quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Controle

Jamais acontecerá.

"Descreva-se", ele disse. "Conte-me quem você é". Pus-me a relatar com desprezível orgulho minhas vitórias, conquistas, troféus, prêmios. Ele, humilde, riu da minha ignorância e pediu novamente: "Descreva-se". Pus-me então, pensando compreender melhor a pergunta, a descrever meu humor bipolar e atípico. Meu humor não é, definitivamente, meu ponto forte, portanto, depois de um minuto ou dois, calei-me. "Fale mais", ele disse. "Sobre o seu humor. Fale mais". Ele percebera. Percebera que eu não gostava de falar sobre aquilo, que era minha fraqueza, e não minha força. Acomodei-me melhor na poltrona de costa comprida e tentei não pensar em quantas vezes já haviam me perguntado sobre meu mutável e problemático humor. Continuei sorrindo, mas conforme ia contando sobre como qualquer mudança na rotina ou no ambiente é capaz de me fazer chorar, meu sorriso foi, contra minha vontade, diminuindo. Quarenta e sete minutos depois, eu estava de joelhos no chão, debulhava-me em lágrimas e sequer podia enxergar meu possível novo chefe atrás de sua mesa. Ele se levantou, sentou-se ao meu lado no chão e perguntou-me: "Querida, diga-me: como eu posso contratar alguém com um emocional fraco como o seu?" Eu pisquei sete vezes para expulsar as lágrimas e fixei meu olhar no dele. "Eu sou boa no que faço", respondi. "Sou a melhor". "Acredito", ele murmurou, "mas", continuou, me deixando assustada, "você é capaz de superar traumas anteriores? Diga-me, e se um dos novos funcionários lhe lembrar um namorado? E se você tiver uma crise de pânico? E se não puder cumprir seu horários? E se ficar doente outras vezes? E se for colocada para disputar uma vaga? E se... E se..." Eram muitas lacunas. Muitos talvez. Muito "se". Com calma, deixando claro cada movimento meu, levantei-me. Arrumei o terno caro que alugara para a ocasião e sentei-me novamente na poltrona. "Sou capaz de controlar meu humor e meu lado sentimental como sou capaz de controlar qualquer outra característica física minha. Não preciso deixar essa fraqueza aparecer". "Prove". Parei de chorar, cruzei as pernas e sorri. "Estou me sentindo péssima", contei. "Um verdadeiro lixo. Não sei mais se vou conseguir o emprego, mas apenas pelo meu sorriso você pode dizer que estou confiante, não pode?" Ele acenou a cabeça. Encorajando-me. "Eu estou me sentindo tão mal como quando tenho ataques de pânico. Mas ninguém tem de saber disso. É o meu auto-controle que me difere do resto. Posso me controlar. E posso controlar todos eles. Por isso mereço estar no topo. Eu tenho controle".
Até hoje repito insistentemente para mim mesma todos os dias: eu tenho controle.

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