quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Boa-noite

Os latidos dos cachorros lá na rua ecoam dentro da minha cabeça e correm através do meu corpo. Estou tremendo. Um bom café curaria minha ânsia, mas não há o pó, nem água, nem nada. Estou na cama, olhando fixamente para o teto. Nas linhas longas das vigas da madeira velha, tento encontrar uma solução para problemas novos. Ouço fogos de artifício lá fora. O barulho da explosão que imagino ser colorida percorre cada ligação peptídica do meu corpo, me fazendo tremer mais. Viro-me de bruços e enterro o rosto manchado de rímel entre meus travesseiros brancos. As marcas desse meu momento de fraqueza serão, mais tarde, lavados dali com água e sabão. Queria eu poder lavar da minha alma e coração esses sentimentos com a mesma facilidade que se lava uma fronha de travesseiro. Começo a sentir o ar faltar aos pulmões, e por um imenso e eterno segundo, penso em não tirar dali o meu rosto. Mas então eu percebo o tamanho da bobagem que estou pensando. Viro-me para cima com mais lentidão do que gostaria, afinal meu corpo não me obedece mais como antigamente. Olho novamente para as vigas de madeira: e agora? O que fazer? Continuar aqui até não aguentar mais a dor da fome no meu estômago, talvez? Ou finalmente me levantar e tomar uma atitude? Lá fora a luz diminui e é trocada por uma amarelada; os postes de luz são ligados. Já é noite. Decido por continuar na cama. Não há fome suficiente ou necessidade de atenção suficiente para me tirar da cama, agora. Inutilmente tento esconder-me debaixo das cobertas, mas não há força nos meus braços. Sinto-me fraca, mais fraca que o normal. Meus dedos tremem. Um cheiro agudo, conhecido, muito próximo atiça meu nariz. Olho para todos os lados, mas continuo sozinha. Demoro quase um segundo inteiro para perceber que isso é apenas a minha necessidade de você. Ela grita. Alto. Eu sorrio para mim mesma; meus lábios estão incapazes. Reflito sobre quão longe posso aguentar com essa minha imaginação e memória forte me fazendo lembrar à todo segundo que você não é meu. Mas agora as luzes amareladas lá fora estão mais fortes; já é tarde da noite. Não tenho opção, o dia amanhã começa cedo. Não há lágrimas para serem choradas ou gritos para ecoar. Com força sobrehumana, levanto da cama e dobro os lençóis. Enfio-me debaixo deles, e conforto minha cabeça entre os travesseiros. Aspiro com força. Talvez consiga tirar da memória mais um pouco do seu perfume, antes de dormir. Minhas forças finalmente se acabam, e meus olhos se fecham. Venha, noite, engula-me e descanse-me. Seja boa. Boa-noite.

Nenhum comentário:

Postar um comentário