Lindo tudo isso que você me disse, no
final. Lindas palavras de autores desconhecidos que você escolheu pra usar no
seu Tumblr, me fazendo sentir quase culpada. Compartilhando aquelas fotos de
casal que você nunca quis tirar comigo. Caso você já tenha se esquecido, de uns
tempos pra cá, tirar foto comigo era sempre um incomodo, você se lembra? Fazia
cara feia, se escondia e reclamava. Eu tinha que pedir antes, avisar no começo
da noite que queria registrar o momento. Fui perdendo o tesão. De uns tempos
pra cá, começou a beber mais e falar mais alto. Não só comigo, mas com todo
mundo. De uns tempos pra cá, esqueceu que eu ainda não gostava do cigarro, e
não ligava mais de fumar bastante perto de mim... e eu nem vou falar da
maconha. Você me disse que agora largou de verdade; espero que sim, e que não
tivesse sido só pra me deixar "mais calma". Você começou a se
incomodar por eu não querer que você bebesse tanto, e quando me dizia que não
ia abusar, abusava. E eu ficava lá, tentando lembrar do por quê de ainda me
submeter a um estresse tão grande.
As coisas foram
ficando difíceis. Você não passou na faculdade, como me prometeu que ia. Você
me disse que estava se esforçando. Não culpe a escola, eu avisei você sobre
tudo aquilo. Eu estava lá, eu me dispus a te ajudar se quisesse, eu queria te
ajudar. Eu queria. Mas você achou que as coisas iam se resolver sozinhas, sei
lá porquê. Tomara que essa próxima tentativa dê certo e você consiga.
Mas é óbvio que
não foi só a faculdade. Imagina, isso foi o mínimo do mínimo, eu fiquei triste
com você e já havia refeito meus planos pra poder me adaptar à nova vida que
você ia ter. Eu fiz isso, eu te cobrei, eu me preocupei... até você cansar.
Cansar porque eu fui chata mesmo, estando tão em cima de você sobre tudo isso.
Desculpa se eu só queria que tudo desse certo e que você entendesse que a coisa
é mais complicada do que parece. Mas só precisou pedir uma vez pra quebrar
minhas pernas.
Como eu disse, não
é só a faculdade. Era aquela sensação ruim que eu tinha de que você estava
acomodado nessa vida quadrada que a gente leva nessa cidade. Ou pior, de que
você estava acomodado na vida que eu fui te dando. E eu gostava de te dar os
mimos que eu dava, fosse um presente ou fosse a entrada na balada, pagar a
conta, a cerveja, o show, a viagem... e sabe, não é o dinheiro. Meu, realmente
não é o dinheiro. É o "obrigado". Agradecer, de verdade, e saber o que
aquilo significa.
Acho que no fim,
era tudo sobre significados.
Você dizer
"não" para uma cerveja significava muito pra mim.
Você dizer
"não" para uma foto comigo significava muito pra mim.
Você ir quando eu
dizia que você podia ir, sem saber o quanto eu queria que você dissesse
"não" e ficasse... aquilo significava muito pra mim.
Eu ter que pedir
pra você fumar menos, beber menos, falar mais baixo, tudo isso significava
muito pra mim.
Isso tudo
significou o fim, você entende? Você ir sem mim pra qualquer lugar quando eu
não ia sem você pra lugar algum. Quando eu fazia tudo pra que você estivesse o
tempo todo comigo. Quando eu te arranjava ingresso, te arranjava onde ficar,
como ir e como vir, te arranjava o que estivesse ao meu alcance, e nunca te
cobrei nada. Eu nunca te cobrei nada. Talvez eu devesse
ter cobrado. Talvez eu devesse ter te dito que queria sim que você ficasse
comigo, em casa, até a Helena dormir, ao invés de ir na casa do Rodrigo. Talvez
eu devesse ter pedido pra você me pagar aquele jantar que prometeu na praia.
Talvez eu devesse ter feito tanta coisa... talvez não adiantasse nada. Talvez
eu só ficasse de chata, como você me chamava com muita frequência. E eu ali,
dando o meu melhor, pra você me dizer que eu era implicante. Não sei não,
pretinho... não foi o grand finale que me
destruiu. Foram os detalhes.
Fui eu, tentando
convencer todo mundo de que você era não só uma boa pessoa, mas uma boa pessoa
pra mim. Que me tratava bem sim, que me respeitava sim, que estava ali comigo
sim, que me amava sim, que mudou sim. Quantas vezes repetindo com orgulho que
você fumava menos cigarro e menos maconha por mim, que me ouvia quando eu dizia
pra maneirar na bebida. Quantas vezes prevendo ansiosa um futuro onde estudávamos
na mesma faculdade, você trabalhava e tudo seguia em perfeita harmonia. Um
futuro onde ninguém poderia fazer nada a não ser engolir cada palavra amarga
dita sobre você, onde eu estaria firme do seu lado, comemorando a vida.
Uma pena esse dia
ter demorado pra chegar.
Na verdade, ele
vai chegar. Só não vai ter eu. Mas você vai alcançar a faculdade, o emprego e a
vida bacana que você sempre quis ter lá. Vai se divertir muito, vai aproveitar,
vai estudar, vai conhecer alguém e pronto, passou. Eu vou passar. Eu passei.
Eu começo
reclamando de você e acabo te lambendo. Que diabo, não? É, eu ainda não aprendi
com os erros, mas vou aprender na marra. Colocar em prática todos os meus
discursos sobre não namorar alguém que não te faz bem, que não te dá valor, que
não te ama e que não faria por você o que você faz por ele. Não que você me
odeie e nunca tenha me amado, veja bem... a questão é mais sobre como eu me
sentia sobre tudo isso. Você me amava, claro que sim. Mas faltou um pouquinho,
falhou um pouco nos detalhes. Em coisas pequenas, tão pequenas, e que estavam
ao seu alcance.
Quer mesmo saber o
que houve? Nem eu sei. Não sei o que aconteceu nessa sexta-feira, quando tudo
acabou de vez. Eu estava com você, e de repente eu queria que você estivesse
longe, longe de mim, e que fosse embora. Me deixa passar mal sozinha, me deixa
deitada aqui, me deixa. Só me deixa. E daí de repente eu estava lá dentro,
nervosa, sem você, meus amigos bravos, meu irmão irado, e eu sem saber direito
o que tinha acontecido. Não sei mesmo. Não sei de quem foi a culpa, porque eu
te chamei de idiota também, mas você gritou comigo. Não me deixou em paz, como
eu pedi. Era sério, e você devia ter acreditado e me deixado sozinha. Você não
era meu namorado, de qualquer forma...
Eu choro lendo
minhas próprias palavras. Você ainda está aí pra mim, e eu pra você, mas dessa
vez, eu não vou me esquecer. Eu não vou deixar passar, eu não vou lembrar só
dos bons momentos. Não. Eu vou deixar claro que foi tudo sua culpa. Foi sim!,
foi sim, cacete. Eu te avisei, porra. Eu te avisei sobre tudo! Sobre mim, sobre
você, sobre a cerveja, sobre a faculdade, sobre a mudança, sobre o combinado da
viagem, sobre as brigas, sobre os problemas, sobre os limites, sobre as minhas
vontades, sobre o que eu esperava. Eu te dei todos os avisos, faltava eu
escrever na tua testa: "você está me perdendo". Talvez nem assim você
percebesse. Eu passei dois anos me culpando pelas coisas ruins que aconteciam.
Agora acabou. Agora eu não quero mais saber. A culpa foi sua. Se nós estamos
separados hoje, a culpa é sua. Se eu não consegui aguentar a porra da pressão
que eu recebia de todo mundo, a culpa é... minha? Seria tão mais fácil se eu
não precisasse sofrer pressão nenhuma. Se você andasse na linha, sem tombar de
vez em quando. Por quê? Você sabe me dizer? Você consegue entender? Você
compreende o tamanho da merda que você fez no fim de tudo? Que ainda me ferve o
sangue, me aperta o coração? Seu idiota. Meu idiota. Meu amor. Você nos
separou.
Você jogou tudo no
lixo quando pediu desculpas pra pessoa errada.
Quando não teve
coragem de encarar a cagada que você já tinha feito.
Quando essa porra
toda me atingiu, você tinha que ter consertado... e não consertou.
Você não se
consertou. Você só tava remendado. Eu tava te remendando.
Acabou. Eu não vou
viver com um trapo remendado. Eu quero você quando estiver consertado.
Se isso nunca
acontecer, então eu não te quero nunca mais.