sexta-feira, 11 de novembro de 2011

No escuro

Estou deitada. Completamente torta, com os braços abertos; remexo os pés e os enfio debaixo do edredom. Aspiro fundo e sinto meu próprio cheiro, uma mistura de perfume doce, suor e preto-e-branco. Dá pra entender? As portas estão fechadas, e assim me sinto mais segura. As janelas estão com as travas baixadas e os vidros refletem a pouca luz que vem do monitor. Estou cansada. Devia me levantar e dobrar as cobertas debaixo de mim, mas existe praticamente uma força jedi me mantendo presa ao colchão. Suspiro e sorrio para o escuro. A que nível chega minha preguiça? Movo meu corpo mais para a esquerda; aparentemente, meu lado da cama é o direito, mas estou quase caindo. Olho pela janela e forço meus olhos, já ajudados pelos óculos de lente grossa, a enxergar alguma coisa, mas a penumbra é profunda e o vidro reflete minha própria imagem. Algo chama minha atenção para o escuro e é frustrante não conseguir ver. Não é um som, ou luz, ou sombra - mesmo na escuridão. Apenas o nada, silencioso e pacato como sempre, atraindo meus olhos. Tenho medo de olhar intensamente e me assustar com qualquer movimento, mas não controlamos a intensidade de ato algum. Fixo o olhar num ponto qualquer e espero. Espero um ruído, espero uma luz repentina, espero qualquer coisa, mas nada vem. O uivo do vento pela fresta da janela me tira da minha viagem noturna, e me toco de que são quase três da manhã e eu ainda estou aqui, analisando o nada que há para ser analisado. Fico quase contente em não conseguir dormir; isso significa que quando o sono vier, será profundo, manso e me afogará em escuridão. Decido finalmente por fechar o notebook inutilmente aberto ao meu lado; a música de fundo eu nem conheço. Devia me levantar e trocar de camiseta, mas também há preguiça demais pra isso. Jogo o celular para algum lugar que não embaixo das minhas costas, fecho o computador e viro-me para a parede. Um vento muito frio passa pelo mínimo espaçamento da janela, e tenho certeza de que ele traz o sono. Fecho os olhos (ainda maquiados) e respiro fundo.

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