Daí esse lugar-perfeito foi se transformando. Conforme acabava-se a tinta das minhas minhas canetas e eu comprava novas; porém, a tinta nova era mais gasta e sem-graça, não tão viva, nem tão linda. Parava de parecer um sonho, e passava a parecer-se mais e mais com a minha realidade. A minha fuga virou-se contra mim, transformando-se, insolente, na minha vida. Não procuro pela verdade, garanti-lhe. Procuro por algo diferente do que vejo sempre. Ao contrário do que pensei que fariam (eles, não sei bem quem, mas eles) não me justificaram uma única vírgula. Continuaram a produzir canetinhas não tão lindas nem tão coloridas, as quais me chateavam cada dia mais. O que era meu mundo mágico em 3D tornou-se uma chata realidade em 2D. Essa foi minha sorte; estava apenas no papel. Conforme perdeu a cor, minha verdade imaginária perdeu também a chave da minha cabeça, e aquilo que eu tentava fazer parecer-se com meus sonhos passou a prender-se ao papel apenas. Longe de mim. Cada dia mais longe de mim.
E eu escondendo de mim mesma a tristeza cada dia mais forte pela falta de uma fuga. Sabe, é importante ter um lugar para o qual fugir. Importante demais. Não se pode viver apenas na realidade, porque a realidade é perigosamente maçante. Não importa o quão agitada é a sua vida, sempre será maçante o suficiente para matar-lhe os sonhos. E não discuta. Sabe que é verdade.
Não podemos, simplesmente não podemos sonhar e transformar estes sonhos em realidade o suficiente. Não podemos. Jamais poderemos. A canetinha colorida vai acabar, e acabará por transformando-se em apenas um modo de passar seu desespero em 2D para o papel. Você aliviará sua garganta sufocada, só isso. Continuará sem seu lugar-perfeito, mas terá uma chata realidade transcrita no papel.
(Sem revisão.)
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