sábado, 2 de junho de 2012

Prólogo

Eu caí no desespero.

Finalmente entendi a sensação de afundar no abismo da loucura; foi um segundo. Um segundo longo demais, admito, mas foi apenas um segundo. A morte me pareceu mais fácil que a vida, eu resolveria meu problema e daria cabo de tudo. Puf.

No segundo seguinte, me peguei no flagra. Minhas mãos trêmulas, a boca entreaberta e os olhos se fechando. Uma gota de sanidade sobrevivera à inundação da loucura, e eu estava de volta. Boom.



Nadei em direção à praia, respirando água; oxigênio e nitrogênio não me davam o que eu precisava, e eu procurei por mais. Mais. Mais. Quase lá, e meus pulmões pararam, mas eu não deixei que parassem de fato. Eu ainda tinha um caminho a percorrer. Mais rápido. Mais. Mais. Havia um longo caminho, e minha força se foi. Os braços pararam, o pulmão travou e os lábios se fecharam. Os olhos, estáticos, imóveis, miravam a praia como se fosse Deus estendendo a mão pra mim. Deus? Isso, continue. Confie naquela força cósmica celeste divina que sempre lhe foi boa, ou assim lhe disseram. Nade. Há uma mão guiando o seu caminho. Meus pulmões voltaram e, se eu não estivesse à ponto de me afogar no mar que eram as sensações naquele momento - agora -, eu teria sorrido. Mas não havia tempo nem energia para sorrir. Esticar os lábios sobre os dentes... que diferença faria? Se fizesse alguma, eu estaria de fato viva, e não meio-viva, lutando pelo resto de respeito e fé que me foi dado. Sorrir. Ha, ha, ha. Faz-me rir, vida. Você me ensinara há pouco que não demonstrar e demonstrar não possuíam qualquer diferença, na situação em que eu estava. Na realidade, quanto menos eu dissesse, sorrisse e chorasse, melhor.

Faz algum sentido? Morte e vida, numa relação tão descomplicada que me parece quase boba.
Algo do que eu disse... Nada, na verdade. Uma história sobre nadar até a praia e acreditar em algo para se salvar.

Não há fim para o primeiro ato, porque estou no prólogo.




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