranhenta. 

Passou um dia, dois, três,
passou uma semana, duas,
eu continuei calada, muda
porque gritar não resolveria.
O problema era briga antiga,
nada dessas bobagens novas
para as quais nós nem ligávamos mais.

Mas não é sobre isso 
este pequeno acerto de contas,
descrito tão sem controle 
numa urgência saudosa.
Não, não, eu só vim aqui pra você saber
que eu não me livrei de você.
E se você acredita nisso 
fácil assim, fico feliz. Vai ser melhor
pra você e pra mim. 

Só não apague meu número,
nem as lembranças, nem a saudade
porque eu ainda não tô pronta
pra ser esquecida de verdade.