Todos os dias
logo pela manhã
me pergunto incisivamente
por quais motivos
ainda não pulei
da janela do meu apartamento.
Geralmente concluo
mais ou menos nove
- bons - motivos.
Primeiro:
minha mãe ficaria triste,
e eu não vim pra este mundo
para fazer minha mãe se sentir assim.
Segundo:
meus irmãos sentiriam minha falta.
Terceiro:
meus cachorros sentiriam minha falta.
Quarto:
meus amigos ficariam tristes,
e eu não vim pra este mundo
para fazer meus amigos se sentirem assim.
Quinto:
meus avós ficariam muito tristes,
e eles estão velhinhos demais para
ficarem muito tristes,
especialmente por minha causa.
Sexto:
ainda não me resolvi com meu pai,
e isso o assombraria para sempre.
Sétimo:
eu ainda não fiz um projeto do qual
sinta um grande orgulho.
Oitavo:
muita gente precisa de mim,
e apesar de ser o motivo
de todo meu estresse,
eu jamais abandonaria
meu trabalho pela metade.
Nove:
...
Como eu disse,
mais ou menos
nove bons motivos
todos os dias.
Em algumas manhãs incluo
meus próprios desgostos
e frustrações,
como, por exemplo,
nunca ter deixado
marca alguma no mundo.
Às vezes decido
tirar meu pai dessa lista;
mas esses são dias
em que acordo chateada.
A culpa é mais minha
do que dele.
Num geral
tento me lembrar
de quem me ama
e quem eu amo,
e me lembro
que não quero magoá-los,
não quero abandoná-los,
e que por pior
que seja o sentimento
de existir,
na maioria das vezes
encontro boas razões
para me levantar,
olhar pela janela
e não me jogar dela.
Alguns dias
são mais difíceis que outros,
nem sempre eu consigo,
e aprendi
que tudo bem.
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