sábado, 9 de novembro de 2019

Trechos


Perdi a conta
de quantas vezes

quis te escrever
só na última hora.
[09.11.19, 21h06]
Trecho I: Queria que nos comunicássemos por cartas, pra que eu te enviasse todas, e só daqui dez dias você soubesse o quanto senti sua falta. Falando sobre tempo  —  o imediato, que nos atormenta hoje  — , concluí que, em muitos momentos, tudo que quero é o depois. Queria eu que meus sentimentos fossem cartas, e só daqui dez dias eu os sentisse, entendesse (nem agora…) ou tivesse qualquer ciência de sua[s] existência[s].

Trecho II: […] Hoje me apaixonei pela minha futura casa, seu chão de madeira, suas paredes quinquagenárias, seus azulejos díspares, a banheira rasa. E deus sabe que eu queria compartilhar com você cada detalhe que me fez amar a mais singela possibilidade de que aquele seja meu futuro lar; talvez entendesse porque os armários velhos do banheiro fazem meu coração parar por um milésimo de segundo. Para ser completamente honesta, eu não sei dizer se você gosta de apartamentos quinquagenários com piso de taco, mas amaria descobrir. Engolir com você uma garrafa de vinho tinto seco e falar sem parar sobre como me fez feliz o fato de o apartamento ser o número 15. Me peguei questionando à mim mesma; se estaria mais feliz (ou menos melancólica) se estivesse falando com você. Quão curioso, não? O nível da minha dependência emocional. E sei que “emocional” não engloba tudo. A minha dependência das nossas piadas, da minha própria risada, de pensar na melhor forma de te fazer rir também.
Me sinto incompleta.
E odeio — O D E I O — esse sentimento.
Chamo de sentimento, não sensação, deliberadamente. Sei que você entenderia a diferença.

Trecho III: […] Sempre fui tão boa em reprimir sentimentos, não sei o que houve dessa vez. Na verdade, talvez eu saiba. Se me permitir honestidade, a razão de tudo foi esperança. O sentimento mais tóxico que já passou por esta carcaça cansada. Esperança já me arrancou cada lágrima pesada… esperança já me jogou do alto de escadas, já encarcerou celebrações; esperança tirou de mim tudo, absolutamente tudo que se pode barganhar.

Trecho IV: […] Quanto medo pode habitar uma única mulher? Uma única alma? Um único corpo cansado? Não sei mensurar. Há medo demais em quem eu sou. […] Meu único e maior medo é sentir. Morro de medo dos meus sentimentos, juro por deus. Isso, e a falta de consciência — e por isso, temo enlouquecer. Já vi a loucura de perto, e a temo demais. Por isso, talvez, sinta essa necessidade quase arrebatadora de manter o controle. Controle. A ilusão do controle é uma delícia, não?
[Mas] Estou sendo repetitiva. Desculpe, estou escrevendo há mais de uma hora e em muitos momentos me perdi no raciocínio, como sempre faço — e você bem sabe. A cerveja começa a fazer efeito. […]; vai manchar a tinta. […] O absurdo de escrever nesse tempo verbal apenas porque me imagino falando com você. É a saudade.
Desculpa.

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