sábado, 4 de fevereiro de 2012

Ela disse para o escuro

- Então vamos falar sério.
- (Risos) Não consigo falar sério com você.
- Para de graça, senta direito.
- Eu não consigo. Olha a sua cara.
- Você é muito palhaça, mesmo.
- Não consigo não rir de você.
- Vai, para quieta. Vamos falar sério.
- Tudo bem. Sobre o quê?
- Sobre tudo.
- Não tem 'tudo' nenhum aqui.
- Isso aqui é tudo.
- Tudo o quê?
- Tudo que importa.
- Você é um idiota.
- Para, eu sei que você vai sentir a minha falta.
- Eu?! Eu não.
- Vai sim. Vai chorar e me implorar pra voltar.
- Eu não vou chorar.
- Você vai sim. Ei, ei, não adianta vir me beijar.
- Ah, por favor.
- Estou tentando conversar com você.
- Vamos conversar muito quando você tiver ido embora. Aliás, só vai ter conversa.
- Eu não vou te ver mais por muito tempo, queria conversar com você assim, ao vivo, agora.
- Eu não.
- Pelo amor de Deus, garota.
- Vai, chega disso. Você não vai morrer, só vai embora.
- E se eu voltar pra cá com uma namorada?
- Experimente.
- O quê?
- Arranjar uma namorada.
Risadas.
- Agora sim, me dá um beijo.
- Você não queria conversar? Vamos conversar.
- Não, você tem razão.
- Eu sempre tenho.

Quando a deixa na porta de casa, há um último beijo.
Não é diferente de todos os outros, mas não é
feito apenas de desejo.
Tem alguma coisa muito forte que não deixa que ela vá
porque sabe que talvez
seja a última vez.
Talvez ele não vá voltar.

- Sabe, talvez eu sinta sua falta.
- Eu sei que vai sentir.
Com um sorriso, ele se vai.

Parada na frente de casa, seu sorriso murcha e ela repete para o escuro: "Vou sentir sua falta".

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