Quando eu passar,
você não se lembrará
de como soa minha risada
ou de ter descrito
a cor dos meus olhos,
mas sei que há de lembrar
as lágrimas que derramei
e os suspiros
pesados como chumbo
que deixei escapar.
Quando eu passar,
você terá vislumbres
da brasa morna dos meus cabelos
em sonhos [ou pesadelos],
mas a minha voz
soará clara como água,
rugindo palavras de ordem
a torto e a direito,
dando à mim mesma
desequilibrada importância.
Quando eu passar
terei sido nada mais que
uma breve centelha,
e muitas vezes me assombra
essa constatação;
em outros momentos,
me resta apenas aceitar
que é isso que sou,
é o que tenho sido,
e é o que serei.
Suave lampejo,
um vislumbre inconsciente,
habitante das memórias distantes,
um sopro
passageiro.