numa noite bastante nublada.
Minha vida está aqui, diante de mim,
sendo muito bem cantada
pela voz que, no momento,
está sendo dublada
por mim.
Os fones de ouvido
gritam em minhas orelhas
palavras que zombam,
zunindo como abelhas
bem dentro do meu cérebro,
explodindo como fogos, em centelhas
de vida sem explicação.
Será que é assim tão tarde
pra eu te dizer que não dá?
Porque eu já nem tenho mais vontade
de te esperar. Sabe quem passou
por aqui hoje? A saudade.
E já se foi.
Já passou? É, passou.
O tempo passou assim.
Puf! Ainda estamos deitados
olhando o céu sem fim,
enquanto seus dedos e os meus
trançam uma promessa pra mim.
Como passou?
Não sinto falta do que você dizia
nem da voz que me acalmava.
É até engraçado, se eu parar pra pensar
em como eu deveria estar brava
por ter sido, assim,
descaradamente trocada.
Mas não estou. Nem perto.
Talvez seja o momento.
Talvez daqui uns dias, daqui um tempo
eu perceba finalmente
quão grande foi o desalento.
Mas pra esconder essas coisas, o choro,
a fraqueza, bem, eu tenho talento.
Só não me faça cantar aquela música.