quarta-feira, 7 de março de 2018

sinto

existe uma corrente ao redor do meu pescoço
me puxando para baixo.
o peso dos meus músculos
pode ser medido em toneladas
ou em pensamentos.
devem ter aproximadamente
a mesma medida.

sou como uma bola de chumbo
no meio do espaço.

           espaço.                  espaço.                                espaço.

nada além de mim
num raio de um milhão de quilômetros.
sozinha. flutuando.
e sem gravidade pra me manter no chão.

quando estico a mão tentando alcançar
qualquer forma de vida que possa me ajudar
só encontro o vácuo. eterno. completo.
os rostos estão ao meu redor, mas não posso
alcançar nenhum deles. todos distantes
como planetas.
estão em outra órbita.

mesmo quando ouço minha risada aguda
fico confusa, pois como posso ouvir meu riso
se não sinto vida dentro de mim?
como pode uma caixa vazia
estar cheia de confete?

"não seja tão triste". "por que tanta negatividade?"
se soubessem que quando olho pela janela
vejo os escombros do mundo,
as paredes caindo, o céu em chamas,
as nuvens negras e o chão se abrindo.
então saberiam como é viver
pensando apenas
no fim.

o burburinho de uma árvore
é como o presságio de uma catástrofe;
todo e qualquer barulho
é um assalto à mão armada,
e meu chá de camomila
poderia estar envenenado.

é muito difícil ser eu
dentro da minha cabeça.

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