sábado, 20 de abril de 2013

Parênteses, apenas

Dentro do vazio que vive dentro de mim, existe alguém. Eu guardei lá no fundo, porque certamente me machucou muito, e eu não gosto mais de sofrer. Acredite, eu gostava. Aquele sofrimento de amor, saudade; sentir um aperto no coração, um arder na garganta, as mãos gelando, as pernas tremendo e o futuro fosco ilegível. Eu amava a sensação de estar apaixonada. Hoje, a abomino.
Sentimento imbecil é o tal amor. De certo, analisando agora, que nunca o senti. Nunca tive um Romeu, ninguém cuja vida equivalesse a minha. Nunca fui Julieta. Ou Isolda. Ou a Helena de um grego e um troiano. A sensação de sofrer por eles já senti, mas não sei como é quando sofrem por mim.

Tudo isso é apenas uma parte em parênteses, é verdade.

Agora, nesse instante, olhando pela janela, tenho certeza de que nunca vivi nada assim, bonito. Sempre vivi momentos, mas nunca vivi histórias. Falando de amor, é claro. E talvez eu nem queira viver. Nas histórias que li, havia sempre uma mocinha, um mocinho, um vilão e espectadores, ali, estagnados, incapazes de colaborar com a menor informação. Algo que o mocinho disse e que a mocinha deveria ouvir, sabe? Aquelas bobagens que a gente vê num filme romântico e diz: "Eu nunca faria isso". Bem, tenho uma péssima notícia: você faz. Você geralmente é o amigo insosso que não disse o que deveria ter dito; a amiga compromissada demais para ter tempo de dizer ao amigo que ele e a amiga se amam; o vizinho que não chamou a polícia quando ouviu barulhos na casa ao lado. Aquela pessoa incompleta, incapaz de se mover e mudar o rumo das coisas.
Simplificando, eu provavelmente nunca serei a mocinha. Serei sempre a vizinha, a amiga, o incapaz. Tudo isso, é claro, falando especificamente de casos de amor. Na vida, é fácil ser a peça principal, mas no amor, talvez seja melhor ficar nas beiradas, assistindo, sendo uma plateia indesejada, até. Quando falamos de amor, o papel principal é o único que eu não quero pra mim.

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