segunda-feira, 19 de março de 2018

acústico

E está acontecendo outra vez. Estou, neste momento, deixando passar a oportunidade ainda inexistente de te dizer coisas boas de ouvir. A ocasião não precisa ser criada; por algum motivo, vejo que fazer vibrar seu celular a qualquer hora com qualquer assunto não é incômodo. E que alívio sentir essa pequena liberdade. É bom para o espírito saber que alguém vai te ouvir, sem drama, sem grandes lacunas de tempo socialmente estabelecidas e forçadas, longas o suficiente para deixar claro para ambos os envolvidos que não há nada com o que se envolver. Mas se aqui houvesse, tudo continuaria bem, porque não há problema em se envolver. Foi uma das nossas primeiras conversas, lembra? Quando digo "lembra?" é puramente simbólico, apenas figura de linguagem - você se lembra de mais coisa que eu. Sempre. Seja porque na maioria das vezes em que nos encontramos eu estava completamente alcoolizada, seja porque minha memória é completamente danificada graças ao meu medicamento cortado, seja porque você tem, simplesmente, a cabeça melhor que a minha.
De qualquer forma, eu tinha algumas coisas pra dizer. A maioria é específica demais e colocá-las aqui denunciaria sua identidade, não para qualquer inexistente leitor deste blog público-privado, mas para mim mesma, daqui há alguns meses, quando vier ler os textos já antigos. Além disso, a maioria das coisas eu te disse pessoalmente, deitada na sua cama, fazendo carinho no seu rosto, não muito antes de você cair no sono. Como o dia e que vi você fazendo aquilo em cima daquele lugar e pensei "Puta que pariu" pela primeira vez. E como aconteceu em todas as outras vezes depois disso, especialmente na última. Você estava acompanhado e eu estava de mau humor, ocupada em ser rejeitada por outro homem, mas isso não significa que meus olhos não brilharam um pouco mais quando te olhava. Talvez, colocado assim, pareça uma paixonite. E talvez a pior parte seja a falta de segundas intenções em todos esses olhares. Eu só consigo admirar você. E em todas as pequenas oportunidades que tive de falar contigo, eu falei. E ri das suas histórias. E prestei muita atenção em todos os nomes e datas que você sabe de cabeça; e as referências de filmes completamente desconhecidos; e seus contos de adolescente (talvez os meus favoritos).
Mas o que eu realmente queria te dizer é: obrigada. Por não querer nada de mim, e ao mesmo tempo não me descartar, como sempre acontece. Por me fazer sentir bem, e até acreditar que você gosta da minha companhia. Um pouco. Obrigada por ter sido carinhoso, por ter sido engraçado, por ter me feito rir sem tentar. Obrigada por dividir comigo uma cerveja, um cigarro, e alguns momentos de intimidade que, sinceramente, eu não esperava ter tão cedo. Tenho certeza que pra você não significa todo o turbilhão que significou pra mim. Mas, como eu te contei (nenhum orgulho nisso), estive com todo tipo de imbecil nos últimos tempos. Dadas essas circunstâncias, qualquer demonstração de afeto me acanha.

Sabe, a maioria das pessoa te acha estranho. É óbvio que você sabe disso, mas me faz pensar em como algumas pessoas são completamente imprevisíveis. Você se dá esse título, e eu rio, mas talvez esteja começando a te entender. Talvez esse seu jeito meigo escondido debaixo do boné e dessa cabeleira cacheada seja exatamente isso: um segredo. Um segredo bem guardado, que a maioria das pessoas não merece descobrir, porque são podres e más. E você não é. Você é, estranhamente, uma pessoa muito pura. Boa. Seus sentimentos são abertos e suas intenções são cristalinas. Você não engana, não faz jogos, não trapaceia pra conseguir o prêmio. Quando quer, você simplesmente diz, e talvez por isso, consiga. Uau. Nem eu tinha pensado nisso, analisado você assim. Meus dedos foram mais rápidos.

Essa enxurrada de pequenas confissões começou porque eu queria te dizer quão incrível você foi comigo. E, como já deixei clara toda a parte onde você me fez sentir bem, quero muito te contar sobre a outra parte. Aquela que eu me sinto muito contida pra te falar, mas curiosamente, não pra fazer. Queria poder te dizer como você me fez sentir quando passou as mãos pelo meu corpo e me fez suspirar com calma, com tesão, sem medo. Que sentir a sua boca em mim é uma sensação única, porque tem algo na forma como você me deseja que eu sinto na sua respiração. E que passar os dedos pelo seu cabelo enquanto seu rosto está tão longe do meu é um pedido de socorro que eu não quero que você atenda. Como foi bom sentir você, e como eu queria que você tivesse usado mais força. Mas como eu te disse, não dava pra ter tudo, não é? Fiz você rir com essa. Queria te dizer como é bom beijar você e sentir o seu gosto, e que ver você dizendo "não" me deixou esperando pela próxima... que talvez não aconteça. Mas não importa, porque foi bom.

[Tem muito mais coisa, coisas que não se escreve por aí. Coisas que eu queria sussurrar pra você, deitada na sua cama às 3 da manhã. Coisas que eu te pedi, e não pensei, e entendi. Coisas que eu queria muito, mas sabia que eram para um outro momento. Há mais coisas, que talvez nunca aconteçam, porque talvez eu tenha deixado passar a oportunidade, e vou carregar essa pequena culpa por um tempo. Eu deveria ter te mandado aquela mensagem, te chamando pra tomar mais um cerveja. Deveria ter dito pra gente se encontrar antes de eu ir embora. Poucas coisas, coisas tão simples, tão fáceis, e eu não fiz. E agora, só posso ficar chateada. Mas tudo bem, porque foi minha culpa, não sua. Você nunca me chatearia. Certo?]*

Não foi planejado, mas aconteceu. Do jeito que não poderia, com certa ansiedade, depois de me fazer contorcer na sua cama, implorando por alguma coisa que nem eu saberia dizer o que era. Só de pensar agora já é suficiente pra causar algumas reações, as lembranças mais vívidas do que deveriam, o corpo perguntando quando será a próxima vez. A memória é realista e me pego sentindo um pouco de saudade desses momentos, difíceis de descrever sem ser absolutamente vulgar ou escapar para um romantismo incabível. Não era romântico. Era carinho, era respeito; era tesão? Absolutamente. Foi o tipo de momento que não se vive duas vezes, mesmo quando procuramos incansavelmente, mesmo quando nos abrimos para experiências, buscando abrigo em desconhecidos; o tipo de momento que marca. 


Não tenho final para esse relato. Coisas distintas em tempos diferentes, dias e dias passados, pensamentos que foram e voltaram e ficaram, e eu até agora nem sei dizer o que foi que aconteceu. O que vai acontecer. Mas quero deixar aqui minhas sinceras desculpas por ter essa mania de dar significado mesmo às menores coisas. Isso torna tudo mais difícil. Sei que de alguma forma você entende. Desabafar sobre as formas como algo me faz ou fez sentir ainda é um escape certo para momentos em que eu não tenho mais para onde correr. Desculpe se o escape foi você. Mas obrigada, também. 

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