domingo, 29 de julho de 2012

50 segundos

Na boemia da noite que não acaba, na cerveja, no papo curto à beira bar. Encostada numa bancada de madeira cheirando à mato, com um sorriso sem sentimentos que só serve para atrair a atenção do garçom. É assim que me vêem; talvez.
Força na tampinha, o líquido derrete meu esôfago e eu me derreto em vontade. Às vezes, não sei, pode haver um motivo para tudo isso. Ou não.
A abstinência me tira o sono e, então, fujo para letrinhas sem toque num espaço comprimido. Nem há som. Nem há razão. Não há nada, na verdade. Só um monte de tentativas frustradas de fugir, talvez, para um lugar-comum longe de tudo e perto de mim.
E então, o aleatório. Um nome qualquer. Eu preciso de ouvidos.
Sempre fui a ouvinte, ou sempre tentei ser, mas hoje não há escapatória: alguém tem que me ouvir. Por favor (eu imploro, de joelhos, sem medo, me ouça!).

Pobre rapaz, não merecia ser ouvinte de tragédias de tão pouco nexo.
A verdade é que quando o desespero nos assola por completo e chegamos ao fundo do poço, não podemos fugir. Eu não posso. Minha única opção é vomitar o que estiver sendo lenta e dolorosamente digerido pela minha consciência tão pouco suscetível à falha de memória. Me lembro de tudo. E isso me fode.

No entanto, há uma escapatória. Ou eu pensei que havia. Porque eu abri minha consciência e dei à mim mesma o luxo de desabafar. Plena. Completa.
Pobre rapaz.

Mas o que realmente me assusta é a quantidade de vezes em que concordamos. Pontos cegos em conversas de boteco. Buracos mais fundos; um pouco de deus, um pouco de diabo. Tinha até destino e fé. E risadas.
Mas isso é uma história que ainda não tem fim.
Imagino que será encerrada com cevada.

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