quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
Sol
Gasto quase 15 minutos fazendo nada no computador, quando finalmente a luz que atravessa a janela fica forte o suficiente para chamar minha atenção. Dessa vez é ele. Tenho certeza. Desesperada por um pouco de emoção antes que acabe caindo no sono, ponho a câmera no pescoço, abro os vidros e pulo a janela. Caminho no concreto gelado (frio! frio! frio!) e vou até metade do quintal. O sol está ali, uma cabeleira loura na vala entre duas montanhas. A vista é inacreditável. Quantas pessoas não passam a vida toda sem ver algo assim?, me pergunto. Milhares. Milhões. Tiro uma foto. Não há sol suficiente, ainda.
Finalmente o sol aparece. Uma aura dourada, brilhante e quente envolve o círculo de fogo. Fogo. É isso que o sol é, certo? Fogo.
Decido que, depois de correr atrás do nascer do sol, é melhor me levantar. São apenas sete e pouco da manhã, e eu devia estar dormindo, mas não há sono. Há apenas um pouco de sede, alguma fome e muita paz.
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
Charlie (Um, Dois, Três Contos Sem Fim)
Era noite de terça-feira, e lá ia eu. Dia de jogo, eu precisava assistir o meu amado Browns vencer. Com essa vitória, era líder do campeonato com 5 pontos de distância do Dark Bulls, segundo colocado. Eu precisava da vitória para ganhar a aposta com Sony, ou eu estaria devendo oficialmente três caixas de Guiness para um velho grisalho.
Entrei no Poney Town – pois é, o nome é definitivamente estúpido –, e dei de cara com um bando de quarentões gorduchos com os olhos esbugalhados, colados na tela da plasma 42’ pendurada bem em cima da placa que dizia Não assiste se não beber!. Judy, a barman, estava ocupada com um monte de louça da hora do almoço que alguém (provavelmente Lewis, seu marido) não lavara. Me lançou um alô com um aceno e um sorriso desesperado. Sentei então em um dos bancos altos de couro, e apoiei os braços na bancada de madeira velha. Ao meu lado, em uma fila perfeita em ordem decrescente, quatro gorduchos não desgrudavam os olhos da tela da TV. Eu os conhecia: Philip, John, Kurt e Alguma-Coisa Paul. Eram loucos por futebol quase tanto quanto eu, mas gostavam mesmo era de F1. Estava passando a final do GP da Irlanda e, como provavelmente eram pobres demais para conseguirem voar para Dublin para assistir a corrida, estavam ali, no Poney Town, cada um com sua respectiva Guiness, os quatro quase chorando. Não faço idéia de quem ganhou, mas com certeza não era o cara pra quem eles estavam torcendo.
– Alemães filhos-da-puta! – gritou Kurt, exasperado. Era o que estava mais longe de mim, logo na outra ponta. Era baixinho, baixinho mesmo, e definitivamente engraçado. O rostinho redondo ficou vermelho quando ele gritou, as perninhas esticadas como palitos de dente fincadas numa batata gorda. Dei uma gargalhada silenciosa.
Nenhum dos companheiros do Palitos na Batata deram qualquer opinião, mas fiquei com pena de todos eles; pareciam arrasados, como se eles mesmos tivessem perdido a corrida, cada um em seu carrinho à jato.
Me sentei ao lado de Philip, o único dos quatro que eu realmente conhecia, porque era amigo de Sony.
– Ei, Phil – cumprimentei. – Sinto muito pela corrida. Vamos ganhar a próxima?
– Nai – respondeu, desanimado. – Somos péssimos.
– Veio ver o jogo, Charlie? – perguntou John, quando eu não respondi Philip.
– Vim assistir a vitória do Browns – respondi, sorrindo. – Os Bulls estão péssimos, então se ganharmos do Tirany hoje, garantimos o campeonato. Vai ser demais.
– Charlie, querida, eu não queria te dizer isso, mas os Browns não vão ganhar! Claro que não vão! – gritou Sony, entrando no Poney Town. Nada melhor do que a companhia do seu pai, que torce para o time adversário, dentro de um bar que ele mesmo lhe ensinou a freqüentar.
– Sony – eu já não o chamava de pai há algum tempo –, eu sinto muito mesmo, mas acho que agora sim, você pirou. Os Bulls estão terríveis, não existe a menor chance de perdermos hoje e, mesmo que os Browns percam (o que é impossível),vocês precisam de cinco pontos para terem chance de vencer.
– Apenas cinco pontos. Com a sua derrota hoje e a nossa vitória amanhã, a distância será de dois pontos. Vai ser fácil.
Nem preciso dizer que o Browns perdeu, o Bulls ganhou no dia seguinte e acabou vencendo o campeonato.
Mas eu devo as caixas de Guiness à Sony até hoje. Não pretendo pagar.
Dose de conhaque
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
Jogo
e só eu te vejo nesse filme mudo.
De lá pra cá, de cá pra lá
por todo e qualquer ângulo.
Rapaz, eu já decorei o teu sotaque fanho
e eu já não te acho mais tão estranho.
Suas jaquetas de couro eu já contei
e a sua resposta-base pra tudo é "Eu sei".
Acredite se quiser, eu te conheço,
meu caro rapaz, eu sei que não pareço
esperta, mas eu sou.
E embora eu tenha ido, você se esquivou
e me seguiu.
E foi atrás de mim, servil.
Me espera entregar o jogo,
não tenta tirar de mim
a única coisa que eu só perco se disser "sim".
terça-feira, 6 de dezembro de 2011
Lugar-perfeito 3D
segunda-feira, 28 de novembro de 2011
Worth it
sábado, 26 de novembro de 2011
Esquecimento
quinta-feira, 17 de novembro de 2011
Desabafo
domingo, 13 de novembro de 2011
Espera
Venha e diga que você queria estar aqui comigo.
Eu posso te esperar, mas não para sempre
nem por muito tempo, nem por pouco tempo.
Eu posso esperar até as rosas se fecharem,
talvez até o pôr-do-sol aquarelar a cidade.
Posso esperar até os passos cessarem
e a passarela ficar quieta.
Posso te esperar, mas é com medo, com receio,
com preguiça. Uma grande preguiça.
Se você não vier, bom, saberei que foi em vão
que me sentei no chão duro e frio e esperei.
Esperei indefinidamente
eternamente
erroneamente
inteiramente.
Mas quero que você venha.
Acredito que você vai vir, afinal, não foi em vão.
Nada é em vão quando se trata do que você diz
com o coração para aquele que você ama.
Ama? Vá lá, gosta. Atrai, seduz, cultiva.
E enquanto penso, eu te espero. Espero, espero.
Espero até a Lua me tingir de branco,
até não ser necessário poste, porque as estrelas
iluminam cada ruela dessa cidade aquarelada.
Vindo de você, não vou me surpreender com nada.
Com a sua chegada, vou me alegrar, e com a sua ausência
vou alimentar uma esperança sem base, fundação,
uma esperança que vem da minha essência.
Mas se lembre do mais importante de tudo,
lembre-se de que eu esperei porque me importo.
Lembre do que você me disse, dos olhares, dos abraços.
Não precisa ter vergonha do que vão pensar.
Venha e diga que você queria estar aqui comigo.
Eu vou te esperar.
Aquela noite
travessa atravessa a janela.
Observe a leveza dela
e o bom-dia que ela traz.
Pelas cortinas cor-de-dia
ela passa e ilumina
o escuro que salva a lembrança
daquela menina.
Engana-se quem pensa que ela não pensa,
que não tem consciência.
A vida é apenas uma simples
sequência de fatos que importam.
A vontade de repetir a dose
- fora de controle -,
ela engasga ao lembrar daquela noite.
Sorriu, conformada,
afinal, para sempre será lembrada
aquela determinada noite
onde o seu sorriso valia
mais que qualquer coisa.
sexta-feira, 11 de novembro de 2011
No escuro
domingo, 30 de outubro de 2011
Carente?!
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
Superando
domingo, 16 de outubro de 2011
Admita
Batimento
"O que foi?", ele sussurra, atrapalhando meus pensamentos.
"Nada". Ah, tão clichê.
"Você tá pensando em quê?", ele pergunta, as mãos descansando na minha cintura.
"É sério, nada", insisto. Como se ele não me conhecesse.
Então ele começa com aquela mágica de me relaxar, massageando minhas costas. Encosto a cabeça em seu ombro e suspiro.
"Conta pra mim o que foi".
"Eu..."
Não tenho coragem de continuar. Ele ainda massageia minhas costas quando corro para os seus lábios numa tentativa surda de cortar o assunto. Agora sim meu coração está acelerado. Mas ele jamais saberá o porquê; nem eu sei.
sábado, 15 de outubro de 2011
Uma doença
quinta-feira, 13 de outubro de 2011
Boa-noite
Bom-dia
Tem uma música tocando em uma das dez mil abas abertas no meu Chrome, e ainda assim o barulho das gotas batendo na janela atrás de mim é o som mais nítido e límpido do quarto. Olho para trás para averiguar; parece que está chovendo dentro da minha cabeça, a água batendo nas minhas têmporas. Só vejo pontos brilhantes no vidro. Conto até três bem devagar. O barulho da chuva despertou alguma coisa dentro de mim. Uma dorzinha que estava dormindo, o sono leve como um algodão. Calma, calma, não se preocupe, já vai passar. A mentira mais mal contada do dia. Nada vai ficar bem. Não agora. Vai demorar. Olho para o celular jogado do outro lado da cama. Faça algum barulho, peço em silêncio. Traga uma mensagem, brilhe, grite, converse comigo, não me deixe sozinha. Tem apenas uma mensagem que eu quero receber. Ela já chegou, mas foi ontem à noite. Eu quero outra. Quero uma resposta bem-humorada, quero um sinal de saudade. Nada. E não vai chegar. Eu já sei, já aceitei. Estico o corpo, como se com esse movimento em conseguisse expulsar esse espírito de porco dentro de mim. Chuto o violão de leve. Esse sim é meu melhor amigo, jamais me abandonou nas horas de tristeza; vem em meu socorro sem pensar duas vezes, até me ajuda quando eu não sei o que fazer. Toco suas cordas com as pontas dos dedos, e um som leve e sem ritmo ecoa pelo quarto claro. Já é de manhã? Nem tinha percebido. Paro para prestar atenção, e ouço os gritos de criança pela casa. Tudo em pleno movimento. Olho através do vidro da janela: a chuva parou. Quando? Faz tempo? Deus, como ando desligada. As montanhas são verdes de novo, a neblina começa a se dissipar. Não é só de manhã, é quase tarde. Mais barulhos; um aspirador de pó brigando com grãos de sujeira perto da porta. Logo, logo alguém vem me chamar. Fecho os olhos com força e sinto os restos do rímel nos meus cílios. Preciso levantar e me preparar para o longo dia. Não tão longo, talvez. Olho para o skate no canto do quarto; hoje não, amigo. O dia está feio demais, você só combina com dias de sol. Uma música ainda toca em algum lugar no computador. Estico o corpo mais uma vez, dessa vez só para acordar; tenho o cuidado de desviar do violão. Certo, então, que comece o dia. Bom-dia.
And I'm back, ladies and gentlemen
Agora eu voltei, e voltei pra ficar. Comecei com essa folia de blog prometendo NUNCA fazer o que acabei de fazer, então, arrependida, peço que me aceite de volta, BdA.
Vou voltar com meus textos, comentários, fotos, e o que mais me der na telha. Com músicas, semi-composições, ou só um pensamento e outro. Meus poemas, esses vão voltar com certeza.
quarta-feira, 18 de maio de 2011
Uma noite
sexta-feira, 25 de março de 2011
Eterno
Foi eterno. Mais que eterno. Éramos nós, juntos pela primeira e única vez.
quarta-feira, 9 de março de 2011
É tendência?
Blazer estilo masculino, D&G
Algumas pessoas leram o meu post sobre o verão 2011, onde falei sobre como o vintage estava vindo com força total e citei alguns itens que, verdade seja dita, vieram com tudo, como a estampa floral, saia de babados, colares mais delicados, etc.
Mas agora quem vem aí é o inverno! E pelo jeito, as tendências são um pouco variadas. Tem gente que está falando em casacões peludos e blazers, tipo a Gucci, e gente falando de Oxfords femininos, tipo a Werner Calçados (marca nacional). ' Oxford feminino, Werner Calçados
Pensando melhor, não é tão variado assim. O inverno vem com uma pegada masculina, mas não é por isso que deixa de ser uma escolha. A mulherada ainda está se adaptando ao sapato mais masculino, à calça boyfriend, a qual eu particularmente não sou adepta, mas enfim. A moda está voltada para o vintage, e agora está adicionando elementos masculinos. O que será que vai sair dessa mistura? Eu acho que vai dar certo, e você?
Mas mudando de roupa para acessório... Todo mundo já está ligado de que a nova moda vem nos colares de pingentes e nos anéis, não é? Tem para todos os gostos e estilos. Desde coisas mais delicadas, como chaves, coroas e corações, até as mais punk-rocks, tipo caveiras e ossos. Minha próxima aquisição vai ser um anel de coroa, estou doida por um! Mas como eu disse, tem pra todos os estilos.
Anel Coração e Coroa, Toda Doce
Mas depois eu falo com calma dos acessórios, e das roupas também. Esse post aqui é só pra vocês terem uma noção do que eu, particularmente, estou apostando nesse inverno. E quais são as roupas e acessórios que vocês acham que vão vir com força nesse inverno?
O Retorno
Vou tentar postar diariamente; vai que ainda sobrou algum leitor fiel, doido por um pouco de agitação no nada caótico mundo dos blogs.
Portanto estou voltando. Com resenhas, com moda, com fotos!
Vamos ver quanto tempo vai durar essa minha animação =)
Fiquem por aí.
quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
Para haver um, precisa-se do outro
acompanhe-me e entenda também.
Para haver dor, precisa-se da paz,
para haver certeza, precisa-se do "tanto faz".
Nenhuma verdade é verdadeira se não houver mentira,
e as estrelas não brilham sob a luz do dia.
Então para haver o brilho das estrelas,
precisa-se da escuridão.
Para sentir a companhia,
precisa-se conhecer a solidão.
Para se sentir rico, não precisa do ouro,
precisa é conhecer a pobreza do povo.
Para ter o feio, precisa-se do bonito,
e para haver cheio, tem que haver vazio.
Para ver um magro, tem que conhecer um gordo.
Para se sentir cansado, tem que conhecer o conforto.
Para sentir fome, você tem que conhecer boa comida,
e para sentir frio, tem que conhecer
a sensação de se estar aquecida.
Para sentir um bom perfume, tem que conhecer o fedor,
para haver silêncio, tem que ter o rufar de um tambor.
Para haver doçura, tem que haver aspereza,
e se há grosseria, há de haver delicadeza.
E para haver entendimento, tem que haver ignorância,
para se poder crescer, precisa-se ter tido uma infância.
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
Reviravolta
Não importa. Estou tendo ataques, não tenho ninguém com quem falar sobre isso, estou aguardando silenciosa e amargamente pela época em que isso vai passar e acima de tudo, eu estou perdida no meu próprio silêncio.
sábado, 1 de janeiro de 2011
Chance
Você seguiu na direção contrária a minha. Como num filme, a multidão vinha contra mim, uma onda de massa corpórea empurrando-me de volta ao lugar do qual é queria desesperadamente fugir. Mas então, e eu finalmente percebi, era pra onde eu devia ir, não? A multidão. Seguir o fluxo... seguir você. Te encontrar. Falar com você. Te dizer o que pesava meu corpo e trancava minha garganta. Palavras simples; palavras desnecessárias. O ato sim seria importante. Eu me virei e, decidida como sempre, corajosa como nunca, comecei a andar. Meus passos pareciam curtos demais, as pernas pesadas demais, e eu não conseguia te encontrar. Mas você estava lá, andando no seu ritmo mais elaborado, observador da vida ao seu redor. Com a latinha numa mão e a outra no bolso, notei o quão pequeno você é. Engraçado, eu também nunca havia notado isso.
Eu caminhei. Minhas pernas de repente ficaram leves como penas, meus passos rápidos como o vento, e a minha coragem diminuiu. Eu não vou me humilhar de novo, pensei. Mas vale a pena. Estendi o braço e meus dedos roçaram seu ombro. Não sei se você apenas não sentiu, ou se ignorou, mas eu tive que dar mais um passo e puxar seu ombro. Com um movimento leve, virei você para mim. Mas se eu olhasse seu rosto, aquele olhar matador, eu perderia a coragem, e sairia dali apenas, correndo. Então eu puxei seu rosto, dei mais um passo, e nossos corpos se colaram. Seus olhos pararam de procurar os meus e nossos lábios se tocaram. Mas quase no mesmo instante, eles se separaram. Você virou seu rosto, e sua boca agora procurava meu ouvido; você murmurou alguma coisa. Poucas palavras, que eu nunca vou esquecer. Bá, não me entenda mal, eu quero mesmo ficar com você, mas eu tenho medo. Medo?, perguntei. É, medo. Medo de perder você, de perder a amizade que a gente tem. Primeiro, eu pensei: ele quer me dar um fora de uma forma gentil, cool. Depois, pensei: o filho-da-puta está me dispensando. E então caí em mim: ele estava falando sério. Eu não conseguia me lembrar de quantas vezes você dissera que me amava, e que eu não fazia idéia do que eu significava para você. Por um milésimo de segundo, imaginei se você estaria falando sério, todas aquelas vezes, mas nem precisei pensar demais. Eu já sabia. Você estava.
A minha noite acabou ali, quando você me deixou no meio da multidão. Ou melhor, quando eu te deixei. A última coisa que você me disse antes de eu me virar foi: me dá um tempo pra pensar. Porque a última coisa que eu te disse antes de você me dizer isso foi: você tem que confiar em mim. Nada vai mudar. E eu acreditava nisso. Eu sabia que nada mudaria. Mas você não confiou. Pediu o tempo, segurando meu braço, sabendo que se me soltasse, eu iria embora. Eu só disse - e nem sei se queria que você ouvisse -: Deixe quieto. Esqueça. E você devia ter esquecido. E provavelmente esqueceu. Mas eu não. Fiquei tão chocada por você ter resistido à mim que decidi esquecer você. Para sempre. Nunca mais pensar em você, era isso. Obviamente, eu sabia que não conseguiria. Só tentar te esquecer já doía. Fisicamente. Então eu me recolhi ao banheiro, deixei escorrerem duas lágrimas, sequei-as, sentei-me direito e esperei. O quê? Eu não sei. Mas eu esperei alguma coisa por sabe-se lá quantos minutos. Então chegaram no banheiro duas ou três das minhas amigas, minhas acompanhantes daquela noite. Eu me levantei, e fui com elas.
Não me lembro direito do que houve depois, mas me lembro de uma coisa:me lembro de ter estragado de vez a minha noite. Eu estava com as meninas, perto da saída. No meio do salão, a pista de dança. Você estava ali, paradinho, a lata provavelmente vazia em sua mão, e adivinha onde a outra [mão] estava? No bolso, onde mais?!... Ao seu lado, porém, estava uma pequena beldade: cabelos longos escuros, uma pele morena, vestido curto justo, toda linda. Você se inclinava para ela, e a cada palavra que eu te via dizer a ela, o meu coração dobrava as batidas. Eu queria ir até lá, gritar que você me pertencia, mas adivinha só? Você não me pertencia. Eu não tinha direito algum sobre você. Fixei meu olhar em sua nuca e jurei nunca mais falar sobre o que houvera, sobre o beijo roubado, sobre nós. Jurei que para sempre seria apenas eu e você. Separadamente. Mas foi uma promessa em vão, pensamentos que ficariam apenas em pensamentos, mesmo. Eu te queria demais naquela noite para simplesmente te esquecer.
A pequena beldade se foi, e demorou a voltar. Eu tinha, novamente, apenas uma chance. Uma única e solitária chance, e eu iria usá-la. Eu estava em tal situação mental que não estava apta a decidir o que era o correto, o que dizer e principalmente, como agir. Então eu só segui meus instintos mais naturais e primitivos, deixando que o destino brincasse de Deus. Caminhei decididamente até você, mas juro por tudo que há de mais sagrado, eu vacilei. Eu hesitei. Mas continuei, porque eu não medi as consequências naquela noite. Cheguei ao seu lado, e meu braço, que pendia ao meu lado, podia muito bem ter sido colocado ao redor do seu pescoço, como eu sempre faço quando te vejo, mas não. Eu não quis seguir o protocolo, e fingir que nada tinha acontecido. O meu braço ficou ali, ao meu lado. Então eu me inclinei sobre, tentando ao máximo não tocá-lo, e falei no seu ouvido: "Era só você ter dito que havia outra menina." Pronto. Eu tinha feito. Estava pronta para girar na ponta dos pés e sair dali antes que me desse conta do meu erro, mas você gritou de volta: "O quê?" Ah. Aaaaah. Eu ia ter que repetir? Pois bem, agora já está feito, pensei, satisfeita. "Era só você ter falado que tinha outra garota." Engraçado como eu me lembro exatamente do que eu disse. E-xa-ta-men-te. Quando terminei de falar, ele se virou para mim e eu jurei que ele ia, sei lá, fazer alguma coisa. Mas ele não fez. Ele me mandou um olhar matador de cachorro-sem-dono e disse: "Bárbara, não tem nada a ver." Ah, claro. Era claro. Eu sacudi a cabeça, e saí de perto. Fui para junto dos meus amigos descomplicados e fáceis, fugi do que eu queria. Eu não me arrependo, sabe, mas eu... Não sei. Sinceramente, eu não sei.
Tudo que eu sei, foi que a minha noite acabou por ali. E as lágrimas vinham, mas eu não as deixava escapar.