Curitiba, 29 de setembro de 2016.
Faz cinco dias que eu me arrependi de ter feito a escolha errada. E desde então, só penso em como o que aconteceu só aconteceu porque, na verdade, eu não pensei em mim. No desespero, no medo do abandono, corri para o primeiro que me sorriu de canto e abriu os braços. Apavorada pela ameaça da solidão, como um parafuso velho, espanei. Não aguentei a pressão de ser apenas eu. Sem mais. Sem soma. Eu, sozinha, não deveria ser pouco. Eu, sozinha, deveria ser suficiente para mim mesma. Eu, sozinha, deveria ocupar todo o espaço dentro de mim e transbordar. Mas quem é que tem tanta plenitude de si? Nunca tive.
Faz cinco dias que eu me arrependi de ter feito a escolha errada. E desde então, só penso em como o que aconteceu só aconteceu porque, na verdade, eu não pensei em mim. No desespero, no medo do abandono, corri para o primeiro que me sorriu de canto e abriu os braços. Apavorada pela ameaça da solidão, como um parafuso velho, espanei. Não aguentei a pressão de ser apenas eu. Sem mais. Sem soma. Eu, sozinha, não deveria ser pouco. Eu, sozinha, deveria ser suficiente para mim mesma. Eu, sozinha, deveria ocupar todo o espaço dentro de mim e transbordar. Mas quem é que tem tanta plenitude de si? Nunca tive.
Foi bom. Foi horrível, o arrependimento me surrou como um chicote e a humilhação veio a galope, mas de que serviriam as tristezas da vida, se não para nos ensinar? Delicioso clichê, discurso de mãe e pai, e por isso mesmo, verdade. Quando percebi, o desespero de entender o que havia acontecido me levou aos mais profundos silêncios. Sem resposta, sem porquês. O que aconteceu? Bárbara, o que aconteceu?! Como você pode? E a cobrança que vem de dentro pode ser dolorosa, mas ela faz jus. Não vai embora sem receber o que veio para buscar.
Quatro dias depois, eu finalmente explodi.
Sozinha. Em silêncio. Numa madrugada tão aleatória quanto minhas escolhas, eu explodi. E a explosão sujou tudo por dentro; espirrou dúvidas escarlate pelas paredes empoeiradas do meu quartinho de consciência. Mas, depois daquela bagunça toda, eu me levantei e comecei a recolher os móveis derrubados. Passei um bom pano pelas paredes manchadas, troquei os lençóis, tirei o lixo, desinfetei os cantos imundos e fiz as pazes com a proprietária.
Confesso, eu ainda tenho medo de cruzar comigo mesma pelos corredores, mas não fujo mais. Não foi a cura milagrosa de um problema que se arrasta ao meu lado já há alguns anos, infelizmente, mas talvez eu finalmente esteja começando a entender que as coisas que acontecem lá fora são reflexo de como estão aqui dentro.
Seguimos. Dessa vez, vou me esforçar pra manter o quarto limpo. Tirar o lixo de vez em quando vai me ajudar a não precisar quebrar os móveis outra vez. Aprender a não juntar entulho também. Tem tanta coisa que a gente tem que mandar embora, mas prefere jogar num canto e deixar por lá, até juntar tanto lodo e sujeira, até infectar todo o resto. Até tornar o ar insalubre. Agora, não mais. Chega de lixo, chega de culpa.
O quarto vai ficar limpo.
Belo texto, nos reflete a varias interpretações! continue escrevendo ;)
ResponderExcluirAgradecida, Alexandre. Continue lendo :)
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