sábado, 10 de março de 2012

Tão pouco europeu

Era tão francês; até o modo como mexia o seu café. Nos seus dentes francamente brancos, o reflexo de alguns dias ruins. Porque, sabe, as coisas ruins marcam a gente. O mais engraçado é que nem sempre fora tão francês, tão clichê, tão listado. Era bem americano, com seus McDonalds e sua mania de CDs e gordura saturada. Mas nem agora, francês, gostava de chuva; preferiria inteiramente um dia no shopping à um dia num café. Tão pouco europeu.

Só que nas marcas dos dedos, eu via que era mais másculo do que o francês permitia, mais delicado que o alemão aceitava, menos gordo do que o americano seria, tão bonito quanto qualquer grego nascia. Nos olhares escuros lançados, que não reluziam à luz forte do meio-dia, haviam sorriso tortos, de canto de boca, chorando. Mascava chiclete e carregava um livro. Conquistou.

Passava o dia à tinta e papel, porque era escritor por fora, e carregava sua Polaroid antiga, comprada à preço caro, porque era fotógrafo imediatista por dentro. Não queria para amanhã, queria para ontem, porque nem o hoje era rápido suficiente. Para um fotógrafo nato, aguentava pouco a tensão da darkroom. Imediatismo? Não era francês. (Tão pouco europeu.)

Só que conquistava mulherzinhas de pouca índole; aquelas que procuravam um romance nada original que seria contado em rodas de vinho barato, às nove da noite, em alguma reunião semanal de amigas antigas. Além de mainstream, pouco europeu. Mas ele?, ele não ligava, porque para cada romancezinho, criava uma personagenzinha, que conquistaria milhares de leitorezinhos e lhe traria um dinheiro nada 'zinho'.
Ligava demais para a casa em que vivia e a comida que comia.

Tão pouco europeu.

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